Cristiano como Cruyff e Ronaldo: o Ouro que resiste à mudança
Português é apenas o terceiro jogador a vencer em clubes e países diferentes
Cristiano Ronaldo venceu nesta segunda-feira a sua segunda Bola de Ouro. À primeira vista, a conquista dupla não coloca o português num patamar extraordinário entre os jogadores que mereceram a distinção.
O avançado do Real Madrid tem agora dois prémios mas há vários nomes com um registo superior. Leo Messi é o recordista com quatro. Porém, surge numa pespetiva distinta e importante para a análise: Cristiano foi considerado o Melhor do Mundo em clubes e campeonatos diferentes
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Não é fácil manter o nível exibicional entre mudança de equipas e de realidades. O português atingiu esse patamar, a qualidade comprovada em cenários distintos. Algo só ao alcance do outro Ronaldo, o Ronaldo Nazário de Lima, e Johan Cruyff.
Johan Cruyff conquistou o primeiro Ballon d'Or em 1971, com a camisola do Ajax. Teria o holandês capacidade para repetir o feito em outro campeonato que não o seu? Sim. Dois anos mais tarde, Cruyff venceu novo troféu, já como jogador do Barcelona.
Em 1973, o prémio da France Football foi para Espanha. Porém, há um dado a ter em conta. Johan Cruyff ainda passou metade desse ano na Holanda, ao serviço do Ajax. Normalmente, o sucesso na época anterior é fundamental. Porém, se baixasse o ritmo após a transferência para o Barcelona, a distinção ficaria em risco. Não foi o caso.
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Não iremos discutir se este é o verdadeiro. Para os distinguir, bastará tratá-los pelo primeiro nome. Em 2002, Ronaldo garantiu o seu segundo Ballon d'Or, numa altura em que vestia a camisola do Real Madrid.
A carreira do brasileiro ficou marcada por várias mudanças de clube e, curiosamente, as distinções chegaram em anos de mudança. O Fenómeno venceu o primeiro troféu em 1997, num período dividido entre o Barcelona e o Inter de Milão.
No ano do novo feito, Ronaldo esteve seis meses no Inter e o restante tempo no Real Madrid. Curiosamente, num período em que tentava superar problemas físicos, a sua grande montra foi o Campeonato do Mundo. O Ballon d'Or deve-se, em grande parte, ao sucesso no Mundial de 2002. Ainda assim, a qualidade resistiu às diferenças entre La Liga e a Serie A.
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O português venceu o primeiro Ballon d'Or em 2008, na melhor fase ao serviço do Manchester United.
Figura de destaque na Premier League de Inglaterra, Ronaldo entrou na galeria de notáveis com naturalidade.
O avançado português contrariou os receios. Adaptou-se à nova realidade, às novas exigências. CR7 percebeu até que teria de jogar de forma diferente. Encarou o novo desafio com entusiasmo.
Cristiano Ronaldo assumiu-se como referência do Real Madrid frente a um Barcelona aparentemente imbatível. Do outro lado estava também Leo Messi, o maior concorrente. Seria o argentino, aliás, a vencer os quatro troféus seguintes.
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CR7 esperou por 2013. Marcou, marcou e marcou ainda mais. Terminou o ano sem grande sucesso no plano coletivo (aliás, vence a Bola de Ouro sem ter troféus de monta no clube) mas bateu vários recordes. Resolveu, por exemplo, o play-off entre Portugal e Suécia, deixando Ibrahimovic fora do Mundial. Mas essa foi apenas a cereja no topo do bolo.
Cristiano Ronaldo é apenas o terceiro jogador a vencer duas Bolas de Ouro ao serviço de clubes diferentes, em campeonatos. Muito mais que um mero pormenor. Resta-lhe, ainda, enfrentar em 2014 a maldição dos Mundiais: desde a criação do troféu pelo France Football, em 1956, nunca um detentor do troféu se sagrou campeão do Mundo nesse ano. Quebrar essa maldição seria, sem dúvida, a maior proeza numa carreira recheada de impossíveis.
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