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Opinião   |  

O meu pub em Hammersmith: sexo, cerveja e o Arsenal

Também houve um Özil nos anos 70

«O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer», Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane.
«Özil está para a Premier League como a cerveja para o sexo. Não te garante que venças, mas estás sempre mais perto de faturar.»

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Um adepto do Arsenal assume que olhou para um cartaz que tenho no pub para sair-se com esta.
Na verdade, o poster diz: «Cerveja, a ajudar as pessoas feias a ter sexo desde 1862.»
O Arsenal foi uma equipa feia nos últimos anos.
Desde os Invencíveis que começou a sê-lo. Henry, Pires, Vieira e Campbell, beleza futebolística manifestada em várias formas. Ainda Gilberto Silva. Um brasileiro. Tinha de haver um brasileiro...
E havia muito Bergkamp. Havia mesmo muito Bergkamp naquela equipa de 2003/04.
Mas o Arsenal está no topo da Premier League outra vez. Özil mudou a perspetiva.
Mesmo que não tenha por perto mosqueteiros como o luso-francês Pires, um guarda-redes como Lehmann (apesar de tudo) ou um goleador como Henry.

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«Özil é um cavaleiro de armadura brilhante, um Lancelot no reino de Wenger » diz um gooner. «Desde que a mulher de Wenger não se chame Guinevere...», ri um outro.
O Santo Graal é a Premier League, mas há oito anos que não entra um único troféu no clube apesar das promessas que algum bom futebol fez.
«Ei, o nosso futebol é mais sexy que o David Beckham», atira o terceiro «gooner», defensor de Wenger, e que admite que roubou a ideia a Ruud Gullit que falou nos mesmos termos sobre a seleção portuguesa em 1996.
Concordo com algumas coisas, rio-me ao mesmo tempo. Um cliente contente é sempre bom para o negócio, mas quando é para falar de bola, eu cá gosto de levar as coisas meio a sério. Sobretudo quando mete Liverpool ou Arsenal ao barulho. Para além disso, está aqui um daqueles espanhóis irritantes a ouvir a conversa e que acha que sabe mais disto que nós todos juntos. O tipo só diz Fàbregas, Fàbregas, Fàbregas.

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«Na votação oficial dos melhores jogadores de sempre do Arsenal , quatro do top 10 são parte dos Invencibles: Henry, Bergkamp, Vieira e Pires», lembro.
«Depois há Tony Adams, Ian Wright e, para lixar a malta do Tottenham, Pat Jennings.»
«Meu caro hermano, conheces um tal de Charlie George? E a melodia de Jesus Christ Superstar? Então, era assim: «Charlie George, Superstar, how many goals have you scored so far?»
Um verdadeiro gooner! - responde um dos tipos do Arsenal.
Eu estou longe de ser um tipo do Arsenal. Muito longe mesmo. Confesso, sem problemas.
Piquei-os. «Pois, mas sabe meu caro hermano, os adeptos rivais gozavam com o tipo. «Charlie George, Superstar, walks like a woman and he wears a bra.»
Estavam a pedi-las quando ousaram mencionar Beckham.

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Portanto, do top 10 falta um: Liam Brady.
«Now that’s Sexy football!!!» , atiram os gooners . Outra vez?
Já tive algumas lições de futebol, nunca vi Brady jogar, mas depois de tanto aturar malta do Arsenal aqui no pub tive de informar-me e ver.
Uma pesquisa pelo irlandês no youtube demora segundos. Depois disso, fica-se uma eternidade a ver o que ele fazia com aquele maravilhoso pé esquerdo.
Brady, Liam Brady. Um Özil no Arsenal dos anos 70.
Para resumir, abri o site oficial do clube e li isto: «No campo, os pés e a cabeça de Brady funcionavam em harmonia (...). Cesc Fàbregas merece todos os elogios que recebe, mas, como os adeptos do Arsenal de uma certa idade podem testemunhar, o jovem espanhol ainda tem um longo caminho a percorrer para ser como Brady.»
There you go, hermano.
A seguir, do mesmo sítio, um parágrafo inteiro para falar da final da FA Cup de 1979, em que o irlandês fez assistência para um golo e, quando havia 2-2 com o Manchester United... «Brady trabalhou para lançar um último ataque no território do adversário. O passe dele para Graham Rix obrigou o extremo esquerdo a acelerar e cruzar....»

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Alan Sunderland rematou e assim foi o 3-2 para o Arsenal. Assim fica também uma prova de que Liam «Chippy» Brady era um Özil dos anos 70. Não sou eu que o digo, são as palavras de Bergkamp, ainda esta semana ao The Telegraph. Eis as semelhanças com o 3-2 de Wembley:
«Por detrás de cada passe está um pensamento. Com aquele passe [jogada do 1-1 com o WBA], Özil já estava a calcular qual seria o passe seguinte. Por isso, ele coloca a bola para o lado, o que significa que a única opção de Giroud era assistir o terceiro jogador».
Como Rix teve de fazer, lá em 1979.
Eis o ponto. Com Özil, Wenger deu um passo de gigante. Mas se Brady pode ser um Özil dos anos 70, o alemão não pode ser um Liam Brady dos 2010.
O irlandês estreou-se pelo Arsenal em 1973. Saiu para a Juventus em 1980. Ganhou...uma Taça de Inglaterra. Havia cerveja, portanto, mas não houve grande festa, se é que me entendem.

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Digo: «Wenger não pode perder o desafio. Há Nasri e Van Persie a lembrarem-lhe que sem títulos as estrelas desaparecem. Com 42 milhões de libras gastos mais Ozil acabaram-se as desculpas. O Arsenal fez a melhor contratação da liga! Tem o melhor playmaker da Premiership, o melhor pensador em campo, o jogador que enobrece o jogo daqueles com quem joga, um homem unido do pensamento à ponta da bota. Le Prof tem de fazer de Özil mais Bergkamp do que Liam Brady. Wenger deve isso ao futebol.»
Ainda que as vozes contra o francês aumentem a cada ano sem nada, a maioria dos gooners defende-o até à morte.
Um destes fica irado e responde. «Wenger é o melhor treinador no país! Alex Ferguson pode ter sido sir, Moyes ainda nem sabe onde anda e Mourinho pode dizer o que quiser. Ninguém joga sexy football como o Arsenal. Nunca ninguém jogou. Nunca, em qualquer ano de Wenger! Diz-me alguém que tenha sido tão sedutor em campo? Nem o Liverpool de Shankly ou de Paisley! Grandes equipas, mas, ei, um scouser nunca pode ser sexy, não é? A não ser que seja um Beatle. O United? Boll*ks!»

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Raios. Estes tipos não ganham nada há oito anos, roubam uma frase sobre a seleção portuguesa, metem-se a dizer mal do United e ainda têm a ousadia de misturar Özil, sexo e cerveja... Qual Özil, qual Brady, qual Bergkamp.
«READ THE SIGN!»
«Seria difícil se tivesse de escolher entre driblar cinco jogadores e marcar a 35 metros da baliza em Anfield ou dormir com a Miss Mundo. Felizmente, fiz as duas coisas.»
Now that’s sexy football, you gooner!
Best, George Best, o futebolista com mais troféus ganhos nos pubs de Inglaterra.
Esta conversa começou com cerveja, não foi?
Cheers, George.
«O meu pub em Hammersmith» é um espaço do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter

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