Todo o processo Marco Silva foi muito mau

Marco Silva despedido, Jorge Jesus contratado e, tudo indica, Rui Vitória a caminho da Luz. Que dias para os lados da Segunda Circular! Por outro lado, a final da Champions a encerrou a semana. O futebol jogado nas quatro linhas, como deve ser, e as entradas e saídas fora delas.

O que encheu jornais, conversa e espaço televisivo foi realmente o que se passou em Alvalade, com ligação directa à Luz. A verdade é que a final de sábado, em Berlim, marcando o fim da temporada futebolística de clubes, foi apenas para pontuarmos o gosto pelo jogo e podermos apreciar futebol de qualidade e atletas de excepção. Ganhou quem se esperava - e bem. O triplete foi para a Catalunha.

Em Alvalade também aconteceu o que era esperado e a saída de Marco Silva foi assumida. Entretanto Jorge Jesus estava já contratado, faltava assinar e dar nota oficial, o que aconteceu mais tarde. Mas todo o processo que levou ao despedimento de Marco Silva, foi muito mau. Lamentável.

Quem foi eleito para dirigir tem a legitimidade e o direito de tomar as decisões que entende. Mas tem também a obrigação de respeitar e ter a atitude certa, e isso foi coisa que não vimos nesse momento - e em grande parte da temporada.

Bruno de Carvalho soube estar presente na conferência de imprensa ao lado de Marco Silva, na sua apresentação em Maio de 2014. Mas não marcou presença , segundo foi tornado público, na reunião em que lhe foi instaurado o processo disciplinar com despedimento por justa causa. Muito mal.

Este acto final foi apenas a sequência de tudo a que assistimos ao longo da época.

A nota de culpa, com todos os argumentos que foram tornados públicos, complementa tudo isto e é apenas triste.

Isto não é modo de tratar o treinador do Sporting que, ao longo deste ano e, principalmente, a partir de novembro, foi alvo de críticas internas e externas e soube lidar com elas, apesar do enorme desgaste a que foi sujeito, da forma que merece um clube com a grandeza do Sporting.

Marco Silva soube respeitar o clube, quem lhe pagava, os adeptos, a sua profissão e acima de tudo teve a capacidade, para dentro da instabilidade criada por outros, liderar 25 jogadores e uma equipa, com objectivos para conquistar.

Esse foi para mim o aspecto mais relevante do seu papel como treinador: conseguir manter a equipa focada nos objectivos, com tudo o que a rodeava. A vitória na Taça de Portugal é o reflexo dessa forma de liderar e gerir uma equipa, fazendo-a acreditar e lutando por aquilo que se quer, com sorte à mistura, como referiu na ocasião.

A ligação existente entre treinador e equipa foi, quanto a mim, o garante para tudo aquilo não se partir - e imagino as dificuldades sentidas ao longo do ano.

Mas estava decidido. Bruno de Carvalho abdicou do treinador que tinha contratado por quatro anos e vai ao outro lado da Segunda Circular buscar o treinador bicampeão nacional.

Uma aposta forte: se a exigência existia, a partir de agora ela é máxima. Os objectivos elevados e a expectativa criada obrigam a atingir títulos.

Bruno de Carvalho e Jorge Jesus têm consciência disso e seguramente todas as armas serão jogadas. Desde logo, o reforço do plantel com jogadores experientes que vêm para o onze, juntando-se à qualidade existente de vários jogadores do plantel. Veremos com que custos.

Mas uma nota, mais uma vez, para um comportamento usual de dirigentes e treinadores: contrata-se antes de resolver as questões com o treinador ainda no lugar. Foi o que se passou neste caso. Fica mal, e o respeito que devia existir entre companheiros de profissão ficou na gaveta. A esta hora já ninguém se lembra, porque isto não pára e os valores e os princípios são esquecidos, tal é o ritmo e o avolumar das situações.

Por último, a passagem de Jesus na Luz.

O que conseguiu no Benfica não pode ser apagado. Não o fez sozinho, é certo, mas a sua liderança técnica marcou uma época, teve sucesso e está na história do Benfica. Não sabemos de que forma aconteceu a saída e se a razão está do lado de Luis Filipe Vieira ou de Jesus mas uma coisa é certa: os anos em comum e a amizade anunciada deviam ter levado a uma saída normal, dentro de um fim de ciclo.

Não aconteceu assim e Jesus fez as suas escolhas. Seguiu um novo caminho e sabe perfeitamente os desafios que vai ter pela frente. Habituado em todas as épocas da Luz a um forte investimento, veremos como será em Alvalade, sendo certo que a avaliar o discurso do seu novo presidente, reforços e qualidade não vão faltar.

Que despedida para Xavi!

Voltando à final de Berlim, quem seria o homem do jogo? Foi novamente Iniesta, repetindo a distinção que já conseguira na final do Mundial 2010 e do Europeu 2012. Um jogador extraordinário, com muita qualidade - e cá entre nós não percebi a sua saída do jogo aos 73 minutos. A ausência por lesão da seleção pode querer dizer algo.

A jogar bem, a gerir e a controlar a bola como ele sabe, gostaria de vê-lo em campo até final. Mas, do mal o menos, Luis Enrique colocou Xavi em jogo. Que despedida para um dos melhores médios do mundo! Bateu o recorde de presenças na Liga dos Campeões, coroando uma história impressionante, com a camisola do Barcelona. Fantástico!

Ver os jogadores a desfrutarem da profissão e serem capazes de se superarem e colocarem toda a sua qualidade ao servico do colectivo é extraordinário. Xavi e Iniesta são dois grandes exemplos de muita qualidade, que encaixam no conceito de equipa.

As equipas precisam destes jogadores que fazem tudo: além da técnica individual, pressionam, posicionam-se e sabem estar quase sempre no espaço, no momento certo para receber, passar, cortar ou finalizar. Tenho pena de ver partir Xavi mas fica Iniesta para continuarmos a desfrutar da sua fantástica qualidade.

Por último, custa ver Pirlo a chorar e perder a final, mas não esqueço o que deu e continua a dar aos clubes por onde passa e à sua selecção. Tem muita classe, mas só pode ganhar um e o Barcelona foi mais forte.

P.S.- Que defeso vamos ter! e ainda agora começou. A primeira parte só acaba em Agosto...