Victor Quintana: «Era tosco mas posso dizer que joguei no FC Porto»
Ano da graça de 2001, Octávio Machado viaja até ao Paraguai e descobre um médio... raçudo; assina por quatro temporadas, custa 2,5 milhões de euros e joga 70 minutos de dragão ao peito. Um homem tranquilo.
DESTINO: 00's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 00's.VICTOR QUINTANA: FC Porto (2001/02) e Moreirense (2004) Danilo Pereira voltou à competição, médio defensivo de excelência. Médio. Defensivo. Puxamos pela cabeça e pensamos em médios defensivos do FC Porto, de outros tempos. Médios para o DESTINOS.
Doriva, Paulinho Santos, até Chippo ou Emílio Peixe. Mas bom, bom era saber por onde anda Victor «El Animal» Quintana.
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Memórias do homem? Dificuldades a tocar a bola, algo desengonçado, um poço de força, muito faltoso. Fez só um jogo oficial de dragão ao peito, apesar de ter sido um pedido urgente de Octávio Machado.
A 27 de junho de 2001, o Maisfutebol traçava o perfil do internacional paraguaio. Ora veja bem:
«O novo dragão é um trinco implacável, que sabe defender como ninguém, sendo a sua principal arma a marcação ao adversário mais directo. É forte fisicamente (1,81 metros, 80 quilos) e também tem argumentos para jogar na antecipação, ou seja, nunca perde oportunidades para roubar bolas e desarmar o opositor. Mas a sua fama também o leva a ser um futebolista com argumentos interessantes em termos ofensivos. Sobe com a bola nos pés e tem um remate forte, à semelhança do seu compatriota.»
Hmmmm, pois. Se calhar também nos enganámos.
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Bem, e lá chegamos ao bom do Victor Quintana. Apanhámo-lo na sua quinta em San Juan Batista, interior do Paraguai, relativamente perto da capital do país. «El Animal» Quintana adora viajar, mas o que procura mesmo é a calma que só a sua propriedade e o ambiente familiar lhe dão. Um homem sereno.
Maisfutebol – Victor, como lhe corre a vida aí no Paraguai? Victor Quintana – Vivo no meio de vacas e perfumes (risos). Não me posso queixar. Mas sinto falta do futebol, claro. Peço desculpa pela minha voz, estou com gripe. Ainda nem saí da cama.
MF – Vacas e perfumes? Explique-nos lá isso.VQ – Tenho uma exploração agrícola na minha quinta, que se chama «El Animal» (risos). No Paraguai chamavam-me Animal quando eu jogava no Olimpia e foi fácil escolher agora o nome. Já possuo várias centenas de cabeças de gado.
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MF – E os perfumes?VQ – A minha esposa, Angela, tem uma boutique na cidade de San Juan Batista. O pior é quando chego lá a cheirar a vaqueiro (risos). Afasto a clientela toda.
MF – Aqui em Portugal também lhe chamavam Animal?VQ – Sim, no FC Porto sim. Por culpa do Carlitos Paredes. Ele era meu colega da seleção e contou ao pessoal todo do plantel quem eu era. Animal, Animal… mas eu gostava, dava para impor algum respeito.
MF – A sua vida não tem nada a ver com a de um futebolista profissional. A mudança foi difícil?VQ – Sempre adorei viver no campo. Quando era futebolista profissional, o meu grande objetivo era ganhar dinheiro para construir uma propriedade e ter sossego. Viver longe da confusão da cidade. Não sou rico, mas juntei alguma plata e fui capaz de criar este pequeno paraíso. Estamos a 160 quilómetros da capital do Paraguai, Assunção, onde só vou praticamente para ver o meu filho a jogar, embora tenha lá casa.
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MF – Como se chama o seu filho?VQ – Victor Sebastian Quintana. Tem 15 anos e é bastante melhor do que o pai. Joga nos juvenis do Olimpia. E tenho também duas meninas. Sabe, já quando jogava futebol não gostava muito das viagens constantes, de estar longe da família, de estar longe da natureza. Sou um homem de paz e tranquilidade, ao contrário da imagem que passava no relvado.
