Botafogo do céu ao inferno: a cronologia de um título perdido
Equipa do Rio de Janeiro protagonizou a melhor primeira volta de sempre do Brasileirão, mas desperdiçou uma vantagem de 13 pontos e disse adeus ao título. Começou com Luís Castro ao leme, teve dois interinos e ainda Bruno Lage, antes de chegar Tiago Nunes para encerrar o ciclo negro
O Botafogo disse adeus, este domingo, ao sonho de ser campeão brasileiro.
Um sonho que, em determinada altura, pareceu estar ali tão perto, até que o título escapou completamente das mãos. Agora, Abel Ferreira, líder de uma equipa com um estofo completamente diferente, está prestes a abrir o champanhe.
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Foi uma primeira volta fantástica. Com Luís Castro no comando pela segunda temporada consecutiva, houve jogadores a apresentaram-se na melhor forma da carreira – Tiquinho Soares à cabeça – uma ideia de jogo sólida e organizada, que, mesmo sem brilhantismo, era capaz de ganhar jogos. A eficácia estava no pico e a solidez defensiva roçava a perfeição.
A equipa era mesmo pensada desde trás. Lucas Perri, depois de um ano no banco, ganhou o lugar a Gatito Fernández e foi até convocado para a seleção brasileira. Adryelson e Víctor Cuesta eram inultrapassáveis no eixo da defesa, Marçal acrescentou experiência, Tchê Tchê suportou o meio-campo, que viu por lá passar velhos conhecidos do futebol português, e, na frente, a velocidade de Júnior Santos e Victor Sá aliava-se à capacidade de trabalho e ao faro goleador mais oleado do que nunca de Tiquinho.
Mas o comandante optou por deixar o barco e, ainda que a vaga tivesse sido bem colmatada num primeiro momento, o barco afundou-se. Ainda se tentou replicar a fórmula com outro treinador português, contudo, houve pouca paciência e a equipa chegou a um ponto sem retorno.
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O Botafogo chegou a ter a maior vantagem de sempre a meio do Brasileirão, mas seguiu-se um registo de 17 pontos na segunda volta, dignos de uma equipa que luta para não descer.
Fica para a história a hecatombe de contornos cinematográficos e a possibilidade (haverá outra igual?) de conquistar o segundo campeonato brasileiro do palmarés.
Depois de uma temporada culminada com um lugar a meio da tabela (11.º) e a qualificação para a Taça Sul-Americana, o Botafogo até nem começou propriamente bem a nova época, ao falhar a qualificação para a fase final do Carioca. Ainda assim, a equipa conquistou a Taça Rio.
Logo de seguida, veio o início do Brasileirão e o arranque foi melhor do que o esperado. A equipa venceu as cinco primeiras jornadas, tendo caído apenas em casa do Goiás, na sexta ronda. Esse desaire deixou marcas e, no jogo a seguir, o Botafogo foi eliminado da Taça do Brasil pelo Athletico Paranaense. No campeonato, seguiram-se duas vitórias, antes de novo desaire, precisamente diante do Athletico.
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A partir daí, a euforia subiu de tom. Foram 12 jornadas consecutivas sem perder, com nove vitórias e três empates pelo meio. Em todas as competições, de junho a agosto, foram 19 jogos sem conhecer o sabor da derrota e com uma segurança defensiva de saltar à vista. Neste período, foram apenas quatro golos consentidos para o campeonato.
Mas, apesar dos resultados, esta fase foi marcada pelo que se passou fora das quatro linhas.
Após muitos avanços e recuos, Luís Castro foi finalmente seduzido pela proposta do Al Nassr e decidiu deixar o projeto brasileiro para embarcar na aventura saudita. Seguiu-se muita contestação ao treinador português, visto como ingrato pela massa adepta de Fogão, que não conseguiu entender como é que os milhões sauditas e o projeto apresentado pela equipa de Cristiano Ronaldo poderiam sobrepor-se à oportunidade de conquistar o Brasileirão.
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Sem Luís Castro, John Textor recrutou um adjunto brasileiro no Lyon, clube do qual também é proprietário, para segurar as pontas, enquanto o Botafogo iniciava a procura por um novo treinador. E a escolha não podia ter sido mais acertada. Cláudio Caçapa orientou a equipa durante quatro jogos, teve cem por cento de aproveitamento e saiu para dar lugar a Bruno Lage.
8 julho - Bruno Lage é o escolhido por TextorTextor apostava em replicar a fórmula do sucesso e Bruno Lage é apresentado para levar a equipa ao título. O português estreia-se 11 dias depois na Taça Sul Americana.
«O Botafogo está no caminho certo, ainda faltam muitas jornadas, mas está no caminho certo. Se continuar desta forma o trabalho, é lógico que temos de começar a pensar no título. Vamos lutar lá em cima, isso é certo. Ainda é cedo para falar em ser campeão, mas já "tá" dando um cheirinho, sim», Cláudio Caçapa.
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O goleador caiu e a equipa não se soube levantar. Autor de 13 golos na primeira volta, Tiquinho sofreu uma lesão no joelho e desfalcou a equipa durante quase o mês. Quando voltou, já tinha a concorrência de Diego Costa, mas o ex-FC Porto já não era o mesmo. E os restantes colegas também não.
