Já fez LIKE no MaisFutebol?
Destino 80s  |  

Bobó, a última aposta de Pedroto: «Até chorei quando saí do FC Porto»

«Destino 80’s»: cresceu entre posters do FC Porto e maquetes do Estádio das Antas, a sonhar com o dia em que poderia lá jogar. Não vingou de azul e branco mas tornou-se figura incontornável do futebol português durante quase duas décadas

DESTINO 80's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.

BOBÓ: FC Porto, V. Guimarães, Marítimo, Estrela da Amadora, Boavista, entre outros

PUB

Mamadou Bobó Djalo. O médio que começou por ser avançado e marcou uma era em Portugal, com quase duas décadas nos relvados lusos, afirmou-se pelo nome do meio. Não o conseguiu no FC Porto que lhe preencheu os sonhos de menino, mas fez-se futebolista naquela casa partindo depois para uma carreira que o torna figura incontornável do futebol luso nos anos 80 e 90.

Nasceu na cidade guineense de Chanchungo, de pouco mais de dez mil habitantes. Havia uma filial do FC Porto e, por isso, era, por assim dizer, uma cidade pintada de azul e branco. Bobó cresceu lá no meio.

«Se era portista? Claro que era. Cresci ali no meio dos portistas todos. Cresci a ver posters do Oliveira, do Gomes, do Gabriel. Se alguma vez imaginava que ainda ia ser colega de alguns deles… O FC Porto foi um sonho para mim», assume, em conversa com o Maisfutebol.

Conte-se, então, a história. Estávamos no início da década de 80 e Bobó conseguiu uma passagem para Portugal onde iria tentar ser futebolista. Aterrou em Lisboa e foi seduzido pelos grandes da capital. «Tinha amigos a treinar nos juniores do Benfica e do Sporting e disseram-me para ir lá mas nem quis ouvir. Tinha aquela fixação pelo FC Porto», conta.

PUB

Veio, então, para o norte. Fez um teste perante o olhar de Festas, que era o treinador dos juniores. Marcou dois golos, agradou, mas…não ficou. «Já estávamos no fim de setembro e disseram que não podiam inscrever-me mas ficaram comigo debaixo de olho. Quando me disseram que não tinham espaço e ia ter de sair, até chorei», explica.

Não tardou muito a encontrar clube, contudo. «Veio logo um senhor falar comigo. Saí da Constituição às seis da tarde e duas horas depois estava a treinar no Vilanovense. Fiquei lá quatro meses e, então sim, o FC Porto foi-me buscar. No ano seguinte fomos campeões de juniores sem derrotas», recorda.

«Ainda hoje me emociono a lembrar disso. Lembro-me da primeira vez que entrei no Estádio das Antas, de me deitar na relva para ver como era. Na Guiné não havia relva. Aquilo era um sonho. Lembro-me de estar lá deitado a recordar os posters. Eu tinha uma maquete do Estádio das Antas e sonhava com o dia em que ia conhecer o estádio. Quanto mais jogar lá…», reconhece.

PUB

De arma secreta a moeda de troca

Depois do sucesso nos juniores e de uma passagem pelo Águeda, Bobó foi ganhando espaço no plantel principal. Na temporada de 1983/84, em que o FC Porto chegaria à primeira final europeia da sua história, jogaria os primeiros minutos na equipa sénior.

«Fui a última aposta do Pedroto, sabe?», questiona. E explica, recuando a um jogo com o Penafiel, na 10ª jornada daquela Liga. «Foi ele que me lançou e esse foi o último jogo em que ele esteve no banco», sublinha.

«O Gomes não estava bem e ele disse-me que ia entrar para ponta de lança. Eu fiquei: ‘ponta de lança, eu?’. Ele só me disse: ‘vais para lá e esquece as fintas. Quando vires espaço atira à baliza’. Acabei por fazer o golo. No jogo seguinte, com o Espinho, já foi o Morais no banco, voltei a entrar e a marcar. Ia lançado: dois jogos e dois golos. Mas depois as coisas começaram a correr pior», lamenta.

A estreia frente ao Penafiel:

PUB

Perguntamos, passados estes anos e com estreia tão auspiciosa, por que não vingou no FC Porto. Bobó sorriu: «Costumo dizer que não há nenhum treinador no mundo que não goste dos bons jogadores. Todos querem os melhores.»

«Passei a ser moeda de troca. Primeiro pelo André. Fui para o Varzim, fiz uma época em cheio mas no ano seguinte o FC Porto foi buscar o Laureta ao V. Guimarães e fui outra vez a moeda de troca. No Vitória acho que fiz a melhor época da minha carreira. A três jornadas do fim estávamos em primeiro! Fomos à Luz e veio a cidade em peso. É um clube especial», descreve.

