Edgar: de Benfica e Real Madrid às finanças do Estado
Avançado terminou a carreira em 2009, tirou um curso superior e trabalha na Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública
«Depois do Adeus» é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como sobrevivem os que não ficam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para o email vhalvarenga@mediacapital.pt.
Edgar cumpriu grande parte dos seus sonhos no mundo do futebol. Chegou à equipa principal do Benfica, partilhou o balneário com grandes estrelas do Real Madrid e representou a seleção principal de Portugal após mais de 70 internacionalizações nos escalões jovens.
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Nessa altura, no final dos anos 90, era apenas o Edgar. A partir do momento em que trocou o Benfica pelo Real Madrid, iniciando um longo percurso no futebol espanhol, começou a ser conhecido como Edgar Pacheco.
O avançado terminou a carreira em 2009, ainda com 32 anos, e agarrou-se ao gosto pelos números para tirar um curso superior: Gestão das Organizações Desportivas, na Universidade Lusíada.
Edgar queria regressar ao mundo do futebol para contribuir para uma gestão eficaz dos clubes, mas a experiência foi relativamente curta. Viajou para Angola em 2013 e trabalhou três anos como Supervisor para o futebol no Sport Luanda e Benfica.
«Como tinha uma licenciatura, queria ajudar na gestão de um clube de futebol. Os dois primeiros anos correram bem, mas depois a crise começou, as estruturas do futebol começaram a ressentir-se e vim para Portugal com a minha mulher», explica o antigo avançado, ao Maisfutebol.
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Quando voltou a Portugal, no final de 2016, Edgar bateu a algumas portas no futebol, uma delas a do Benfica, mas nenhuma abriu. Inscreveu-se com a mulher, Mónica Pacheco, em várias empresas de recrutamento e agarrou o que surgiu no horizonte.
«Como o meu pai sempre me educou, temos dois braços, duas pernas e podemos trabalhar. Se a porta está fechada, não vou estar a bater até de manhã», salienta.
Edgar e Mónica inscreveram-se em várias empresas de recrutamento e acabariam por receber propostas para trabalhar na Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública (eSPap), uma empresa do Estado.
«Eu sou um Técnico Administrativo de Finanças, trabalho na parte dos Serviços Partilhados de Finanças, que apoiam a contabilidade e fazem o controlo financeiro, de despesas e receitas, de vários organismos do estado, sejam diversos Ministérios, a GNR, etc. Comecei em agosto de 2017, nos primeiros dois anos trabalhei através da empresa de recrutamento, a Randstad, mas entretanto concorri ao concurso e fiz contrato direto», refere Edgar. Aos 43 anos, o antigo avançado não ganha aquilo que ganhou como jogador de futebol, longe disso, mas agarra-se à garantia de estabilidade profissional e à rede de segurança que construiu com a aquisição de alguns imóveis ao longo da carreira: «Hoje em dia, não está fácil para ninguém arranjar trabalho. Eu gostava de estar no futebol, mas se nem eu consegui com um curso superior... Desde que tenhamos um ordenado com que consigamos sobreviver, é agarrar com as duas mãos, só depois pensar em algo mais.» «Como diz o meu pai, primeiro tens de pensar no tecto. Portanto, a casa tem de estar paga quando surge a oportunidade. Foi isso que fiz logo, enquanto jogador, e é esse um dos conselhos que dou ao meu filho», acrescenta. Edgar Pacheco, o filho com o mesmo nome, tem 20 anos e já fez dois jogos pela equipa principal do Belenenses, no final da época 2020/21. «Joga na mesma posição que eu e é parecido comigo, rápido e potente como eu era. Fisicamente, quem vê percebe logo de quem é que ele é filho», atira, visivelmente orgulho, o pai. «Procuro sempre aconselhá-lo, dizer-lhe para ir estudando, para depois não custar tanto. Foi isso que eu fiz, tive essa pressão boa dos meus pais para continuar os estudos e sempre gostei de estudar. Só deixei os estudos aos 17 anos, quando fui para os seniores do Benfica», recorda Edgar. A educação e disciplina do antigo avançado terão sido fundamentais para a estabilidade profissional após o fim da carreira como jogador. «Eu cresci no Benfica, vivia no centro de estágio do Benfica, convivia com os meus colegas mas nunca deixei de fazer os trabalhos de casa e de estudar. Felizmente, consegui fazer o 12.º ano e voltei a estudar aos 32 anos, quando terminei a carreira. Foi difícil voltar a entrar no ritmo, mas consegui», salienta. Pelo caminho, recorde-se, Edgar chegou aos seniores do Benfica, à seleção principal de Portugal e ao Real Madrid. «Nessa altura era mais complicado fazer a transição das camadas jovens para os seniores, não havia sub-23 nem equipa B. Tinha 17 anos quando o Artur Jorge me convocou para um jogo da Supertaça frente ao FC Porto, em Paris. Eu achava que ia só para fazer número, mas entrei mesmo», diz o avançado.
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