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Das Olimpíadas à prostituição: como Suzy Hamilton fugiu à loucura

Os bastidores da alta competição expostos num livro que conta a história de vida da favorita ao ouro nos 1500 metros, em Sidney, que acabou por se tornar acompanhante de luxo

Esta não é apenas a história de uma mudança drástica de rumo na vida. Está longe de ser, apenas, o retrato de uma atleta olímpica que se tornou acompanhante de luxo depois de terminar a carreira. Esta é, acima de tudo, uma história de insatisfação contínua. Tanta que leva ao desespero e dali à depressão. A revista «Sports Illustrated» publicou alguns excertos do livro que contam, passo a passo, o caminho, dentro e fora da pista, que Suzy percorreu até aos dias de hoje. Em Atlanta voltou a sair sem glória, mas em Sidney tudo prometia ser diferente. Já tinha 32 anos, sabia que era a sua última oportunidade. Tinha sido vice-campeã norte-americana e, nos Mundiais de Oslo, ficara perto de bater o recorde do mundo dos 1500 metros e ficara com a melhor marca do ano. Não havia volta a dar: chegava à Austrália como favorita. Ganhou gosto e confiança na nova forma de encarar a vida. Confiou aos clientes a sua real história, com quem dizia . Um deles, nunca soube qual, traiu-a e o escândalo rebentou em 2012.

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«Estava a tremer, ainda sentia a adrenalina. O encontro que tive foi numa das melhores suites de hotel em Las Vegas. O meu corpo ainda estava incandescente de prazer. Isto é muito melhor do que ganhar uma corrida, pensei. Isto é muito melhor do que competir nos Jogos Olímpicos. Se soubesse como me iria sentir, nunca teria perdido tanto tempo noutra coisa.» [Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

O mundo da alta competição tem muitos casos de exigência extrema que extravasa a capacidade natural do ser humano. Suzy Favor Hamilton é, por ventura, apenas mais um exemplo. Que ganhou destaque pelo escape que encontro e foi exposto ao mundo em 2012: tornou-se acompanhante de luxo.

O escândalo atirou-a de volta para o charco de onde julgava ter saído quando parou de correr. Ficou exposta, perdeu patrocinadores, viu-lhe diagnosticada bipolaridade.

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Foi em dezembro daquele ano que o site «The Smoking Gun» trouxe o caso a público: Kelly Lundy, a mais cara acompanhante de luxo de Las Vegas, era, na verdade, Suzy Favor Hamilton, três vezes atleta olímpica pelos Estados Unidos.

Quase três anos depois, Suzy conta toda a história em livro, lançado na segunda-feira, nos Estados Unidos. «Fast Girl: Running from Madness» [ndr. «Rapariga Rápida: fugindo da loucura], foi o título que escolheu.

Da bulimia à queda na final de Sidney  

«Quando descobri a corrida, adorei que fosse algo tão puro. Só o meu corpo e eu. Quando entrei para a equipa de atletismo da escola, no sétimo ano, era muito mais rápida do que as outras raparigas e o treinador colocou-me a correr na equipa dos rapazes. Mas eu também já era mais rápida que a maioria dos rapazes, também. Não gostava do destaque que tinha e ir para os treinos passou a originar crises de ansiedade. Queria ganhar, mas detestava não conseguir integrar-me.» [Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

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Revela, por exemplo, que sofreu de bulimia no início da carreira, doença que só venceu quando conheceu aquele que viria a ser o seu futuro, e atual, marido: Mark Hamilton.

«Não importava o quão magra estava, sentia-me sempre pesada porque eu não achava que tinha um corpo perfeito para ser atleta», justificou, no livro, Suzy Favor Hamilton.

Participou em três Jogos Olímpicos (1992, 1996 e 2000). Sempre sem sucesso.  

