Liga italiana gera polémica ao usar macacos em campanha anti-racismo
Clubes e organizações insurgiram-se contra a iniciativa
A Série A está a causar polémica por usar macacos numa campanha anti-racismo. A iniciativa consiste em três quadros do artista italiano Simone Fugazzotto, especialista em pintar macacos, que estão expostos na sede do organismo que tutela o futebol profissional em Itália.
As reações não se fizeram esperar.
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A Roma fez uma publicação nas redes sociais a dizer que ficou «muito surpreendida por ver nas redes sociais o que parece ser uma campanha anti-racista da Série A mostrando macacos. Compreendemos que a liga quer atacar o racismo, mas não acreditamos que esta seja a melhor forma de o fazer.
#ASRoma was very surprised to see what appears to be an anti-racist campaign from Serie A featuring painted monkeys on social media today. We understand the league wants to tackle racism but we don’t believe this is the right way to do it. pic.twitter.com/jVLImrgS0y
— AS Roma English (@ASRomaEN) December 16, 2019
Também o Milan fez uma publicação a discordar da campanha. «A arte pode ser poderosa, mas discordamos fortemente com o uso de macacos como imagens na luta contra o racismo e ficamos muito surpreendidos por não termos sido consultados.»
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Art can be powerful, but we strongly disagree with the use of monkeys as images in the fight against racism and were surprised by the total lack of consultation. @SerieA_ENpic.twitter.com/M7wFjhsfj2
— AC Milan (@acmilan) December 17, 2019
«Mais uma vez o futebol italiano deixa o mundo sem palavras. É difícil imaginar o que a Série A estava a pensar», diz a organização Fare Network, que luta contra a discriminação no futebol europeu.
«Num país em que as autoridades fracassam em lidar com o racismo semana após semana, a Série A lançou uma campanha que parece uma piada de mau gosto. Essas criações são uma afronta, vão ser contraproducentes e continuam a desumanizar os afrodescendentes», pode ler-se na nota.
Once again Italian football leaves the world speechless.
In a country in which the authorities fail to deal with racism week after week #SerieA have launched a campaign that looks like a sick joke. https://t.co/3TwmlVznAW
— Fare (@farenet) December 16, 2019
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A Kick It Out, organização que luta pela igualdade e inclusão do futebol, também se manifestou contra a iniciativa:
«O uso de macacos pela Série A na campanha contra o racismo é completamente inadequado, mina qualquer intenção positiva e será contraproducente. Esperamos que a liga avalie e substitua as imagens da campanha.»
Simone Fugazzotto, autor das peças, explicou que o objetivo é mostrar que todos os seres humanos são «criaturas fascinantes e complexas que podem ser felizes ou tristes, católicos, muçulmanos, budistas, mas, no final, são as ações que determinam quem nós somos, não a cor da pele.»
«Pintei macacos como uma metáfora para os seres humanos. Viramos o conceito contra os racistas, somos todos macacos originalmente. Portanto, pintei um macaco ocidental, um macaco asiático e um macaco negro», explicou, contando de onde veio a inspiração.
«No ano passado, eu estava no estádio para ver Inter-Nápoles [jogo em que Kalidou Koulibaly foi alvo de ofensas racistas] e senti-me humilhado, toda a gente estava gritar 'macaco' para o Koulibaly, um jogador que eu respeito. Eu sempre pintei macacos nos últimos cinco a seis anos. Então pensei em fazer esse trabalho para ensinar que somos todos macacos. Fiz o macaco ocidental com olhos azuis; o macaco asiático com olhos amendoados; e o macaco negro posicionado no centro, de onde vem tudo. O macaco torna-se a fagulha para ensinar a todos que não há diferença, não há homem ou macaco, somos todos iguais. Somos todos macacos», acrescentou.
O diretor-executivo da Série A, Luigi de Siervo, afirmou, por sua vez, que a Liga está comprometida a combater «todas as formas de preconceito».
«O compromisso da Liga contra todas as formas de preconceito é forte e concreto, sabemos que o racismo é um problema endémico e muito complexo, que abordaremos em três níveis diferentes; o cultural, com obras como as de Simone; o desportivo, com uma série de iniciativas em conjunto com clubes e jogadores, e o repressivo, em colaboração com a polícia.»
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