Equador: a segunda oportunidade, depois da dor da perda
Tentar imitar 2006, o objetivo da seleção que há um ano chorou a morte de uma das suas referências, Christian Benítez
A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:
Autores dos textos: Juan Fernando Guerrero, Alberto Guaranda, Mayra BayasParceiro oficial no Equador: EcuagoalRevisão: Berta Rodrigues
PUB
Reinaldo Rueda tem uma missão para este Campeonato do Mundo e é uma missão muito difícil. Depois de cair na fase de grupos quando era selecionador das Honduras na África do Sul, em 2010, o treinador tem uma segunda oportunidade de se tornar uma das surpresas.
PUB
PUB
PUB
Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?
Definitivamente, Enner Valencia. O avançado tornou-se uma figura crucial nos últimos meses e é o melhor marcador fora do Equador, depois de as suas boas exibições no Emelec terem aberto caminho para que assinasse pelo Pachuca. No primeiro ano, marcou 12 golos pelo clube mexicano. A sua velocidade é chave nos duelos com os defesas. Depois de uma época tão boa no México um bom Campeonato do Mundo pode catapultá-lo para uma liga mais competitiva. Depois deste Mundial pode valer bem mais do que os cinco milhões de dólares (3,6 milhões de euros) que o Pachuca pagou por ele no início deste ano.
E que jogador pode ser uma desilusão?
Felipe Caicedo. Se o Equador conseguir bons resultados passará despercebido, mas uma eliminação prematura pode levar a que de alguma forma o responsabilizem. As suas exibições com o Equador têm perdido qualidade e a mudança para o Al-Jazira gerou reações negativas na imprensa, dado o nível de competição do campeonato dos Emiratos Árabes Unidos.
PUB
Qual é a expectativa realista para a seleção no Mundial?Passar a fase de grupos. O primeiro jogo frente à Suíça vai determinar se o Equador tem o potencial para lutar por um lugar. Uma vitória frente a um dos mais fortes rivais europeus garantirá a vantagem necessária para procurar o apuramento direto frente às Honduras na segunda jornada. Chegar ao último jogo com a França a precisar ainda de pontos não é o cenário ideal.
A equipa agora liderada por Rueda tem a experiência da Alemanha em 2006, quando derrotou a Polónia no primeiro jogo e venceu a Costa Rica no segundo, o que significou que puderam dar-se ao luxo de perder com a Alemanha no último jogo do grupo e chegar aos oitavos de final, onde perderam por pouco frente à Inglaterra, com um golo de David Beckham.
Curiosidades e segredos da seleçãoFidel Martínez Joga atualmente pelo Xolos Tijuana, no México, mas começou a carreira na sua província natal de Sucumbios, que é a mesma de Antonio Valencia. Martínez começou por ser chamado para a seleção sub-20 nos Jogos Pan-Americanos e as suas exibições despertaram a atenção do Cruzeiro, que o levou para o Brasil em 2007. No entanto, não se adaptou e regressou a casa, para jogar pelo Deportivo Quito, onde se tornou estrela e melhor marcador. Por causa do corte de cabelo, Martínez é conhecido como o «Neymar do Equador». Gosta de pintar o cabelo de cores diferentes e de formas vistosas. Outra curiosidade sobre este jogador: esperem movimentos de hip-hop, talvez até rap, nas suas celebrações de golo. Uma vez até levou um computador para o campo para festejar. É um dos jogadores favoritos dos adeptos, talvez porque nas férias nunca deixa de ir ao Equador e comprar milhares de brinquedos para dar a crianças da sua terra natal.
PUB
Enner ValenciaO jogador do Pachuca, do México, teve de superar muitas dificuldades para chegar aqui. Antes da sua afirmação como futebolista profissional no Emelec, Valencia tinha dificuldades até para comprar um par de botas. Em criança, ordenhava vacas e ia vender o leite junto com a família. Acabou por conseguir juntar dinheiro suficiente para comprar as suas próprias botas. Agora é um jogador de primeiro plano no clube e no país e recebe tantos pares de botas que não sabe o que fazer com elas.
Jefferson MonteroO jogador do Morelia, no México, também tem origens muito humildes. Em criança, quando crescia em Babahoyo, na província de Los Ríos, a família passou a chamar-lhe «Yepe», porque ele não conseguia dizer o seu nome. A sua mãe, Mercedes Vite, tinha pouco dinheiro e costumava lavar roupa da vizinhança para ganhar algum dinheiro, enquanto o pai, Antonio, recorria a empréstimos na quinta onde trabalhava. Montero começou a guardar dinheiro num porquinho-mealheiro, até que a família se mudou para outra cidade, onde ele acabou por chamar a atenção do Emelec, um dos principais clubes no Equador.