Estava a chegar a época 1986/87, gravada a letras de ouro na história do FC Porto. Artur Jorge preparava um plantel para voltar a ser campeão e ainda nem sonhava que, mesmo falhando o título nacional, seria campeão europeu em Viena, pela primeira vez na história do clube. Bobó ficou às portas desse plantel.

PUB

«Tive uma reunião com o Pinto da Costa e o Artur Jorge e estava tudo acertado para voltar ao FC Porto. Só que eu tinha um problema: não tinha transporte, andava de camioneta e não podia ir todos os dias de Guimarães para o Porto. Por isso combinamos que voltava uma semana depois para acertar tudo. Quando lá cheguei já não era nada como tínhamos combinado. Diziam que era muito dinheiro, que tinha de baixar. A verdade é que já tinham acertado o regresso do Sousa e do Jaime Pacheco. Eram jogadores de mais nome. Disseram-me para ficar, que não jogava mas podia treinar com o grupo. Eu não quis. Sabia que isso não ia causar bom ambiente», explica.

Bobó nos tempos atuais

O percurso de Bobó em Portugal:

1980/81: Vilanovense (Juniores) 1981/82: FC Porto (Juniores) 1982/83: Águeda 1983/84: FC Porto, 8 jogos (2 golos) 1984/85: Varzim, 26 jogos 1985/86: V. Guimarães, 30 jogos (5 golos) 1986/87: Marítimo, 23 jogos 1987/88: Marítimo, 21 jogos (2 golos) 1988/89: Estrela da Amadora, 31 jogos (2 golos) 1989/90: Estrela da Amadora, 33 jogos 1990/91: Boavista, 32 jogo (1 golo) 1991/92: Boavista, 30 jogos 1992/93: Boavista, 41 jogos 1993/94: Boavista, 37 jogos 1994/95: Boavista, 26 jogos (1 golo) 1995/96: Boavista, 10 jogos 1996/97: Boavista/Gondomar

PUB

Quando Alves viu nele um 6 e lhe mudou a carreira

Nesta altura da carreira, Bobó não era o médio defensivo que, mais tarde, marcou uma era no Boavista, por exemplo. Jogava mais à frente. « Era quase sempre avançado ou médio ofensivo. Era um dez», explica.

«Foi assim no FC Porto, depois no Águeda, Varzim e por aí fora. Só no Estrela da Amadora é que o [João] Alves me colocou a jogar mais recuado», revela.

«A história até é curiosa. O Alves estava no Leixões e precisava de um dez e veio falar comigo. Mas eu já tinha dado a palavra ao Estrela da Amadora e não voltei atrás. Só que as coisas não correram bem ao treinador que tínhamos no Estrela [Joaquim Meirim] e ele saiu e foram buscar…o Alves! Quando ele chegou achou que havia muitos médios ofensivos e começou a fazer testes para encontrar um número 6. Testou-me a mim, depois outros colegas mas no final veio dizer-me que tinha gostado e que seria eu a jogar ali no próximo jogo. Fui titular, joguei bem e até fiz o golo. No final ele veio dizer-me para esquecer tudo o resto que o meu futuro era aquele», atira, entre risos.

PUB

Bobó fez duas épocas no Estrela da Amadora, depois de dois anos no Marítimo. Um clube do qual gostava mas que tinha um problema: as viagens. «Passei cada sufoco no avião que nem é bom lembrar», atira.

«Vim para o Estrela, fizemos um bom trabalho e quando fomos à final da Taça o Major [Valentim Loureiro] apareceu e ficou logo acertado que ia para o Boavista», conta.

O porta-voz da mística do Boavista

Bobó no Boavista: o primeiro agachado a contar da esquerda

Em 1990, acabadinho de conquistar a Taça de Portugal pelo Estrela da Amadora, Bobó chegou ao Bessa. Rapidamente se tornou figura incontornável: «Foram oito anos, sempre a titular e mais tarde capitão. É aquele clube que mais depressa associam a mim. Guardo boas memórias.»

«Tinha grandes amigos no Boavista. Olhe, o Sanchez, que agora é o treinador, foi meu colega de quarto. Aliás, todos os jogadores que chegaram ao Boavista foram meus colegas de quarto a partir de uma certa altura. Eu é que lhes mostrava o que era o Boavista. Foi assim com o Artur, o Marlon, depois o João Pinto, o Nuno Gomes», enumera.

PUB

Era uma espécie de porta-voz da mística axadrezada. Mostrava aos mais novos o que era o Boavista. E alinhava nas praxes habituais, também: «Havia uma brincadeira que fazíamos aos mais novos que era dizer-lhes que não podiam tomar banho no balneário. Eles apareciam e dizíamos: ‘Que é isso? Isto não é para vocês, só para os mais velhos. Vão lá para outro lado’.»

