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Fiz tudo bem: só me faltou acabar este artigo

O futebol tem um código de linguagem particular, e até aqui tudo bem.   O que se torna difícil de entender, até porque estamos a falar de linguagens, é que por vezes atinja o nível de disfunção futebolística: torna-se um distúrbio perturbador.   Entre todos os lugares comuns e frases feitas que engordam o diálogo singular do futebol, nenhum é tão desconcertante quanto a máxima repetida constantemente pelos treinadores depois de um jogo que tenha chegado ao fim com um sorriso menos feliz.   «Fizemos tudo bem, só faltou o golo.»   Nesta alturas lembro-me sempre de Henrique Calisto: posso até confessar que é das raras ocasiões em que me lembro do antigo treinador do P. Ferreira.   Mas acontece, admito que sim: lembro-me de quando jogou em casa com o FC Porto e foi confrontado no final do encontro com a queixa de Vítor Pereira de a equipa dele tinha feito tudo bem... só não tinha concretizado as oportunidades que criou.   Henrique Calisto foi genial, como poucas vezes terá sido.   «Quer dizer que o FC Porto anda a trabalhar mal. Tem de treinar mais a finalização.»   No fundo, meu senhores, é isto: por muito que conheçam o jogo por dentro e por fora, nas suas variantes clássica e moderna, no jogo entre linhas e em espaços interiores, não é preciso ser um génio para compreender que o futebol só tem um objetivo.   Fazer golos.   Se não os marcaram, lamento mas não, não fizeram tudo bem.   Pelo contrário, fizeram tudo mal. Portanto se procuram e institucionalizam desculpas para resultados menos prósperos, pelo menos vale a pena perder algum tempo com isso: elaborar um lugar comum que não vá contra a natureza do jogo.   Basicamente era como se um árbitro dissesse que fez tudo bem, só não assinou a grande penalidade. Ou como se um assistente dissesse que fez tudo bem, só não levantou a bandeirinha.   Era como se um motorista dissesse que fez tudo bem só não chegou ao destino ou como se um polícia dissesse que fez tudo bem e só não prendeu o ladrão.   Faz enfim tanto sentido como... bem, digamos que não faz sentido: assim entendemo-nos todos e ninguém fica ofendido. Para além do futebol, claro.   É o que o golo no futebol ainda é tudo, até para nós que amamos o jogo: menosprezá-lo pode ser tremendamente agressivo.   A simples utilização da palavra «só» ali tão vizinha da palavra golo, com a conjugação do verbo marcar no pretérito perfeito pelo meio, chega a ser injurioso. A nossa paixão não se alimenta da memória da ocupação de um espaço ou de uma recuperação de bola no ataque: alimenta-se da memória de um golo.   Depreciá-lo como alguns treinadores o fazem pode ser perigoso. Era aliás como se uma criança pudesse de repente   Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias

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