O segredo para acabar com todos os males do mundo
Nova crónica de «Era Capaz de Viver na Bombonera»
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Como é que diz o outro?
Tão distantes que praticamente não se vêem separados. Siameses, de tão colados que estão. Mas ao mesmo tempo, sim, distantes. A nós, cá em baixo, parecem-nos lado a lado, mas depois, junto dos outros extraterrestres, eles lá terão as suas medidas próprias, em anos-luz ou coisa parecida, que nós não dominamos.
Não era provável, antes de lhe ligarem o microfone, que alguém que expõe tanto a sua humanidade fosse capaz de separar tanto com uma frase quem já não está ao seu alcance. Alguma vez esteve? Fica a dúvida. «O Cristiano é o melhor do mundo, o OUTRO está atrás.» O Harry Potter meteu em trivela, sem olhar, perante o olhar desconfiado de Dumbledore. E o mundo viu um rasto de fogo e o português a destacar-se mais uns centímetros no breu.
O bom do Sartre é que gostava de filosofar sobre o outro
Não é fácil passar do Quaresma para o Sartre, não acham?
Pulga Supercola 3Sai de casa e vem comigo para a rua, vem, q'essa vida que tens, por mais vidas que tu ganhes, é a tua que, mais perde se não vens.
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Anda, mostra o que vales, tu nesse jogo, vales tão pouco, troca de vício, por outro novo, que o desafio, é corpo a corpo. Escolhe a arma, a estratégia que não falhe, o lado forte da batalha, põe no máximo o poder.
Dou-te a vantagem, tu com tudo, eu sem nada, que mesmo assim, desarmada, vou-te ensinar a perder.
Voltemos à vaca fria, ou à batata quente. Sim, o franciú existencialista tinha a sua própria teoria. Cada indivíduo tinha um projecto e quando estes se sobrepunham surgia o conflito. Dizia ainda, com mais oração menos oração, que o homem por si não podia conhecer-se na totalidade, precisava sempre do outro.
O que o Sartre nos anda a dizer há séculos e nós a fingir que não ouvimos é que Ronaldo só é Ronaldo porque há Messi. E vice-versa. Um não passa sem o outro, e se passasse não seria metade do que é. Cristiano precisa do argentino para se ver a si próprio, já este teria adormecido no trono, de tão aborrecido, se o português não o acordasse de três em três dias com golos.
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Já Mário Sá Carneiro via sempre a vida por outro lado. Os poetas são assim. Respiram o ar que existe no limbo e deixam-se embriagar por este. Têm sempre mais dúvidas do que certezas, e todas as conclusões a que chegam resultam em nova pergunta. E não saem da sua própria angústia, cheia de rimas e imagens carregadas de névoa.
Eu não sou eu, Nem sou o outro Sou qualquer coisa de intermédio Pilar da ponte de tédio Que vai de mim para o outro
yin yang-- «ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias. Pode segui-lo no FACEBOOK e no TWITTER. O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico. --
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