Sameh Maraaba: das prisões israelitas aos golos para o Mundial
Goleador palestiniano está na lista negra do governo sionista. A incrível história de um rapaz de 23 anos, cujo maior sonho é jogar o Campeonato do Mundo
28 de abril, 2014. Ponte Allenby, posto fronteiriço de Israel antes de território jordano. Sameh Maraaba, 23 anos e avançado da Palestina, é detido pelas tropas sionistas quando viajava com a comitiva da seleção para a Challenge Cup, nas Maldivas.
Maraaba desaparece durante oito meses. A acusação, pouco clara desde o início, rotula-o de colaboracionista com o Hamas. De calabouço em calabouço, o goleador clama inocência, mas só é libertado em dezembro.
16 de junho, 2015. Sameh Maraaba marca dois golos à Malásia, em jogo da qualificação na zona asiática para o Mundial de 2018. E festeja como se estivesse a saborear tudo pela primeira vez.
Os momentos estão registados no seguinte vídeo (56s e 4m02s):
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Culpado ou inocente? Bem, as versões, sem ponta de surpresa, divergem de parte a parte.
A federação palestiniana, pela voz do president Jibril Rajoub, colocou-se desde o primeiro instante ao lado de Sameh Maraaba.
«Ele encontrou-se com um antigo colega de equipa, agora a viver no Qatar, e recebeu uma quantia de dinheiro para apoiar o futebol palestiniano. Só isso».
O problema, do ponto de vista dos serviços de segurança de Israel, é que esse amigo de Maraaba tem fortes ligações ao Hamas. Ora, após esse contato, o futebolista entrou na lista negra do estado israelita e passou a ser mais um perigoso terrorista.
«Temos informações concretas de que o senhor Maraaba estava a conspirar com o inimigo e a servir de correio para o transporte de dinheiro e comunicações», referiu, semanas depois da da detenção, Paul Hirschon, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel.
«E se alguém do Hamas oferecer um donativo à Federação Palestiniana de Futebol? Qual é o problema nisso», ripostou Jibril Rajoub.
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Nenhum, dirá o povo palestiniano. Todo o que houver no mundo, obstarão os israelitas.
Nas ruas de Qalqilya, onde sempre viveu, a sua imagem decorou as fachadas de prédios e andou de mão em mão, como símbolo da resistência à opressão do invasor judaico.
Em junho de 2014, a ASI (Agência de Segurança Israelita) divulgou um longo comunicado, onde detalhava os motivos do aprisionamento do avançado palestiniano.
O documento - «um chorrilho de mentiras», atirou a federação palestiniana – incendiou os ânimos e arruinou as frágeis relações desportivas entre os dois estados.
O extenso documento oficial pode ser lido AQUI, se o leitor estiver disposto a isso.
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Sameh Maraaba resistiu ao isolamento e saiu em liberdade no final do ano. Nunca falou publicamente sobre o caso, a não ser para gritar a sua inocência.
Há poucas semanas, porém, voltou a ser incomodado. O seu nome não voltará a sair da lista negra israelita, isso é claro. A 21 de maio, novamente integrado na comitiva palestiniana e a caminho de um jogo na Tunísia, Sameh foi detido durante três horas.
Os responsáveis da federação recusaram abandonar o local – novamente a fronteira entre Israel e Jordânia – sem Sameh Maraaba. A pressão resultou e o atacante já marca golos e sorri.
Nota final e importante: a inexistência de aeroportos em território palestiniano obriga a seleção a viajar sempre por terra até Omã, na Jordânia, e daí partir para outros destinos.
Se a Palestina se qualificar para o Mundial, essa será a derradeira barreira a transpor.
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