MF – E que imagem era essa, Victor?VQ – Bem, eu era um médio com força, um bocado descontrolado (risos). Corria muito, recuperava bolas atrás de bolas. Mas era fraco de pés. Como é que vocês dizem aí em Portugal?
MF – Tosco?VQ – Tosco, isso (risos). Era tosco, mas posso dizer aos meus filhos que joguei no grande FC Porto.
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MF – Falemos então do Quintana no FC Porto. Chegou em 2001. Foi mesmo uma exigência do treinador Octávio Machado, como se diz?VQ – O senhor Octávio falou comigo no Paraguai. Estava com o senhor Jorge Mendes. Disse-me que o Carlitos Paredes ia ser vendido e que eu tinha tudo para ser o substituto perfeito. Queria-me a jogar à frente da defesa, para limpar tudo. O FC Porto pagou 2,5 milhões de euros por mim ao Olimpia.
MF – Há alguma coisa que não bate certo. O Quintana chega ao Porto como pedido expresso do treinador e depois só faz um jogo…VQ – Cheguei ao Porto e fui viver para o Hotel Tivoli, na zona do Foco. Andava feliz e na pré-época treinei e joguei bem. Mas comecei a perceber que o Paredes não ia sair do FC Porto. E não saiu. Ou seja, limitei-me a ser suplente dele, do Costinha e do Soderstrom, um sueco.
MF – O treinador Octávio nunca lhe deu uma explicação? Afinal, o Quintana era uma escolha dele.VQ – Não lhe quero mentir, mas acho que nunca tive uma conversa com o senhor Octávio. Treinava e pronto. O meu feitio era especial, não gostava de confrontos, nem de chatices. O clube tratava-me bem, pagava-me bem, não havia nada a reclamar.
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MF – O Victor acaba por só jogar uma vez. Lembra-se desse jogo na Liga dos Campeões? VQ – Foi num estádio pequenino… na Irlanda?
VÍDEO: Victor Quintana (número 22) no único jogo pelo FC Porto:
MF – País de Gales. Casa do Barry Town. VQ – Isso, isso. Lembro-me que demos uma goleada nas Antas [8-0] e que o treinador mudou a equipa toda na segunda-mão. Perdemos o jogo e no final… bem, toda a gente aos gritos no balneário. Não foi bonito. Eu sentei-me e não disse nada, deixei-os falar.
MF – Assinou por quatro anos, mas só ficou meia época no plantel do FC Porto. VQ – Decidi voltar ao Olimpia a meio da temporada. Precisava de me sentir feliz dentro do campo. E depois ainda fui emprestado ao Cruzeiro e ganhei a Taça Libertadores.
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MF – Já não estava no FC Porto quando José Mourinho chegou? VQ – Não. Só o conheci uns meses mais tarde. Voltei ao Porto e fui falar com ele. Disse-me que o plantel já estava fechado e que me ia arranjar uma solução. É nessa altura que vou para o Cruzeiro. Gostava de ter sido treinado por ele, foi pena.
MF – O que fez nos restantes anos do contrato?VQ – Treinei muitas vezes com os juniores e ainda fui emprestado ao Moreirense. Estive lá um mês, mas não cheguei a assinar. O presidente veio ter comigo e disse-me que eu era um atleta demasiado caro. Voltei para trás, até rescindir com o FC Porto. Acho que em 2004 ou 2005.
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MF – Fala com serenidade sobre essa experiência negativa no FC Porto. Mas a verdade é que falhou o Mundial 2002…VQ - … Mas não foi por não jogar no FC Porto. Tive uma lesão no joelho e não recuperei a tempo. Isso sim, deixou-me abatido. O FC Porto, não. Se não tivesse sido jogador do FC Porto, se calhar não estava a falar consigo aqui na minha propriedade, o meu paraíso. Valeu a pena, não?
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Artigo original: 23h45
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