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«Um dos campeonatos que estamos a observar mais é a II Liga inglesa»

Fernando Santos em entrevista ao Maisfutebol

Fernando Santos destaca a importância de ter os jogadores portugueses a jogar em campeonatos, e equipas, de topo. E falou sobre o trabalho de observação de novos jogadores, que está longe de se esgotar aí. A Federação vai a todos os pequenos jogos onde houver um português que interesse, diz. Faz uma média de 60 a 70 observações por mês e um dos campeonatos que ultimamente mais vê até é a II Liga inglesa. De caminho o selecionador fala sobre a tendência para os jogadores deixarem muito cedo o país, não apenas para campeonatos de topo. E, como alguém que esteve fora e voltou a Portugal, diz também como vê o futebol português atual, com um ambiente tão diferente na seleção e nos clubes. Está mais radical, diz, e faz-lhe lembrar mais a Grécia. Mas também espera que a onda positiva da Seleção contagie os clubes.

Disse uma vez que a Seleção não tinha um núcleo geracional. Sente que agora já o tem mais?

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Não. O Pepe não é da geração de nenhum dos outros, o Cristiano não é, enfim. Quando falamos em gerações, teríamos de falar num grupo que está ali com dois ou três anos de diferença. Esta Suíça que defrontámos, e que é uma excelente equipa, tem um núcleo de oito ou nove jogadores que é da mesma geração. São jogadores que estão entre os 24 e os 26 anos, que foram campeões na formação e que jogam juntos desde os 17 ou 18 anos. Jogam há cinco ou seis anos juntos. Portanto esta é uma geração.

E é uma melhor base ter uma geração?

A seleção que é campeã da Europa tinha o Ricardo Carvalho, que é da geração de 2004. O Cristiano também. O Pepe, que felizmente é um grande português e tem um sentimento pelo menos igual aos portugueses, nem da geração portuguesa é. A seleção campeão europeia tinha de ser repartida para aí por três gerações. O que é importante é que este grupo tão heterogéneo formou uma grande equipa. Esta é uma grande equipa.

Mas podemos começar a pensar que há um núclero geracional para o futuro?

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Naturalmente que todos os anos chegam novos jogadores. Mas sempre disse que para mim o bilhete de identidade não conta rigorosamente nada. O que conta é a qualidade individual e o que podemos fazer com ela em termos de grupos. E isso podes fazer com jogadores de 17 anos ou de 37 anos. No Europeu tínhamos um de 18 anos e outro de 37. Para termos uma geração a jogar tínhamos de pegar na seleção sub-21 e pô-la a jogar na Seleção Nacional. Isso não existe, não é?

Voltamos a ter jogadores em campeonato de topo.

Sim, mas já tivemos mais.

Sim, já tivemos mais. Mas a pergunta é: isso é bom ou preferia tê-los em Portugal?

É bom. São jogadores que competem sempre a alto nível, com um grau de exigência muito grande. Isso é fundamental. Quem, como eu, já trabalhou em todos os níveis, sabe que o hábito de ganhar torna as coisas muito mais competitivas. Os jogadores que partem para estas equipas são levados para confrontos muito intensos, de pressão constante.

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Mas não o preocupa que o campeonato português não consiga segurar os melhores jogadores?

Nunca vai conseguir e não devemos estar traumatizados com isso. Não vamos conseguir por uma questão económica. Pensar nisso é arranjar um subterfúgio para fugir à questão essencial. Temos de olhar para as coisas como elas são. Somos vendedores, não somos compradores, e isso pode ajudar ao nível da formação, porque os clubes trabalham bem na ótica de formar bem para poder vender bem. Não é nenhum empecilho e nem sei se era positivo para o campeonato português que fosse de outra forma. O campeonato português não é tão mau como algumas pessoas o pintam. O campeonato português é bom. Mas o jogador português quando vai jogar para fora vai para as grandes equipas, que jogam a Liga dos Campeões, campeonatos fortíssimos, e isso só traz coisas positivas.

E os outros que saem do Marítimo ou do V. Guimarães para campeonatos da Polónia, da Grécia ou do Chipre? Preocupam-o mais?

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Vou dar um exemplo concreto: há um jogador, que está a jogar muito bem na seleção grega, que é capitão do Panathinaikos, mas que não teria hipóteses na seleção portuguesa, que é o Zeca. A Seleção Nacional neste momento não tem espaço para o Zeca. O futebol é isto. Há jogadores que num determinado momento não têm lugar numa determinada equipa, então o melhor é irem jogar. Isso não os enfraquece a eles nem ao futebol português. Depois há outra coisa. O Danilo quando foi chamado à Seleção jogava no Marítimo. O Raphael Guerreiro jogava no Lorient. O Éder jogava no Sp. Braga. Porquê? Porque nós não nos limitamos a observar jogadores do Real Madrid. Fazemos em média entre 60 e 70 observações por mês. Por exemplo um dos campeonatos que estamos a observar com mais insistência é a II Liga inglesa. Portanto isso para clubes mais pequenos ou campeonatos mais pequenos não é nenhum obstáculo.

A qualidade tanto pode ser observada em Portugal como noutro lado qualquer, é isso?

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Não, nós vamos lá. Nós temos um leque muito alargado de jogadores sob observação, que anda à volta dos 50, tirando outros que já nem estão sob observação porque não vamos naturalmente observar o Cristiano Ronaldo. Posso referir por exemplo o caso do Kevin Rodrigues, que está a jogar na Real Sociedad e que tem estado em constante observação. Há jogadores que estão sempre a despontar e que nos fazem avançar rapidamente.

O Fernando Santos trabalhou no futebol português muitos anos, treinou os três grandes. Esteve fora, voltou a Portugal. Como é que vê o futebol português, como é que explica que a seleção esteja a este nível positivo e o futebol de clubes continue envolto em polémicas, um tema que aliás foi abordado recentemente pelo presidente da Federação?

Não sei se piorou. Está mais radical se calhar. A clubite sempre existiu. Acho é que se está a aproximar mais da Grécia. Quando fui para a Grécia para mim foi um grande choque, a rivalidade levada ao extremo. A irracionalidade de ser de um clube. Quando fui para a Grécia isso chocou-me. Mesmo a nível jornalístico, os próprios jornais eram dos clubes, era uma espécie de guerra. Em Portugal não estava habituado. Portugal nessa altura não era assim. Nesse aspeto acho que estamos a ficar mais parecidos com os gregos, estamos a ficar mais radicais. Não sei por que é, não podemos só apontar o foco a um lado. Mas acho que em termos de futebol e seleções nacionais no fim vão ter de erguer uma estátua a este presidente. Ficava-lhe bem o nome aqui da Cidade do Futebol. Não retiro mérito a todos os outros presidentes da Federação, mas os factos o que atestam é que esta direção é tremenda.

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Mas há duas realidades, a da Seleção e a dos clubes

Mas quando se dá exemplos positivos acaba por ter algum reflexo. Acho que sim. Acho que uma coisa irá contagiar a outra. 

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