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«Em 2006 fui a Nuremberga levar pastéis de nata à seleção nacional»

O Maisfutebol assistiu ao jogo de Portugal contra a República da Irlanda na Associação Portuguesa de Gütersloh, que fica a 12 quilómetros de Marienfeld e mergulhou em memórias do Mundial 2006. Por momentos esquecemo-nos que estamos bem longe de casa.

Enviado especial ao Euro 2024

Depois de cerca de 20 minutos de viagem, o relógio marca 19h02 quando o Maisfutebol chega à Associação Portuguesa de Gütersloh.O presidente da instituição, Júlio Romano, aguarda à porta para nos receber. Mesmo a milhares de quilómetros da pátria, esta continua a ser uma casa portuguesa. Somos, portanto, recebidos de braços abertos. A conversa flui naturalmente e Jorge Figueiredo faz de anfitrião enquanto Júlio pede licença para se afastar e conversar com outros colegas jornalistas. Radicado na Alemanha desde 1977, este empresário português faz as honras da casa e guia-nos pelo espaço. Rapidamente, embarcamos numa viagem ao passado e recuamos até 2006 e o Campeonato Mundial realizado na Alemanha torna-se paragem obrigatória.  

Na Associação Portuguesa de Gütersloh estão expostos objetos que recordam a estadia de Portugal em Marienfeld durante o Euro 2006.

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Depois da zona de refeição, onde já há um ecrã televisão para assistir ao Portugal-República da Irlanda, Júlio abre a porta da sala contígua e mostra-nos um pequeno 'santuário' dedicado à seleção. São pedaços de história que não deixam esquecer a forma como a comunidade de Gütersloh viveu a estadia de Portugal em Marienfeld. Memórias de um mês que esta gente não esquece. Um álbum de fotografias, camisolas da seleção nacional e bolas autografadas pelos jogadores são expostas orgulhosamente numa vitrine. Pedimos para ver o álbum e Júlio acede ao nosso pedido. Folheamos as páginas e vemos fotografias de Scolari assim como de outros jogadores com membros da associação portuguesa: de Figo a Ronaldo, figuras do passado e do presente.

«Olhe, por acaso estou aqui», aponta Jorge para uma fotografia afixada na parede.  

O álbum de fotografias de alguns momentos do Mundial 2006 oferecido pela autarquia de Gütersloh à Associação Portuguesa.

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Vemos uma equipa de futebol da década de 80 que existia nos primórdios da fundação criada por um padre alemão e um português, em setembro de 1971. Feita a visita, avançamos para a entrada do local onde surge Anabela Lopes, vice-presidente da Associação e residente na Alemanha desde 1972.«Em 2006 fui ver a chegada da seleção e vieram-me as lágrimas aos olhos» Enquanto fuma um pensativo cigarro, Anabela explica que a visita à Associação se deve ao jogo de Portugal.

«Sabe, gosto de ver a seleção com o resto dos portugueses. Se estivesse sozinha em casa, não iria ver», confessa. À semelhança de outros testemunhos, a portuguesa que está a dois dias de celebrar o 60.º aniversário conforme faz questão de frisar, rememora a última presença de Portugal em Marienfeld.

«É muito bom termos cá a seleção. Em 2006 fui ver a chegada da seleção ao hotel e deram-me os calores, vieram-me as lágrimas aos olhos. No fundo, nós não somos de lado nenhum», diz num português que parece a cada dia que passa deixar de ser a língua mãe.

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Anabela deixa-nos com a justificação de ter de ajudar Maria de Lurdes, a esposa do presidente da associação que é responsável pelo jantar esta noite. Jorge Figueiredo aproveita a saída da compatriota e volta a fazer conversa.

