«Até ao fim» é uma rubrica do Maisfutebol que visita adeptos que tenham uma paixão incondicional por um clube e uma história para contar. Críticas e sugestões para mgandrade@mediacapital.pt
João Ricardo Pereira nasceu numa família de sportinguistas, mas cresceu benfiquista, é sócio desde os 10 anos de vida e partilha a paixão pelo clube encarnado com a irmã e o pai - que lha passou e alimenta. Os três a «destoar» numa família que veste de verde e branco. Uma cor que João, médico de 34 anos, até veste, mas é de vermelho e, sobretudo com a camisola do Benfica, que se sente bem.
«É aquele orgulho», contou ao Maisfutebol.
João Ricardo Pereira, que trabalha no Hospital Rovisco Pais, na Tocha, já visitou 57 países, 13 para acompanhar o Benfica, e vai sempre de vermelho. «Levo sempre a camisola, cachecóis e uma bandeira», disse, recordando que já chegou a voltar sem os adereços: «Aconteceu em Moçambique. Visitei o bairro do Eusébio e deixei lá tudo com os miúdos, por isso depois tive de voltar a fazer uma bandeira a dizer 'Benfica onde quer que vás'.»
E é assim mesmo. Onde quer que o Benfica vá.
O conimbricense já esteve um pouco por todo o lado, e corre Portugal de Norte a Sul para ver o Benfica, mas diz que ver o clube no estrangeiro é ainda mais especial. «Quer se perca ou se ganhe, ver o Benfica fora é sempre bom até pelo convívio e porque acho que a paixão que nos une no estrangeiro ainda é maior, tal como a união. Lá fora demonstramos mais amor», afirmou.
João lembra-se bem dos primeiros jogos no Estádio da Luz, ainda bem pequenino, e recorda de forma especial um da Taça das Taças em 1994, quando tinha 10 anos: «Foi a 29 de março. Ganhámos 2-1, o estádio estava a rebentar pelas costuras e o Rui Costa fazia anos. Lembro-me de lhe cantarmos os parabéns.»
10 anos depois desse jogo com o Parma, João estreou-se nos jogos fora precisamente frente a um adversário italiano. «Foi com o Inter, perdemos 4-3 nesse jogo», disse, recordando que cometeu a «pequena loucura de ir de comboio e de dormir na estação».
Depois desse, seguiram-se mais 29, entre eles as duas finais da Liga Europa com o Chelsea e o Sevilha, e por isso já são 30... a caminho dos 31. Isto porque, na quinta-feira, o Benfica joga frente ao Dínamo Zagreb a primeira mão dos oitavos de final da Liga Europa, e, claro, o João vai lá estar.
A pergunta que se impõe é, claro, como é que se conseguem conciliar tantos jogos do Benfica e viagens, um pouco por todo o lado, com a especialidade de medicina interna, um casamento e um filho de 19 meses?
«Não é fácil, mas faz-se», disse a rir, elogiando a mulher sportinguista, «que não vê muito futebol e que não liga muito ao clube». «Sem o apoio dela era impossível», enalteceu, dizendo que, apesar de «rival», a esposa não se chateia com as horas que dedica ao Benfica: «Já me conhece há mais de 20 anos, já sabia como era, por isso entende e compreende.»
No Rovisco Pais também já sabem o que a casa gasta. «Quando é para trabalhar, trabalha-se e trabalho vários feriados e fins-de-semana para conseguir tirar dias para viajar e ver o Benfica», disse, admitindo, sem grande custo, que orienta a vida consoante o Benfica. «Sim, pode dizer-se que sim. Tento que a minha vida e o meu trabalho não colidam com os jogos do Benfica», atirou, dizendo que, por isso, «é raro estar a trabalhar e o Benfica estar a jogar».
Com mais uma época na reta final, João sabe que ainda há muitos jogos e viagens pela frente, mas já se imagina no Marquês de Pombal, em Lisboa, onde tem por hábito festejar os títulos do Benfica, a celebrar o «37».
«Admito que com o Rui Vitória como treinador dei o campeonato como perdido, mas agora com o Bruno Lage passei a acreditar. Jogamos mais, voltámos ao 4x4x2, temos dinâmica e bons resultados. Ganhámos em Guimarães, em Alvalade e agora no Dragão, que era até aqui a maior prova de fogo, e passámos para primeiro, por isso estou confiante. Temos uma equipa muito jovem que em algum momento pode tremer, devido a isso, mas agora com dois pontos a mais e vantagem no confronto direto, acho que somos favoritos», disse.
O certo é que, aconteça o que acontecer, o João vai continuar a acompanhar o Benfica «onde quer que ele vá» e, a partir de dia 9 de março, com mais um adereço: a águia de prata, que simboliza a ligação de 25 anos ao clube da Luz.
Até ao fim...
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Artigo original: 05/03; 23h50