Kalloni FC: futebol em Lesbos dá uma nova vida a refugiados
Reportagem-Maisfutebol: Vítor Saba, médio luso brasileiro do clube, ajuda o Maisfutebol a perceber a realidade da ilha massacrada por uma crise humanitária
«Não temos nada a temer. O nosso único medo era ver o céu a cair em cima de nós. Mas isso já aconteceu».
O céu, nas palavras de Spyridon Galinos, governador de Lesbos, é a enxurrada humana de refugiados que chega à costa norte da ilha, a zona mais dramática. Todos os dias, aos milhares. «Sete mil», acrescenta Galinos, pouco convencido. «Mas são mais, muitos mais».
O inferno humanitário aflige. Lesbos, pedaço de terra grego perto de território turco, 80 mil habitantes, é uma das principais plataformas de segurança para os que fogem do horror da guerra, do terror imposto pelos monstros do Estado Islâmico.
«Se uma pequena ilha como a nossa é capaz de lidar com isto, então o resto da Europa também tem de ser», insiste o político.
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Com a chegada do inverno, porém, a preocupação sobe de tom. E é aqui que entra o poder do futebol - o lado bom de um jogo tantas vezes incompreendido e mal tratado -, na face do Kalloni FC.
«Todos os dias ao ir para o treino vejo refugiados na rua»
Mar Egeu, Norte de Lesbos, praias de Palios e Tsonia. Nas águas flutuam coletes salva-vidas, as areias estão imundas, cheias de garrafas de plástico, cobertores velhos, sapatos. E pessoas, homens e mulheres, velhos e crianças. Choram, quase todos.
Chegam duas carrinhas do Kalloni FC, carregadas de víveres essenciais. Água, comida, sobretudo fruta. Dezenas de seres humanos têm ali a primeira refeição recente em semanas.
Tudo fruto do extraordinário trabalho solidário desenvolvido pelo maior clube de futebol da ilha, em consonância com a sociedade civil e as forças políticas.
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«Todos os dias ao ir para o treino vejo refugiados na rua. Aqui é o mais normal, estamos todos a par do que tem ocorrido», conta Vítor Saba, antigo jogador de Flamengo, Brescia e Crotone (os dois últimos em Itália).
«O nosso clube desenvolveu uma grande operação solidária. As pessoas podem transferir dinheiro para uma conta solidária e ajudar com algum dinheiro. Mas podem oferecer roupa, comida, tudo isso. O clube recolhe e depois distribui pelos refugiados».
E problemas de segurança? Algum?
«Não, nada. Trabalhamos e vivemos tranquilos. O estádio é pequeno, leva pouca gente e sei que temos convidado refugiados para verem os jogos. Não existe um contato direto com essas pessoas, mas todos os jogadores tentam ajudar de alguma maneira».
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No verão, o fluxo violento de turistas quase fazia esquecer o que ocorria num dos pontos da ilha. Agora, com Lesbos entregue aos locais, o tema-refugiados ganha outra dimensão.
«É uma ilha paradisíaca, mas as temperaturas baixam muito. Há preocupação com o frio e com os abrigos para eles. Sei que há vários locais espalhados pela ilha onde podem ficar».
Lesbos ajuda como pode, ajuda muito. Recebeu à volta de 400 mil refugiados. Muitos, a maioria, prosseguiu viagem para outros países. 50 mil continua na ilha, entre o porto de Mytilene, a capital, e o campo de Moria.
Entretanto, todos os dias chegam mais embarcações. Os pedidos de ajuda não cessam.
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Futebol, agora. Vítor Saba diz que o nível da Superliga grega equipara-se ao da Serie B de Itália, onde jogou três anos. Isto, excetuando os grandes do país, claro.
«É um futebol físico, com muitas faltas. É um bom campeonato para se jogar».
Vítor Saba nasceu no Rio de Janeiro, mas é bisneto de uma portuguesa. «Sim, de Aveiro. Adoro Portugal, já visitei Lisboa também. Tenho vários amigos que já jogaram no país».
Saba refere-se a «Souza (ex-FC Porto), Alan Kardec e Fellipe Bastos (ex-Benfica) e Maurício (ex-Sporting)».
«Todos me falaram muito bem da liga portuguesa. Tenho orgulho de possuir o passaporte português».
Até hoje, e apesar desta ligação a Portugal, Vítor Saba nunca recebeu nenhum convite para jogar cá. «Não, infelizmente não. Tenho muita vontade de jogar aí um dia e, se me derem uma oportunidade, com certeza irei».
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