«Sinto-me qatari, gay, deficiente, sinto-me um trabalhador migrante»
Gianni Infantino acusa a Europa de «hipocrisia» com o Qatar
Na véspera do arranque do Mundial do Qatar, o presidente da FIFA, Gianni Infantino, veio a público defender o país organizador de todas as acusações que lhe têm sido feitas, num discurso que vai dar muito que falar nas próximas semanas.
Após ter apresentado a recandidatura para um novo mandato no organismo que gere o futebol mundial, o italiano disse que «as lições de moral» do ocidente e da Europa em particular, são «pura hipocrisia».
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«Depois do que fizemos nos últimos 3.000 anos, nós europeus devíamos pedir desculpa pelos próximos 3.000 anos, antes de começar a dar lições de moral a alguém», introduziu, numa conferência de imprensa em Doha.
Num discurso de cerca de uma hora, Infantino mostrou-se por isso solidário com o Qatar.
«Hoje sinto-me qatari. Sinto-me árabe. Sinto-me africano. Sinto-me gay. Sinto-me deficiente. Hoje, sinto-me como um trabalhador migrante», continuou, explicando a solidariedade com a sua experiência pessoal.
«Claro que não sou qatari, não sou árabe, africano, não sou gay nem deficiente. Mas sinto-me como se fosse. Porque eu sei o que é ser discriminado e vítima de bullying por ser estrangeiro noutro país. Em criança também fui gozado por ser ruivo e ter sardas. E era italiano, por isso imaginem», acrescentou, dando a receita de como agir perante isso.
«O que fazes, então? Tentas integrar-te, fazer amigos. Evitas apontar o dedo, lutar, insultar e tentas só integrar-te. É isso que devemos fazer.»
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Sublinhando acreditar que o Qatar «está pronto para organizar o melhor Mundial de sempre», Infantino pediu para a Europa seguir o exemplo do Qatar.
«Se a Europa estivesse mesmo preocupada com o destino destes jovens [trabalhadores migrantes], devia fazer o mesmo que o Qatar fez: criar canais legais para que pelo menos uma pequena percentagem desses trabalhadores possa ter uma oportunidade. Baixos salários… mas deem-lhes alguma esperança, algum futuro», desejou.
O presidente da FIFA admitiu, porém, que nem tudo está bem no Emirado, mas preferiu destacar «os progressos feitos desde 2016».
«Isto não quer dizer que não devemos apontar o que não funciona aqui no Qatar, claro que há coisas que não funcionam bem e têm de ser resolvidas», rematou.