Anthony Lopes, o portista do Lyon vai à Luz «parar o Benfica»
Pai do guarda-redes conta ao Maisfutebol a história de uma família de dragões em França e confessa que no verão o filho «quase ia para o FC Porto»
Vida de emigrante, mala de cartão. Largar a terra que os viu nascer, ter a coragem de desenhar um novo caminho. Saltar da cama e colocar os pés a milhares de quilómetros de distância. Sacrificar o lar, doce lar, sempre a pensar no que vem a seguir: os filhos.
A história repete-se, milhares de vezes, provavelmente milhões. A diáspora portuguesa toca os quatro cantos do planeta, celebra o modo de vida lusitano, o famoso fado do desenrasque em horas de aperto.LEIA TAMBÉM:«Benfica tem obrigação de ganhar», diz Anthony
PUB
É esta também a herança recebida por Anthony Lopes. O dono da baliza do Lyon, adversário do Benfica nesta quarta-feira, nasceu já em solo gaulês, mas teve desde o primeiro instante uma educação de modos e feitios portugueses. A começar logo pela escolha do clube do coração.
«Benfiquistas? Não, aqui em casa somos todos portistas, o Anthony também», diz José Lopes, pai do internacional português, ao Maisfutebol a partir da casa em Saint-Genis-Laval. Ali, a escassos dez quilómetros de Lyon, Anthony cresceu, apaixonou-se pelo futebol e esteve, há poucos meses, a instantes de dar o «sim» ao FC Porto.
«Faltou muito pouco para ele ir agora no verão. Até lhe disse: ‘se tens a oportunidade de jogar em Portugal, então vamos tentar’. Depois, o Lyon soube que o Anthony estava interessado em ir para o FC Porto e fizeram-no logo assinar a renovação. Ofereceram-lhe uma proposta melhor.»
É um dragão, pois então, que estará na Luz para o jogo da terceira ronda da Liga dos Campeões. «Vai ser especial, porque o Anthony nunca jogou na Luz. Nos jogos da seleção lá esteve sempre no banco. Vai jogar e tentar parar o Benfica.»
PUB
«O Anthony joga por Portugal porque sempre quis jogar por Portugal»
As raízes da família Lopes estão no Norte de Portugal.
José, o pai de Anthony, nasceu em Barcelos e mudou-se para França ainda bebé. «Nem um ano tinha. O meu pai era carpinteiro e aceitou uma proposta de trabalho. Hoje em dia trabalho na área dos transportes, sou motorista.»
Lúcia, a mãe, já nasceu em França, mas os seus pais, avós de Anthony, são de Miranda do Douro. Em Portugal continua a viver a avó paterna do guarda-redes.
«Sim, nós desta vez não podemos ir porque estamos a trabalhar, mas a avó do Anthony queria ir. O problema é que ela só queria ir para dar um beijo ao neto e eu já lhe disse que isso não é fácil por culpa das regras do clube», explica assim José Lopes a ausência de familiares na Luz.
PUB
O futebol profissional roubou a Anthony os verões em Portugal. Até aos 15 anos, não havia férias sem Barcelos ou Miranda do Douro.
«Os meus sogros vinham a França buscá-lo. O Anthony passava dois meses em Portugal, sempre com os primos. Foram tempos maravilhosos. A vida é assim, agora é muito complicado gerir isso, mas basta vê-lo na baliza da Seleção Nacional para perceber que tudo vale a pena.»
Por falar em valer a pena, o que levou Anthony Lopes a escolher a nobre e ingrata arte de ser guarda-redes? «Acho que fui eu», responde José, o pai. «Sempre fui guarda-redes em clubes pequenos aqui da região de Lyon e o Anthony vinha comigo. Aos cinco anos e meio meti-o numa escolinha de futebol e ele disse logo que só queria ir para a baliza.»
Sem ser «um grande aluno», Anthony conseguiu conciliar futebol e escola até aos 16 anos. A partir daí, admite José Lopes, só passou a ter olhos para a bola e a família.
«Primeiro esteve no Olympique de Saint-Genis e aos nove/dez anos levei-o ao Lyon. O resto da história já conhecem. O Anthony sempre foi apaixonado pelo futebol português, pelo FC Porto e pela Seleção Nacional. Foi por isso que eu contactei a FPF, há uns anos. Nunca tivemos dúvidas: o Anthony joga por Portugal porque quis jogar por Portugal e não por França.»
PUB
«Por mim, já tínhamos voltado a Portugal há quatro anos»
Aos 29 anos e já com sete internacionalizações por Portugal, Anthony sonha com o passo seguinte: a titularidade. Rui Patrício tem sido a primeira escolha de Fernando Santos, mas os pais do luso-francês sabem que ele não é rapaz para baixar os braços.
«O Europeu está a chegar. Vamos ver. Primeiro queremos vê-lo lá e, acima de tudo, que seja feliz e ganhe sempre. Seja com o Lyon agora na Luz, seja por Portugal.»
É por causa de Anthony, de resto, que a família continua a viver em França. O chamamento português começa a ser cada vez mais forte.
«Para ele é mais fácil estar em França. Está mais adaptado, só por isso. Ir para Portugal e mudar tudo seria mais esquisito para ele. Eu sempre disse que queria voltar a Portugal, mas a minha esposa, mãe do Anthony, tem resistido», conta José Lopes.
«Se fosse por mim, já há quatro anos que estava em Portugal. Mas temos aqui os filhos, os netinhos… e a minha mulher não quer sair de perto deles.»
José, ele próprio um antigo guarda-redes, confessa-se cansado da vida de emigrante. «Viver em França, hoje em dia, é trabalhar para gastar. Não dá para juntar dinheiro, a vida está um bocado trenga. Se o Anthony fosse jogar para Portugal, estava resolvido.» Anthony Lopes, mais de 300 jogos na baliza do Olympique de Lyon, a derradeira barreira a ultrapassar pelo Benfica na Liga dos Campeões. Um jogo para seguir AO MINUTO.
PUB