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Opinião   |  

Portugal é meia hora depois

... e a Seleção Nacional é apenas muito portuguesa

Em Portugal dois mais dois nunca são quatro: na melhor das hipóteses dois mais dois é igual a seis vezes três menos oito a dividir por dois menos um. Portugal perdeu o medo de acertar, mas mantém o jeito para complicar. Gosta de desafios e gosta sobretudo de desafios complicados. Aborrece-se com as coisas simples e exulta com conquistas simples por caminhos sinuosos. Portugal deixa tudo para a última e anda sempre meia hora atrasado. Se alguém combina um jantar às nove, nunca é às nove: é às nove e meia. Chegar meia hora depois em Portugal não é atraso e não é má educação. Chegar a horas é mesquinho, direitinho, camisa às riscas e pijaminha dobrado. Se tem uma festa às onze, Portugal sai de casa à meia noite, fica sem bateria no carro, reza para que alguém pare para o ajudar e quando para não traz cabos, e está tudo lixado que já não vai chegar à festa, é impossível, porque não saiu mais cedo de casa?, e agora só um milagre, e alguém para, traz cabos, o carro arranca e Portugal está na festa à uma e meia da manhã. No fim foi perfeito. Bebeu os Porto tónicos que quis, embebedou-se, atirou-se vestido para a piscina, viu o sol nascer, ficou sóbrio, tomou o café da manhã e voltou para casa direitinho. Portugal não age, está quieto: Portugal reage. Espera que o tempo, ou o lugar, ou ambos estejam contra ele, deixa que a situação fique insustentável, entra num estado de completa inquietação e depois sim atira mãos à obra. Portugal não anda em linha reta, não faz círculos perfeitos e não se guia pelos marcos geodésicos. Portugal não é uma questão prática. Portugal não se mede pela medida do possível: mede-se pela medida do impossível. Não é prudente nem conscencioso. Não é comedido nem regrado. É uma aventura: uma permanente epopeia que nunca acaba de ser escrita. Portugal é isto há anos. Não é de hoje, nem de terça-feira, nem de sábado. A seleção nacional é apenas muito portuguesa: não o seria sem uma proposta irrazoável, sem uma meta arriscada, sem um limite minimamente perigoso. Para já, que se lixe Pessoa: está apenas a cumprir-se Portugal.«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui todas as sexta-feiras de quinze em quinze dias

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