13 agosto - O fim de uma primeira volta excecionalO Botafogo abre uma vantagem de 13 pontos na liderança, à 19.ª jornada, a meio do Brasileirão, com um triunfo sobre o Internacional, no Nilton Santos. Estava feita história. Nunca uma equipa tinha feito uma primeira volta ao nível daquela no Brasileirão.
30 agosto - O início do fim para Bruno LageA equipa seguia confortável no primeiro posto, mas Bruno Lage não era consensual entre os adeptos. E a eliminação da Taça Sul-Americana, em casa do Defensa y Justicia, aumentou a desconfiança.
A equipa também baixou o rendimento e seguiram-se três derrotas consecutivas no campeonato. Depois, veio um empate com o Goiás – à época, de Armando Evangelista – e foi o fim de ciclo para Lage.
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Deixar Tiquinho Soares, a grande figura da temporada da equipa, no banco, também não caiu bem no seio dos adeptos, da direção, mas, sobretudo, no balneário.
Três meses depois, com cinco vitórias em 16 jogos, Bruno Lage deixa o Botafogo, que ainda assim continuava na frente do Brasileirão com sete pontos de vantagem para o RB Bragantino, de Pedro Caixinha.
Foi então que Lúcio Flávio pegou na equipa. Mas, desta vez, a opção de Textor saiu ao lado. Flávio dirigiu pela primeira vez a equipa no Brasileirão à 26.ª jornada, somou duas vitórias consecutivas, mas depois veio o descalabro.
Foram seis jogos sem vencer, com quatro derrotas pelo meio, muitas delas quase injustificáveis e precisamente em jogos «proibidos», frente ao rival.
2 novembro - Os "murros no estômago" com resutados inexplicáveisPUB
Com uma primeira parte fulminante, o Botafogo foi para o intervalo a vencer o Palmeiras por 3-0 e pairava no ar a sensação de que o Fogão da primeira volta estava de volta. Mas a equipa do Rio consentiu quatro golos ao conjunto de Abel Ferreira numa segunda parte fantástica do Palmeiras e de total apatia do líder.
Mas o pior ainda estava para vir. Depois da derrota com o Vasco, o Botafogo voltou a sofrer uma reviravolta impressionante, desta feita diante do Grémio, que à altura ainda lutava pelo título, deixando escapar uma vantagem de 3-1.
E se já era mau… De seguida, veio o duelo com o RB Bragantino. O Botafogo começou a perder, mas conseguiu dar a volta ao resultado. Porém, sofreu o empate nos descontos e foi de novo ao chão, sem nunca mais se ter conseguido levantar.
16 novembro - Tiago Nunes não consegue evitar a descalabroTextor decide agir na esperança de ainda evitar o pesadelo. Tiago Nunes, que estava pensado como o próximo treinador, embarca mais cedo no Rio de Janeiro para assumir a equipa. Mas a estreia foi logo assombrada.
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O Botafogo visitou o Fortaleza num jogo em atraso, empatou e perdeu a vantagem na liderança, tendo deixado de depender apenas de si para ser campeão. E, nesta altura, perante a apatia da equipa, talvez nem o adepto mais entusiasta ainda sonhasse com o título.
Seguiram-se dois empates com contornos de filme. O primeiro, com o Santos, com um golo em cima do minuto 90, e o segundo, em casa do Coritiba, onde após um golo marcado nos descontos, o Botafogo ainda foi a tempo de sofrer o empate.
3 dezembro - A confirmação do adeus ao títuloNum Nilton Santos despido e em tom de depressão, o Botafogo empatou com o Cruzeiro e disse adeus ao título. Ninguém escapou aos assobios e críticas aos adeptos, que nas últimas semanas assistiram a uma equipa esgotada, sem ideias, sem paixão e, sobretudo, com uma enorme falta de crença.
7 dezembro - Sair de cabeça levantadaA última oportunidade para um adeus digno. Na última ronda do Brasileirão, o Botafogo joga em casa do Internacional e vai tentar assegurar a qualificação direta para a Libertadores.
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Lucas Perri já falou em tom de despedida na última noite e deve estar a caminho do Lyon, juntamente com Adryelson. A equipa deve sofrer uma remodelação e Diego Costa já deixou um aviso.
«Fizemos uma primeira volta fora da média, enquanto na segunda faltou maturidade e humildade para saber que o campeonato só acaba na última jornada. É normal que os adeptos tenham ficado eufóricos. Faltou-nos saber ler o momento de cada jogo e deixar o ego de lado para conquistar resultados melhores. Que isso sirva de aprendizagem porque o futebol cobra-nos. Temos de tirar uma lição moral disto, até porque ficar dez jogos sem ganhar não é admissível para o Botafogo. Se existe um culpado aqui, somos nós jogadores. Temos de ser homens quando as coisas estão mal.»
Já o dono do clube, John Textor, admitiu que o momento é «dececionante», mas destacou o «progresso» da equipa.
«Alguns destes homens que hoje não são apreciados foram os que nos fizeram sonhar. São jovens que nos deram momentos incríveis neste ano. Mas é muito dececionante a forma como encerramos o campeonato. Não conseguimos reencontrar-nos. (…) Os adeptos não gostam de ouvir isto, mas tivemos progresso.»
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