Brasil-Argentina no Maracanã: está aí o clássico dos clássicos
O atual campeão do mundo na mítica casa da seleção mais vencedora do planeta, oito títulos mundiais entre os dois. Curiosidades e momentos que enquadram esta história feita de paixão, rivalidade, pressão e talento, a aquecer para o novo episódio desta noite.
Brasil-Argentina no Maracanã é tudo aquilo de que se fala quando se fala de futebol. O clássico desta madrugada (00h30) terá o atual campeão do mundo frente à seleção mais vencedora do planeta, oito títulos mundiais entre os dois. Com tudo o que o torna tão especial. Paixão, rivalidade, pressão e talento, ainda que faltem duas das estrelas maiores da canarinha.
A Argentina está de regresso a um palco que lhe diz muito, onde perdeu uma final do Mundial mas onde há dois anos conseguiu a vitória na Copa América que ateou o rastilho para a festa no Qatar. E o Brasil está tremido na qualificação para o Mundial 2026, mas é o Brasil, a seleção que nunca, em toda a história, perdeu em casa em eliminatórias para o Campeonato do Mundo.
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Ambos vêm de desaires na corrida ao Mundial 2026. A derrota na Bombonera frente ao Uruguai foi a primeira da Argentina desde o choque com a Arábia Saudita na jornada inaugural do Mundial 2022. Mas a albiceleste ainda lidera o apuramento sul-americano, com 12 pontos em cinco jogos. E, sobretudo, apresenta a equipa de gala, uma equipa consolidada e confiante, um ano depois da conquista do Mundial no Qatar. A moral está em alta entre jogadores e adeptos. À chegada ao Rio de Janeiro, Messi e companhia foram recebidos por dezenas de adeptos, entoando cânticos de incentivo mas também de provocação ao velho rival.
La mejor hinchada del mundo dice presente en Río 🇧🇷
Así recibieron a la Selección Argentina 🇦🇷 en la puerta del hotel pic.twitter.com/2UakRAz0IH
— Diario Olé (@DiarioOle) November 21, 2023
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O Brasil está bem mais pressionado, vindo de uma sequência inédita de duas derrotas seguidas. A primeira, em outubro e também frente ao Uruguai agora de Marcelo Bielsa, pôs fim a um recorde de 37 jogos e oito anos sem derrotas do escrete em eliminatórias para o Mundial. E com a segunda, na quinta-feira passada frente à Colômbia, viu-se num inimaginável quinto lugar na qualificação para o Mundial alargado, que apura diretamente os seis primeiros, com tem sete pontos em cinco jogos.
Para mais, será um Brasil desfalcado aquele que recebe o velho rival. A seleção orientada por Fernando Diniz, o treinador que venceu a Libertadores com o Fluminense e acumula com o papel provisório de selecionador do Brasil, já tinha perdido Neymar, com uma lesão grave em outubro frente ao Uruguai, e também não terá Vinicius Jr, que se lesionou no jogo com a Colômbia.
O jogo do Maracanã tem além disso a Liga portuguesa representada de ambos os lados, com os benfiquistas Otamendi e Di María na Argentina e Pepê na seleção do Brasil, naquela que foi a estreia em convocatórias para o jogador do FC Porto.
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O último duelo entre as duas seleções aconteceu há dois anos em San Juan, na Argentina, e terminou sem golos. O anterior não acabou. No meio da pandemia, o clássico de setembro de 2021 de qualificação para o Mundial 2022, foi suspenso depois de as autoridades sanitárias brasileiras invadirem o campo, alegando quebras dos protocolos covid na comitiva argentina. A confusão instalou-se e não houve mais jogo. Acabou por ser mesmo cancelado uns meses mais tarde.
Foi mais um episódio, caricato, numa rivalidade centenária. Que foi crescendo com o tempo, mas até começou com muito cavalheirismo. As duas seleções realizaram os primeiros duelos oficiais em 1914 e foram logo dois, ambos em Buenos Aires e separados por uma semana. No primeiro, a Argentina venceu por 3-0. O segundo valeu um título e ficou marcado pelo fair play dos jogadores da albiceleste. Quando o Brasil já vencia por 1-0, Leonardi introduziu a bola na baliza do escrete, mas ele próprio, junto com o capitão Galup Lanús, avisou o árbitro que não era válido, porque tinha ajeitado a bola com a mão. Outros tempos e outra mão argentina. Essa foi a primeira edição da Taça Roca, troféu que opôs as duas seleções e que seria recuperado muitos anos mais tarde, com o nome mais comercial de Superclássico das Américas.
