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Opinião: Perdoai-lhe, Senhor, que ele sabe o que faz

«Era capaz de viver na Bombonera»

Antes tarde do que nunca! Antes uma década depois, mesmo aos 35 anos, já sem os reflexos de antes, sem a frescura de antigamente, que jamais. Raios! Antes voltar 50 mil penalties depois, marcados de milhares de formas e feitios, que deixar fugir tudo em 90 minutos. Em força! Com... jeito. À Pa-nen-ka. Com a ajuda do poste e vindos de carambola na trave. Após desvio no portero ou, que se lixe, na recarga. Valem tanto como os outros! Agora, hoje - que belo dia! - tantas grandes penalidades, tantos golos feitos desde então, confirma-se o regresso. Afinal, todos os homens bons merecem perdão. Todos!

4 de Julho é ainda dia maldito. Ele foi «morto» a 4 de Julho, que é dia nacional de outros, os das stars and stripes, mas que já têm os seus jogos esquisitos para se preocupar. 4 de Julho de 1999! A Colômbia tornou-se país esquecido, escondido atrás de uma memória que recusamos ter. Miguel Calera, o guarda-redes do terceiro remate, foi amaldiçoado. Um, duas, vezes sem conta. Ainda no estádio, no autocarro, todos os dias depois, semanas a fio. Impediu-lhe o consolo menor, a pequena redenção, depois de dois remates deslocados do golo. As duas balizas deviam ser destruídas! A Copa América extinguida! O livro do Guinness queimado!

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Martín Palermo, goleador de profissão, matador por instinto, agarra nos calções e puxa-os para cima em desespero, como se imitasse um Hulk argentino de popa oxigenada a rasgar a roupa que esconde a dupla personalidade. Fica-se pelas intenções. Não é dia de super-heróis, nem sequer de anti-heróis. Basta-lhe correr para os balneários, aguentar as palmadinhas nas costas e desaparecer durante uns tempos. De preferência para um lugar sem jornais. Quase dez anos depois, o génio que perdia todas as apostas com o guarda-redes do Sporting é o seleccionador misericordioso, aquele que se lembra do avançado esquecido na Bombonera. O maior goleador de sempre do Boca! É hoje!

O Pelusa sabe o que é fado, que é complicado trocar as voltas ao destino, mesmo que ele próprio dê as suas. Sabe que um demónio invisível sussurrou o lado ao ouvido de Ivkovic, da mesma forma que outro encaminhou a bola do «Doutor» Sócrates para Joel Bats, em 1986. Alguém teve de soprar aquela ventania no remate tresloucado de Baggio oito anos depois, perante Taffarel. Teve de ser... Outros terão empurrado John Terry na final da Champions, ou, se forem velhos, porque não lhes conhecemos a idade, arranjado um buraco entre o poste esquerdo e Barbosa, já há quase 60 anos. Festejou Gigghia e os diablitos que dispararam a correr pelo relvado, felizes da vida com a travessura.

Maradona sabe que é possível falhar três penalties num jogo e continuar a ser-se bom. Claro que é! Sabe que, se os deuses quiserem, um dia o céu cai mesmo sobre a nossa cabeça. Tem a consciência de que, melhor do ninguém, o mundo dá muitas voltas. Só precisa que um dia alguém junte acções ao «Acontece, pá!» e estenda a mão. Todos os homens bons merecem perdão. Tomara a ele, e a nós, que o tivessem perdoado outra vez.

Era capaz de viver na Bombonera» é um espaço de opinião de Luís Mateus, subdirector editorial do IOL, que escreve aqui todas as semanas. Siga-o no twitter

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