Mundo Brasil: Marcelo Oliveira, de bicampeão a despedido
Levou o Cruzeiro aos títulos de 2013 e 2014 mas arrancou mal no Brasileirão 2015 e caiu cedo na Libertadores. Nem ele resistiu ao destino habitual dos treinadores no Brasil
«Dizem que os treinadores brasileiros são trocados de quatro em quatro meses. Fiquei quase dois anos e meio no Cruzeiro, foi uma boa oportunidade de aumentar um pouco essa média»
MARCELO OLIVEIRA
De bicampeão a despedido em poucos meses. Não, este texto não é sobre Jorge Jesus (que, na verdade, não foi despedido do Benfica, simplesmente não chegou a acordo para renovar e optou pela transferência milionária para Alvalade). Estamos mesmo a falar de Marcelo Oliveira, o homem que levou o Cruzeiro ao título do Brasileirão em 2013 e 2014 e que acaba de ser demitido da Raposa, depois de péssimo arranque de Brasileirão 2015 (um ponto nas quatro primeiras jornadas do Campeonato Brasileiro e eliminação da Libertadores). Foram 169 jogos ao comando do clube de Belo Horizonte, em quase dois anos e meio, com saldo muito positivo: 105 vitórias, 32 empates e 32 derrotas, 321 golos marcados, 147 sofridos.
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Foram quase 70% de vitórias, numa percentagem de aproveitamento muito elevada para o registo do Cruzeiro.
A FESTA DO CRUZEIRO COMO BICAMPEÃO BRASILEIRO:
Marcelo tinha avisado, antes do arranque deste Brasileirão: o Cruzeiro não ia ser candidato ao título desta vez. No máximo, seria candidato ao acesso à Libertadores. Peças essenciais nos títulos do Cruzeiro, sobretudo no meio-campo, já não estão na Raposa: Lucas Silva saltou para o Real Madrid, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart também saíram (Everton para o Al-Ahli dos Emiratos, Goulart no Guangzhou da China).
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Com menos qualidade, especialmente a meio-campo, e maior concorrência (Atlético Parananese, São Paulo, Corinthians e At. Mineiro mais fortes), o bicampeão Cruzeiro de Marcelo Oliveira teve entrada muito má no Brasileirão: só um empate (com o Ponte Preta em casa) e três derrotas (em casa com o Corinthians, fora frente ao Santos e Figueirense).
Um ponto em quatro jogos foi saldo tão negativo que nem o bicampeão Marcelo Oliveira resistiu.
A DESPEDIDA EMOCIONADA DE MARCELO OLIVEIRA DO CRUZEIRO:
«Desmanchámos quase uma equipa inteira este ano, depois do bicampeonato. Ficou mais difícil, ninguém tem culpa. Esperava cumprir o meu contrato, tive oportunidades de sair que eram boas financeiramente, mas compreendo que tenham querido fazer alguma coisa para mudar esses resultados... É assim que funciona»
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MARCELO OLIVEIRA
A seguir à derrota com o Figueirense, foi demitido pelo presidente Gilvan Tavares. E a verdade é que a «chicotada» parece estar a resultar: depois da saída de Marcelo, o Cruzeiro, agora orientado por Vanderlei Luxemburgo, venceu o Flamengo em casa e derrotou o Atlético Mineiro, eterno rival, no reduto do Galo, por 1-3. A derrota 0-3 para a Libertadores, em casa frente ao Boca Juniores, em pleno Mineirão, foi outro comprometedor.
A DERROTA 0-3 PARA A LIBERTADORES
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Como jogador foi discreto, como treinador principal teve arranque tardio (já ia nos 47 quando se estreou no banco ao comando de uma equipa, no caso o Atlético Mineiro, clube que representou como jogador durante 25 anos).
Antes de orientar o Cruzeiro, começou como treinador no grande rival, o Atlético Mineiro, há 11 anos. Entre 2003 e 2007, passou outras quatro vezes pelo comando do Mineiro. Antes, foi durante vários anos o responsável pelas categorias de base do Galo.
Em 2007, orientou o CRB, no ano seguinte passou pela sexta vez a equipa principal do Galo.
Entre 2009 e 2012, cumpriu tirocínio pelo futebol brasileiro profundo, entre Ipatinga (2009), Paraná (2010), Coritiba (2011 e 2012, na melhor experiência antes do Cruzeiro, com duas finais da Copa Brasil e dois títulos estaduais e que lhe valeram o título de treinador do ano no Brasil), até que teve a sua primeira grande oportunidade, ao orientar o Vasco da Gama.
Mas não correu bem em São Januário: em dez jogos, duas vitórias dois empates em seis derrotas, mais um treinador mal-sucedido num Vasco em grande conturbação nos últimos anos.
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A grande oportunidade surgiu em 2013: assumiu o comando da Raposa, mudou quase três quartos do plantel e no primeiro ano foi campeão. Repetiu a dose em 2014, embalado pela estrutura ganhadora que construiu em Belo Horizonte na temporada de arranque.
O despedimento à quarta jornada do Brasileirão ditou o fim de uma passagem histórica de Marcelo Oliveira pelo Cruzeiro.
Quem se seguirá na carreira deste discreto técnico já sessentão? Talvez o Palmeiras, que também começou mal a temporada 2015 e estará a ponderar demitir Oswaldo de Oliveira.
B.I.
MARCELO OLIVEIRA
Nome: Marcelo de Oliveira Santos Uzai Data de nascimento: 4 de março de 1955 (60 anos) Naturalidade: Pedro Leopoldo, Minas Gerais
Percurso como treinador: At. Mineiro, formação (2003-2007), CR (2008), At. Mineiro (2008), Ipatinga (2009), Paraná (2010), Coritiba (2011-12), Vasco da Gama (2012), Cruzeiro (2013-15) Percurso como jogador: At. Mineiro (1972-1984), Botafogo (1979-83, emprestado pelo At. Mineiro), Nacional Montevideu, Uruguai (1983), Desportiva Ferroviária (1984), América Mineiro (1985) Marcas relevantes como treinador: segunda divisão do estadual mineiro, Ipatinga (2009); estadual paranaense, Coritiba (2011, 2012); título do Brasileirão 2013 e 2014, Cruzeiro; estadual mineiro 2014
«Mundo Brasil» é uma rubrica que conta histórias das experiências de jogadores e treinadores brasileiros que atuam ou já atuaram em campeonatos espalhados pelo globo
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