O futebol e as coisas em que nunca acreditei
Nova crónica de «Era Capaz de Viver na Bombonera»
There are few things I never could believe… A woman when she weeps A merchant when he swears A thief who says he’ll pay A lawyer when he cares A snake when is sleeping A drunkard when he prays I don’t believe you go to heaven When you’re good Everything goes to hell, anyway… Why be sweet, why be careful, why he kind? A voz, ensopada em bourbon, defumada durante meses e atropelada por um carro em fuga, não deixa que sosseguemos no nosso canto deste mundo. Aqui. Mesmo aqui. Neste canto.
Sim, tudo no fim acaba mesmo por ir para o inferno, mas há tantas outras coisas em que não podemos, não devemos, não temos como permitir a nós mesmos acreditar. E não temos de ser simpáticos ou cuidadosos. Devemos dizer as coisas tal e qual elas são, signifique isso o que significar.
PUB
I don’t believe you go to heaven when you’re good
Não acredito
No perdedor que não culpe o árbitro No derrotado que não queira levantar a cabeça No campeão que não pense jogo-a-jogo
No treinador que não se ache o maior No central que não desarma No adepto que se diz isento
Mais! Sim, ainda mais. Se o bom do Tom pudesse assentar o seu piano embriagado no Bernabéu desconfiaria ainda mais do que eu, ele que deve ver certamente o mundo em tons de sépia ou a preto-e-branco.
Há coisas em que nunca consegui acreditar, cantaria ele
Um mau avançado na pele de central O egocêntrico que festeja golos dos outros Un pivote de 40 milhões
I don’t believe you go to heaven when you’re good.
Cada vez mais rouco, cada vez mais voraz.
There are few things I never could believe…
Em Inglaterra
Wenger apertar a mão a Mourinho Diego Costa ser amigo de um rival O City parecer uma equipa
PUB
França, depois Itália, logo na Alemanha
Um Ibrahimovic politicamente correcto Um Bielsa menos louco Jardim a esboçar um sorriso
O Milan na luta pelo título Um Pirlo sem classe O Inter com um rumo Um Robben sem lesões Um Bayern não feito em DortmundUm Guardiola que não traga algo de novo
A canção em fade-out, a voz a confundir-se com os tambores, pronta a passar o testemunho. A outra canção, a outro tema. A um ritmo diferente. A uma maior fé nos outros, talvez.
Pego nos últimos acordes, antes de baixar os braços e desistir.
Tinhas razão, Tom! Um gentleman é alguém que pode tocar acordeão... mas não toca!
Felizmente, ainda há muitas mais coisas em que acredito. Não há outro jogo como este. E o resto pode mesmo ir todo direitinho para o inferno.
Football, bloody hell! Exactamente como dizia o velho Fergie!
--
«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias. Pode segui-lo no FACEBOOK e no TWITTER . O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico. --
PUB