Fonseca admirava a tática de Jesus mas não queria ser como ele
«A relação com os jogadores pode comparar-se aos Navy Seals», diz Nuno Marques
Paulo Fonseca foi treinado por Jorge Jesus na temporada 2002/03. Nesta altura, a poucos dias do clássico, a história é recordada com natural curiosidade. Sobram pormenores deliciosos nos meses de convivência no Estrela da Amadora.
Em entrevista ao Maisfutebol, a 10 de junho do ano passado, o atual treinador do FC Porto não escondeu a sua admiração pelo adversário deste domingo. «Dos meus treinadores, o melhor na abordagem tática foi o Jorge Jesus. Era extraordinário nisso.»
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De qualquer forma, as personalidades são bastante distintas e Paulo Fonseca percebeu deste cedo que não seria um técnico igual a Jorge Jesus. «Têm personalidades muito diferentes, mas isso também serve para provar que, desde que o trabalho seja bom, há várias formas de chegar ao sucesso», diz Miran.
«Lembro-me que estar a falar com o Fonseca e ele dizer-me: 'gosto muito do trabalho dele, estou identificado com o espírito mas a minha abordagem vai ser diferente'», revela o avançado de 38 anos.
«Estávamos na II Liga e o Jesus fez-nos uma verdadeira lavagem cerebral. Dizia-nos que éramos o grande, o Benfica, o Porto ou o Sporting, naquela prova. Que toda a gente nos temia. E isso funcionava, ficávamos mentalmente fortes. O Jorge Jesus era bastante explosivo, enquanto o Paulo era mais ponderado»
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Miran, que está agora no Luxemburgo, comprovou isso mesmo anos mais tarde. O avançado reencontrou Fonseca no Pinhalnovense, passando a ser orientado pelo antigo companheiro de equipa. Curiosamente, na época (2010/11) em que a equipa da II Divisão deu boa conta de si numa visita ao FC Porto de Villas-Boas para a Taça de Portugal.
«Como ele dizia nesse ano, acabou por ser um treinador que se impõe com mais calma, com mais naturalidade. Sabe exercer a sua autoridade, sem ser enérgico como Jorge Jesus. Mas atenção, isso não é uma crítica.»
Richard Miranda Garcia, conhecido como Miran no futebol português, conclui o seu raciocínio em entrevista ao Maisfutebol: «Têm personalidades opostas mas sabem muito de futebol. Cada um consegue, à sua maneira, conquistar os jogadores.»
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A confiança de Jorge Jesus em Paulo Fonseca era inequívoca. Fonseca, «um grande profissional, muito divertido e inteligente», chegou a ser adaptado pelo treinador do Estrela da Amadora a uma posição original.
«O Fonseca era central, como sabem, mas o Jorge Jesus chegou a utilizá-lo em alguns jogos do lado esquerdo. Como o Fonseca era inteligente, sabia ler o jogo e antecipar-se, fechava o flanco e depois servia quase como terceiro central. Jesus também gostava de uma defesa mais alta», recorda. O atual treinador do Benfica mantém a política.
O Estrela da Amadora fez uma aposta forte no regresso ao escalão principal mas Jorge Jesus não viria a concluir a temporada. Seria João Alves a completar o percurso, levando os tricolores ao terceiro lugar, o último de acesso à Liga.
Na época seguinte (2003/04), Jesus assumiu o V. Guimarães e foi mais feliz que o Estrela. Aliás, bateu a equipa de Fonseca na penúltima jornada, empurrando os homens da Amadora, de novo, para o segundo escalão.
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Treinador do FC Porto já marcou no Estádio da Luz
Paulo Fonseca procura o primeiro triunfo frente a Jorge Jesus em duelos entre treinadores. Como jogador, chegou a bater o rival deste domingo. De qualquer forma, a maior curiosidade reside em torno de um golo pouco habitual.
Com 23 anos, o central Fonseca festejou pela primeira vez na Liga portuguesa. Na altura, representava o Belenenses e fez a sua estreia a marcar – imagine-se – em pleno Estádio da Luz.
A 25 de janeiro de 1997, na última jornada da primeira volta, o Benfica foi surpreendido em casa pela formação do Restelo (1-2). Fonseca lançou as bases com um cabeceamento bem medido, Jorge Bermudez fez o segundo pouco depois, com um golo na própria baliza, e a resposta de Bruno Caires acabou por ser demasiado curta.
Paulo Fonseca regressa à Luz com essa imagem na cabeça. 17 anos mais tarde, procura um desfecho semelhante. Pela frente terá Jorge Jesus, com quem aprendeu bastante. Duas «personalidades opostas», duas formas de comunicar com o grupo. Vias distintas para o mesmo desejo de sucesso.
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