«Tenho uma empresa chamada ‘Mercado da Saudade’ que trata de tudo o que é português para aqui. Em 2006 fiz amizade com o cozinheiro da seleção nacional que era o Hélio Loureiro e ele pediu-me para levar pastéis de nata para os jogadores. Dias depois da passagem de Portugal aos quartos de final [defrontou os Países Baixos], ele voltou a pedir-me pastéis de nata porque tinham dado sorte a Portugal. O problema é que Portugal já estava em Nuremberga [a 5 horas de viagem] quando ele me ligou… O Hélio ofereceu-me duas entradas para o jogo e lá fui eu», partilha. A conta-gotas, o espaço começa a ficar preenchido. Miguel Pereira, de 28 anos, cumprimenta-nos e introduz conversa a perguntar de onde somos. Ele é natural do Porto e confesso leitor do nosso jornal. Sorrimos e a conversa desenrola-se. «Tinha três meses quando os meus pais decidiram vir para a Alemanha. O facto de os irmãos e dos pais do meu pai já cá estarem acabou por ajudar à decisão de emigrar», justifica num português razoável. Júlio Romano surge e sugere que nos acomodemos no interior, visto que o jogo está quase a arrancar. A sala está preenchida e carregada de entusiasmo, escutam-se gritos de «Siuuu» ainda nem a bola começou a rolar. Junto ao balcão, vários jovens com a camisola da «equipa das quinas» petiscam e bebem cerveja nacional sem tirar os olhos da televisão que transmite o jogo. Numa mesa mais recatada está sentado Manuel Peixoto, de 68 anos, com a esposa.

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«Estamos há 36 anos na Alemanha e vamos ficar aqui até ao nosso fim. Criámos aqui os nossos filhos: um deles é casado com uma alemã e o outro com uma polaca. Ambas já falam um bocadinho de português», atira o bracarense, entre risos. Com orgulho, Manuel Peixoto exibe o bombo das Lavradeiras de Gütersloh, grupo de rancho folclórico. «Fundei o grupo há 21 anos porque queria trazer algo da nossa cultura para cá. Quando cheguei não havia nada. Houve muitas complicações pelo caminho, cheguei a comprar roupas do meu próprio bolso, mas acabou por resultar», relembra.  

O bombo de Manuel Peixoto, membro da Associação Portuguesa de Gütersloh.

Portugal marca e celebra-se o golo como se um jogo oficial se tratasse. «Portugal! Portugal! Portugal!», grita-se e trocam-se cumprimentos. A alegria invade a sala e o entusiasmo aumenta. Pouco depois, Cristiano Ronaldo conquista um livre à entrada da área. Batem-se palmas a compasso e chega a gritar-se golo, mas o remate do português esbarra no poste. Debandada ao intervalo. O tema da conversa no exterior é sobre o desempenho da seleção portuguesa enquanto cigarros são fumados. A segunda parte começa praticamente com o golo de Portugal, anotado por Ronaldo. «Siuuu» ecoa pela sala ao mesmo tempo que Manuel Peixoto dá uso ao bombo. A festa está no auge. «Portugal é nosso! Portugal é nosso e há de ser!», canta-se repetidamente. Já ninguém silencia Manuel e o seu bombo. A cada aproximação de Portugal à área da República da Irlanda ouve-se o som do bombo. Após lances perto da área contrária, Cristiano Ronaldo bisa e já ninguém contém um novo «Siiiiuuuu». Há aplausos e cumprimentos são trocados. Há até quem elogie Cristiano Ronaldo, o favorito da maioria dos presentes. «És o maior», grita um português encostado ao balcão que entrou já quando o jogo decorria. À medida que o jogo caminha para o final, os pratos são recolhidos das mesas, os cafés são servidos, mas o clima celebração não se esfuma. «Cada jogo de Portugal é uma festa», esclarece Anabela como se ainda não tivéssemos percebido. O árbitro apito para o final e lentamente o espaço começa a esvaziar. Júlio Romano, Maria de Lurdes e Anabela estão atrás do balcão porque há muito para arrumar. O tempo urge, quarta-feira o dia de trabalho começa bem cedo. Agradecemos a forma como fomos acolhidos e dirigimo-nos para o exterior. «Até quinta», gritam-nos quando já estamos perto da saída. Quinta-feira todos estarão à porta do hotel como não poderia deixar de ser.

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