No Bessa haveria de reencontrar João Alves, sem o sucesso do Estrela, e conheceu Manuel José. «Foram os dois treinadores que mais me marcaram, porque o Pedroto é um caso à parte», esclarece.

«Sabiam tirar o maior proveito dos jogadores. Em termos de leitura eram também muito bons. Sabiam quando e como mexer no jogo. O Alves era mais brincalhão. O Manuel José também brincava mas não gostava de ser enganado. Quando havia queixas físicas ele ia tirar logo tudo a limpo para saber se não era manha para não treinar. O Alves muitas vezes deixava passar», conta, entre risos.

E atira mais histórias do «Luvas Pretas»: «Dizia-me muitas vezes que eu não me sabia poupar, que tinha de ter mais cuidado. Porque eu dava sempre tudo o que tinha. Não só nos jogos, mas nos treinos. Até ao meiinho, não gostava nada de estar muito tempo ao meio. Ele é que me mandava parar. Eu costumava dizer que ele é que doseava o meu esforço…»

PUB

Hoje com 52 anos e afastado dos relvados desde 1997, quando se despediu do futebol ao serviço do Gondomar, joga entre amigos «para matar o bichinho» e divide-se entre os países que, no fundo, são os seus: «Moro em Portugal mas vou de dois em dois meses, praticamente, à Guiné. Tenho lá uma escola de futebol. Também é um forma de continuar a ter o futebol na minha vida.»

OUTROS DESTINOS:

1. Adbel Ghany, as memórias do Faraó de Aveiro 2. Careca, meio Eusébio meio Pelé 3. Kiki, o rapaz das tranças que o FC Porto raptou 4. Abazaj, o albanês que não aceita jantares5. Eskilsson, o rei leão de 88 é um ás no poker 6. Baltazar, o «pichichi» desviado do Atl. Madrid 7. Emerson, nem ele acreditava que jogava aquilo tudo 8. Mapuata, o Renault 9 e «o maior escândalo de 1987» 9. Cacioli, o Lombardo que adbicou da carreira para casar por amor 10. Lula, da desconhecida Famalicão às portas da seleção portuguesa 11. Samuel, a eterna esperança do Benfica 12. Lars Eriksson, o guarda-redes que sabe que não deu alegrias 13. Wando, um incompreendido 14. Doriva, as memórias do pontapé canhão das Antas 15. Elói, fotos em Faro e jantares em casa de Pinto da Costa 16. Dinis, o Sandokan de Aveiro17. Pedro Barny, do Boavistão e das camisolas esquisitas 18. Pingo, as saudades de um campeão do FC Porto 19. Taira, da persistência no Restelo à glória em Salamanca 20. Latapy, os penáltis com a Sampdória e as desculpas a Jokanovic 21. Marco Aurélio, memórias de quando Sousa Cintra se ria do FC Porto 22. Jorge Soares e um célebre golo de Jardel 23. Ivica Kralj e uma questão oftalmológica 24. N'Kama, o bombista zairense 25. Karoglan, em Portugal por causa da guerra 26. Ronaldo e o Benfica dos vinte reforços por época 27. Tuck, um coração entre dois emblemas 28. Tueba, ia para o Sporting, jogou no Benfica e está muito gordo 29. Krpan, o croata que não fazia amigos no FC Porto 30. Walter Paz, zero minutos no FC Porto 31. Radi, dos duelos com Maradona à pacatez de Chaves 32. Nelson Bertollazzi eliminou a Fiorentina e arrasou o dragão33. Mangonga matou o Benfica sem saber como34. Dino Furacão tirou um título ao Benfica e foi insultado por um taxista 35. António Carlos, o único a pôr Paulinho Santos no lugar 36. Valckx e do 3-6 que o «matou» 37. Ademir Alcântara: e a paz entre Benfica e FC Porto acabou 38. Chiquinho Conde, impedido de jogar no Benfica por Samora Machel 39. Bambo, das seleções jovens a designer de moda em Leeds 40. Iliev, sonhos na Luz desfeitos por Manuel José 41. Panduru, num Benfica onde era impossível jogar bem 42. Missé Missé, transformado em egoísta no Sporting 43. Edmilson: Amunike e Dani taparam-lhe entrada num grande 44. Jamir: «Gostava de ter dado mais ao Benfica» 45. Donizete continua um «benfiquista da porra»46. Leandro Machado: «Se fosse mais profissional...»

PUB

VÍDEO MAIS VISTO

Veja Mais

Últimas Notícias

APP MAISFUTEBOL

O MAISFUTEBOL na palma da sua mão!

Não falhe um golo, uma transferência ou uma notícia com a nossa aplicação GRATUITA para smartphone!