PUB
Christian NoboaO jogador de 29 anos joga atualmente pelo Dínamo Moscovo, na Rússia, mas a sua carreira começou no Emelec. No início Noboa não tinha lugar na equipa, via a maior parte dos jogos a partir do banco e chegou a estar perto de sair do clube para jogar na Serie B, em Itália. No entanto, bastou uma oportunidade para jogar de início e rapidamente ganhou a confiança do treinador. EM dezembro de 2006 foi chamado à seleção do Equador para um particular na Rússia. Poucos dias antes tinha recebido uma chamada do treinador do Rubin Kazan, que lhe disse que estava no Equador com a intenção de comprar Christian Benítez, mas que tudo tinha mudado quando viu Noboa jogar. Por isso marcou uma reunião na Rússia e, quando chegou para o particular, uma senhora russa acompanhou Noboa à reunião. Noboa contou que estava um pouco assustado na altura, mas um representante do Rubin apresentou-lhe um contrato e ele não hesitou em aceitá-lo e assinar. Apenas três dias mais tarde estava na Rússia para o estágio de Primavera. Depois de vários anos no Rubin, transferiu-se para o Dínamo Moscovo, onde se tornou um dos jogadores de referência. Noboa acredita que deve a sua longa carreira na Rússia ao facto de ter casado com uma mulher russa, com quem tem dois filhos. Uma enorme diferença em relação ao primeiro dia em que pisou solo russo, quando brincou e até comeu neve, acabando de cama uma semana com gripe.
PUB
A lágrima tatuada sob o olho esquerdo reflete algumas dificuldades por que Felipe Salvador Caicedo Corozo passou durante a sua vida, principalmente na juventude; mas ele também diz que, quando se vê ao espelho, ela não o deixa esquecer-se de onde veio.
PUB
PUB
No Levante tornou-se um ídolo dos adeptos e uma estrela da equipa, ganhando também um prémio de melhor estreante na Liga espanhola. Apesar disso, o Levante não podia pagar ao Manchester City o preço de uma transferência definitiva e em vez disso voltou a mudar, agora para o Lokomotiv Moscovo. Depois de duas épocas na Rússia, onde marcou 11 golos em 52 jogos, o muito viajado avançado de 25 anos joga agora no Al Jazira, nos Emiratos Árabes Unidos.
Quanto à seleção, Caicedo estreou-se em 2005 num particular frente à Itália, quando tinha apenas 16 anos. Quatro anos mais tarde deu nas vistas na Copa América na Argentina, onde marcou dois golos em três jogos. Mas depois disso esteve ausente da Tri por um ano.
PUB
O motivo para a ausência foi uma alegada má relação com o treinador, Reinaldo Rueda, que sentia que Caicedo prejudicava o bom ambiente da equipa. No entanto, algumas boas exibições de Caicedo no Lokomotiv levaram os adeptos a pedir o seu regresso. Acabou por ser chamado para jogar a qualificação para o Brasil. Foi uma decisão que valeu a pena, porque Caicedo foi o melhor marcador do Equador, com sete golos.
Caicedo nunca se esquece de onde nasceu e foi por isso que criou uma fundação chamada «Felipao» que ajuda as crianças de Guayaquil, especialmente no seu antigo bairro. Quando visita a sua terra é visto com frequência em eventos de beneficência.
É adepto do Barcelona SC, um dos principais clubes do Equador, e já disse várias vezes que o seu sonho é vir um dia a jogar pelo «ídolo do Equador». Mas também é um empreendedor, que lançou recentemente a sua própria marca de roupa, chamada «Felipao», e recorre frequentemente aos companheiros de equipa como modelos.
Caicedo já admitiu que o seu filme favorito é a série Rocky, que revê antes dos jogos, porque o inspiram. Não a ser agressivo no campo, garante, ele que prefere concentrar-se no que faz melhor: golos.
No Brasil, Felipe Caicedo vai jogar o seu primeiro Mundial e a falta de avançados, depois da morte de Christian «Chucho» Benítez, significa que vai liderar o ataque da Tri – e desejavelmente marcar os golos que possam ajudar o Equador a fazer história.
PUB