«Na noite antes da eliminatória dos 1500 metros em Barcelona [Olimpíadas de 1992], estava de volta ao lado negro que sempre me acompanhava em competição. Além disso, a Vila Olímpica estava um caos, com música alta, bebedeiras e gargalhadas. Deitei-me na cama e vi-me a falhar uma e outra vez. Acho que não dormi, de todo. A última coisa que queria fazer era correr nos Jogos Olímpicos.» (…) «Não conseguia concentrar-me enquanto assumia a minha posição. E depois comecei a correr. Sentia que não pertencia àqueles atletas de elite. Reforcei a ideia com uma volta e meia. Sentia que estava a correr em cima de areia. As outras passaram e eu terminei em último.»[Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

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No livro conta que o otimismo se foi na meia-final. Ficou em segundo, foi batida sobre a meta e voltou à espiral depressiva. «Senti-me como se já tivesse perdido. Antes da final, queria fugir», conta.

Numa final em que Portugal teve como representante Carla Sacramento, Suzy encarou o desafio, mas não gostou nada quando percebeu que tinha sido designada para ficar na primeira pista. «Isso significava que tinha de começar rápido para evitar ficar presa», explica.

O relato do livro, depois, é esclarecedor:

«Parecia que meu coração ia bater até ficar em pó. Quando ouvi o tiro, comecei a correr e, em pânico, atirei-me para a liderança, mas a cada passo que dava só pensava que queria que aquele pesadelo terminasse. A uma volta do fim, a respiração das corredoras atrás de mim ficou mais alta, o que me fez sentir como um animal a fugir do predador. As minhas pernas ficaram pesadas e a 150 metros do fim, as atletas começaram a passar-me, uma a uma. Ia ficar em último, na minha última corrida Olímpica. Não havia ouro para o Mark [marido], para o meu treinador, para os meus pais, para a memória do meu irmão falecido. De coração partido, disse a mim própria para cair. E caí.» [Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

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A queda (1min):

«Senti-me uma idiota, mas, pelo menos, não tinha de correr. Depois percebi que não podia deixar a corrida por acabar. Levantei-me a cruzei a linha de meta, mas quando os jornalistas chegaram até mim não aguentei a vergonha e caí outra vez. Fechei os olhos e senti os médicos a levantarem-me e levarem-me.» [Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

Como Suzy Favor Hamilton passou a ser Kelly Lundy

O final de carreira, sem honra nem glória, trouxe-lhe a depressão. E atrás dela veio o mundo novo. Já tinha uma filha, já tinha tentado o suicídio, frustrada pela inadaptação a um trabalho que não a satisfazia.

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Numa viagem a Las Vegas convenceu o marido a contratarem uma acompanhante de luxo para realizarem uma fantasia do casal. Travou o conhecimento necessário para perceber que era também o que queria. Recebeu aprovação do marido, transformou-se em Kelly Lundy e iniciou uma vida paralela.

«Ter homens a gastar dinheiro comigo arrepiava-me. Desde cedo que me diziam que eu estava destinada a grandes coisas e persegui esse sonho na pista. Agora, como Kelly, também queria ser a número um», conta.  

«Agora que dediquei a minha vida ao sexo, a necessidade de ser a melhor na cama superou a necessidade de ser a melhor na pista. Mas isto é ainda melhor, porque eu detestava a competição que tinha para ganhar uma corrida. Tudo nisto de ser uma acompanhante é muito bom. Não quero voltar à minha vida antiga. Nunca mais.» [Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

«criar uma ligação»

Hoje está ultrapassado. Suzy leva uma vida normal, com a filha e o marido, e quer usar o seu livro para que os perigos do submundo da alta competição não sejam encarados pela superfície. Existem. Ela sabe bem que sim.  

«Quando corria, sentia os músculos a ceder. Foi correr que fez de mim um modelo, mesmo que eu desejasse muito pouco que isso acontecesse. Comecei a odiar a coisa que mais amava. Agora tenho um novo propósito: partilhar a minha história. Ter a coragem de continuar a lutar. Quero mostrar aos outros, especialmente à minha filha, que temos de viver por nós próprios e que com amor e ajuda é possível sair do nosso buraco negro»[Excerto do livro «Fast Girl: Running from Madness», de Suzy Favor Hamilton]

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