Mano Menezes conta como chegou ao comando da seleção brasileira
O Maisfutebol conta-lhe como foi a palestra do antigo selecionador brasileiro, convidado de honra de Jorge Castelo na Universidade Lusófona
Mano Menezes foi o convidado de honra de Jorge Castelo no workhsop seleção do Brasil: do recrutamento ao processo de treino e competição, organizado pela Universidade Lusófona. Durante uma manhã, o antigo selecionador brasileiro conviveu com aspirantes a treinador e debateu alguns dos sintomas de enfraquecem o futebol canarinho. Consagrado no Brasil, onde contabiliza passagens por Corinthians, Grémio e Flamengo, Mano Menezes está a cumprir uma espécie de licença sabática em Portugal, aproveitada para beber numa das melhores escolas de treinadores da Europa.
Mano Menezes e Rui Vitória: «Ou aceitava ou arrependia-se para sempre» As diferenças entre o que se faz nos dois países é gritante e ajudam a explicar os insucessos que têm deitado ao tapete o futebol brasileiro. «No Brasil não é preciso ter formação como treinador profissional para orientar uma equipa. Se o presidente tiver uma boa relação com o porteiro, ele pode orientar o clube no principal campeonato», disse Mano Menezes entre sorrisos na parte inicial da sua palestra, debruçando-se, depois, sobre o processo que o conduziu à liderança de uma das seleções mais fortes do Mundo.
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«O jogador brasileiro perdeu qualidade, domina e passa mal» «Na quinta-feira o presidente da Confederação Brasileira de Futebol convidou o Muricy Ramalho para ser selecionador. Ele não aceitou e, na sexta-feira, depois de ter sondado algumas pessoas próximas, formalizou-me o convite. Nessa altura só havia duas hipóteses: ou aceitava e estava preparado ou recusava e arrependia-me para sempre. Joguei com o Corinthians, viajei para o Rio de Janeiro e, 24 horas depois, tinha de fazer uma convocatória», contou.
Em pouco tempo, Mano Menezes chegou à conclusão que tinha de partir muita pedra para colocar em prática as ideias que tinha para o seu reinado na 'canarinha'. Afinal, encontrou tudo em bruto e era necessário construir um edifício à volta da seleção. «Nunca tínhamos falado e, por isso, deu para perceber que ele [presidente da Confederação Brasileira] conhecia bem meu perfil [risos]. Descobri, em pouco tempo, que o projeto era eu... No Brasil não temos um projeto de seleção para os próximos anos. A coisa é meia empírica…», reforçou, fazendo depois um paralelismo com a realidade dos clubes. «O mesmo acontece nos clubes. O projeto no futebol brasileiro são os treinadores. O treinador tem de ser parte do projeto e não o projeto, porque depois chega outra pessoa que pensa o futebol de outra forma completamente diferente», sublinhou.
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Mano Menezes ficou eternamente marcado pela derrota com o México na final da última edição dos Jogos Olímpicos, realizados em Londres. A medalha de Ouro era o principal objetivo, mas acabou por não se concretizar. Menezes, selecionador da época, explica o que falhou.
«Optámos por ficar num hotel porque tinha corrido mal a opção pela Aldeia Olímpica em Pequim. A organização disse-nos que tínhamos de sair para o estádio quatro horas antes. Chegámos três horas antes do jogo. O que é que se faz num estádio com tanto tempo para o jogo? Dorme-se. Uns com os pés para cima, outros para baixo. Dormimos e sofremos um golo aos 40 segundos... Não explica tudo, mas condiciona», recorda. Toda a dinâmica do futebol se alterou e os treinadores são obrigados a lidar com uma panóplia de situações que cada vez mais afasta o foco dos jogadores do mais importante: o jogo. Existe, por isso, a necessidade de tomar decisões drásticas de forma a proteger o grupo de trabalho.
«Até quando o treinador vai ter que ceder? Temos de ceder para os jogadores que só querem treinar com soquetes [meias pequenas], que nem são feitas para jogar futebol, cheios de brincos…. Querem viajar em aviões particulares, só comunicam nas redes sociais. Assim é impossível construir um bom grupo. Depois cedemos para os agentes, para os media, para todo o Mundo. Eu decidi seguir uma linha diferente e dizer que não a muitas coisas. Não é simpático, mas é um mal necessário», rematou.
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