O dia em que o Grande Torino morreu num acidente de avião
Tragédia de Superga destroçou famílias, abalou uma cidade, matou um clube, devastou uma seleção e mudou por completo a história do campeonato italiano
Efeméride é uma rubrica que pretende fazer uma viagem no tempo por episódios marcantes ou curiosos da história do desporto, tenham acontecido há muito ou pouco tempo. Para acompanhar com regularidade, no Maisfutebol.
4 de maio de 1949. Nos céus de Itália, o avião Fiat-G212 da ALI enfrenta um temporal. A bordo, 31 pessoas. 18 jogadores daquela que é considerada na altura uma das melhores equipas da Europa, o Torino, equipa técnica, jornalistas e tripulação. Regressam de Lisboa, de um jogo amigável entre o colosso italiano e o Benfica. Um encontro de homenagem ao capitão encarnado Ferreira.
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Nuvens negras, trovoada, chuva e vento forte começaram a aparecer na rota do voo já no Mediterrâneo, após a escala técnica feita em Barcelona. Ainda foi ponderada a alteração do destino para Milão, mas depois a rota é mantida. O tempo ia piorando consoante a aeronave avançava. Um manto espesso de neblina cobria a região de Turim.
O voo tem aterragem prevista para as 17:00 e, já nos arredores da cidade, o piloto, com vasta experiência de voo, muita adquirida na II Guerra Mundial, foi contactado pela torre de controlo. «Estamos perto. Mais 20 minutos e chegamos», começa por dizer. «Estamos debaixo das nuvens. Faz-me um café para quando chegar», pediu ao companheiro que estava em terra.
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Uma explosão mata as 31 pessoas a bordo. Mas faz mais do que isso. Destroça famílias, abala uma cidade, mata um clube, devasta uma seleção e muda por completo a história do campeonato italiano.
Na década de 40, o Torino dominou o futebol italiano. A equipa de Turim sagrou-se campeã nacional por cinco vezes, a última delas em 1949, um título póstumo pelos jogadores que perderam a vida em Superga.
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Na época 42/43, o Torino ganhou a Taça e o Campeonato, consagrando-se como a primeira equipa a conseguir ganhar os dois títulos na mesma temporada. Em 47/48 mais recordes: Número de golos marcados – 125 - e maiores goleadas, seja em casa, 10-0 com o Alexandria ou fora, 7-0 com a Roma.
A força do Torino era tal que, no final da década de 40, 10 dos 11 títulares da Squadra Azzurra eram jogadores da formação grená.
E todo este sucesso surge num contexto histórico muito complicado. A Itália tinha saído derrotada da II Guerra Mundial. Depois dos bombardeamentos que tinham devastado cidades, veio a pobreza, a fome, num país semi-destruído. O futebol cumpria aí um duplo papel importante. Por um lado, distraía um pouco a população das agruras da vida, por outro, os sucessos da seleção e de alguns clubes, como o Torino, eram o símbolo daquilo que a força e a união do povo poderiam fazer.
O futebol do Torino era, além disso, apaixonante. Comandada por Valentino Mazzolla, a equipa, que jogava ao ataque, ao contrário da maioria das equipas italianas de então, encantava o mundo e fascinava os adeptos.
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Quando jogava em casa, o Torino tinha um período de ataque avassalador que passou a ser conhecido como «os 15 minutos do [estádio] Filadélfia». Precisamente aos 15 minutos, o célebre trompetista Oreste Bolmida tocava nas bancadas o toque de assalto da cavalaria. O capitão Mazzolla levantava o braço para os colegas e dava o sinal. Até à meia-hora de jogo a equipa imprimia a máxima velocidade, asfixiando o rival dentro da sua área. Era o período do jogo por excelência, dos golos e do espetáculo.
Dizia-se na imprensa italiana da época que nenhuma equipa do mundo era capaz de sobreviver a esse quarto de hora, um período de tempo em que as bancadas de pedra tremiam. Depois de Superga, passou a dizer-se que só o céu conseguiu dominar os heróis do Grande Torino. Bacigalupo, Ballarin, Maroso, Grezar, Rigamonti, Castigliano, Menti, Loik, Gabetto, Ossola, Mazzola... eram sinónimo de uma equipa avassaladora, e levaram para a seleção a mesma filosofia que tinham no clube.
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A 27 de fevereiro de 1949, a seleção italiana, com seis jogadores do Torino no onze, goleou a portuguesa, em Génova (4-1). O capitão de Portugal era Francisco Ferreira, o de Itália, Valentino Mazzola. Dos contactos que mantiveram antes e depois do jogo nasceu uma relação de respeito e amizade.
Em maio, Francisco Ferreira iria ser alvo de um jogo de homenagem por parte do seu clube, o Benfica. O Torino era o adversário ideal. Entre avanços e recuos, motivados pelo facto de o título italiano estar em fase decisiva, o presidente do clube italiano concorda com a data de 3 de maio.
A 1 de maio, 24 horas depois de um empate com o Inter que lhe deixa as portas do pentacampeonato escancaradas, o Torino, aterra em Lisboa. Sauro Tomá, a contas com uma lesão no joelho, que lhe atrapalhou a carreira posteriormente, não viajou. Apesar de gripado, Valentino Mazzolla, insistiu em viajar.
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Dois dias mais tarde, perante 40 mil espectadores, as equipas protagonizam um grande jogo no Jamor, com vitória do Benfica por 4-3. Em seguida, confraternizam no Parque Mayer. Ferreira convida Mazzolla a ficar mais uns dias em Lisboa, mas este declina e resolve regressar com a equipa naquele 4 de maio.
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