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Depois desses duelos inaugurais, jogaram-se mais de uma centena de clássicos entre aqueles que se tornariam os dois gigantes sul-americanos. Quantos ao certo, depende do ponto de vista. Argentina e Brasil fazem contas diferentes. Enquanto do lado albiceleste se contam dois confrontos antes da existência formal da seleção brasileira, que só aconteceu mesmo em 2014, a CBF contabiliza quatro jogos, dois nos anos 20 e dois em 1968, nos quais a Argentina argumenta não ter estado representada pela seleção oficial.
Nas contas da FIFA, são 108 jogos no total. Com um saldo bem equilibrado: 42 vitórias do Brasil, 41 da Argentina e 25 empates.
Copa América, das finais à mão de Túlio MaravilhaO clássico teve estrelas sem fim em campo, teve grandes jogos e grandes momentos, teve episódios em muitos palcos. Mais de 30 aconteceram na Copa América, que teve quatro finais entre os dois, com dois títulos para cada um nesses confrontos. E teve muitos momentos para a história, com confusão ao barulho. Como aquela mão de Túlio Maravilha.
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Foi em 1995, nos quartos de final. O jogo aproximava-se do fim, a Argentina vencia por 2-1, quando o avançado brasileiro apareceu na área e deu, como ele próprio conta neste vídeo, uma «esticadinha básica». Incrivelmente o golo valeu e o Brasil acabou mesmo por levar a melhor nos penáltis.
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No Campeonato do Mundo houve quatro duelos cheios de história entre as duas seleções. O Brasil venceu o primeiro, na fase de grupos do Mundial 1974, por 2-1, o segundo foi na Argentina, em 1978, um nulo tenso e duro, a que chamaram Batalha de Rosário.
Depois houve o duelo do Mundial 82, quando o Brasil de Zico, Sócrates, Falcao e Junior que seduziu o mundo venceu a Argentina então campeã em título por 3-1, num jogo marcado ainda pela expulsão de Diego Maradona por agressão a Batista. Essa segunda fase de grupos terminou com ambas as seleções eliminadas - ao duelo sul-americano seguiu-se Sarriá e aquele clássico Itália-Brasil que sorriu à «azzurra» e deixou inconsoláveis os admiradores do futebol-arte da canarinha.
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E por fim, o Mundial 1990. O único confronto entre ambas as seleções a eliminar em Mundiais, aqueles oitavos de final que Maradona decidiu num slalom entre camisolas amarelas para a história antes de oferecer o golo a Caniggia.
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Ainda houve outra final entre Brasil e Argentina com a Taça das Confederações como palco. Em 2005, estavam frente a frente duas seleções recheadas de craques, mas o Brasil assinou uma goleada: 4-1, com um bis de Adriano, um golo de Kaká e outro de Ronaldinho Gaúcho e Aimar a sair do banco para apontar o único golo da Argentina.
Pelé e Messi na história dos duelos no MaracanãO Maracanã tem um lugar especial na história entre Brasil e Argentina. Batizou Pelé, que se estreou na seleção precisamente frente à albiceleste. Foi a 7 de julho de 1957, estava em jogo a Taça Roca e o então adolescente de 16 anos saiu do banco para marcar o golo do Brasil nessa vitória da Argentina por 2-1. Seis anos mais tarde, o Rei assinou um hat-trick no triunfo do Brasil por 5-2, de novo no Maracanã e para a Taça Roca.
Só em 1998 a Argentina voltou a vencer no Maracanã, no último jogo de preparação antes do Mundial, decidido num golo de Cláudio Lopez. Voltou lá em 2014. Foi no mítico estádio carioca que iniciou a campanha do Mundial, embalada pelo ‘Brasil, decime qué se siente’, o cântico dos adeptos albicelestes na cara dos velhos rivais. E foi lá que jogou a final, perdida para a Alemanha. Não era o momento de Messi, mas ele chegaria. E começou a forjar-se precisamente no Maracanã, em 2021.
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Naquele 7 de julho de 2021, numa final da Copa América com pouco mais de cinco mil adeptos no estádio, ainda sob efeitos da pandemia, o golo de Di María que garantiu a vitória sobre o Brasil quebrou o longo jejum de troféus da Argentina, que durava há quase três décadas. Logo em casa do arquirrival.
Messi via-se aliviado da imensa pressão que carregou durante anos. E liderava, mais leve e mais maduro, a seleção orientada por Lionel Scaloni, também ele, tal como Fernando Diniz, interino numa fase inicial -, que conjugava finalmente o talento e a dinâmica em que assentou o sucesso no Mundial 2022.
Dois anos e meio mais tarde, é como campeã do mundo que a Argentina volta ao Maracanã, à procura de prolongar o estado de graça. Para isso, precisa de fazer o que nunca fez, vencer no Brasil na qualificação para o Mundial. Nos quatro encontros anteriores, o escrete venceu três e houve um empate, precisamente no último confronto.
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