Para mim não precisas de ser Messi, ó Bernardo!
Nova crónica de «Era Capaz de Viver na Bombonera»
AVISO: Se viu o título e decidiu aparecer por aqui para ter oportunidade única de embirrar com um texto que não é sobre William Carvalho prima (1). Avisamos que o tempo de espera dependerá da velocidade da sua ligação à internet. Lamentamos desde já a inconveniência.
Se o obrigarem a encostar a testa a um stick daqueles de treino ou ao peito de um rival a dar voltas e voltas sobre si mesmo, ele sairá sempre a jogar, direitinho à baliza contrária. Direitinho, direitinho talvez não, ainda desenharia um ésse ou outro com a classe do costume, mas acho que percebem a ideia.
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De nada serviria pedirem-lhe para ser estrela daqueles momentos-youtube, com qualidade de imagem inferior, gravados para arrancar gargalhadas e serem partilhados para gerar ainda mais gargalhadas, em corrente que se espalhe pelo planeta. Like após like.
Seria o único a seguir em frente, bola colada ao pé esquerdo, e queimaria take após take.
Cortaaaaaaaaaa! Bernardo, um pouco mais de profissionalismo, por favor. Dê mais três voltas ao pau para sair mais natural…
Faltam-lhe as pernas giratórias de um Tsubasa animado, e a inevitabilidade de que tudo saia sempre bem, para deixar pelo caminho o Petit que lhe colaram ao Messi no Louis II ou o zinho que cresceu no fim da alcunha com as vírgulas e pontos e vírgulas escritos com o pé esquerdo no Seixal. Faltam-lhe milhares de coisas, e todas com um peso tão grande que podem fazer com que seja cada vez mais difícil respirar.
Usa este saco de papel, Bernardo. Agora, expira!
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É preciso que tenham consciência de que já não pode ser mais Petit quem tem mais três centímetros que o Outro, e tirem lá da ideia os que já pensam em contratar meia-equipa do Getafe ou uma mão-cheia de ingleses para que o puto reedite o Golo do Século.
Mas, se lhe plantarem um Caniggia metros mais à frente, vejo-o perfeitamente iludir três ou quatro brasileiros antes de lhes dar um soco no estômago e deixá-los fora de um Mundial. Não que hoje em dia isso seja coisa complicada, mas pensem no Brasil de 90. Já estão a ver?
Sim, disso Bernardo é capaz. Encontrar petróleo entre três brasileiros, três alemães, no meio de três suecos.
Eu acredito!
Subtileza, elegância. A bola, amiga, a deixar gravada sobre o relvado os Zês de Zorro, escritos em tracejado curto, porque gosta tanto de se refugiar no seu pé esquerdo, esse porto de abrigo.
Os cortes, as mudanças de direção e os arranques ainda em saltinhos de Pulga
Petit Pulga ou Pulgazinha, se preferirem…
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mas ainda sem aquela aceleração definitiva, diabólica, imortal.
Os dribles sem malícia. Sem direito a humilhação, sempre acompanhados por um livro de reclamações. Fintas feitas com respeito pelos outros mortais. Ele no centro do jogo, a manipulá-lo de cruzetas nas mãos, puxando uma linha aqui, outra ali, como bom titereiro. Passe, drible, passe, drible, assistência. A bola apaixonada pelo seu pé esquerdo, a reclamar-lhe atenção.
Esquece o Outro e serás grande, ó Dez.
Deixa-me que te diga que não serás D10S ou qualquer coisa que o valha, deixa lá isso. Mas um Dez. Um Petit Dez, ou um Dézinho. Isso basta-me. Para mim, nunca precisarás de ser Messi.
Tu crois que je suis bien, dans cette bonbonnière?
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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias na MFTOTAL. Pode seguir o autor no FACEBOOK e no TWITTER. Luís Mateus usa a grafia pré-acordo ortográfico. --
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