A bola do primeiro Mundial era uma montagem de 12 peças e deixou uma história caricata: apesar do Uruguai jogar com a Modelo-T, a Argentina estava habituada à Tiento, que era ligeiramente mais pequena e mais leve. Como os argentinos não abdicavam da bola deles, na final decidiu-se que cada parte seria jogada com um modelo diferente. Assim foi e o Uruguai venceu por 4-2.
A bola do segundo Mundial tinha treze peças de couro, com três formas diferentes, e trazia uma enorme novidade que eram os cardaços em algodão, ao contrário dos modelos anteriores, o que supostamente tornava os cabeceamentos menos dolorosos.
Também conhecida por Allen, que foi a empresa sediada em Paris que a fabricou, esta bola era muito semelhante à do Mundial 1934, embora com duas diferenças básicas: o couro era de um castanho mais escuro e a costura central era bastante mais discreta.
Fabricado por uma empresa brasileira, este modelo foi revolucionário por ser o primeiro que tinha uma câmara interior e uma válvula para enchimento, pelo que dispensava os habituais laços externos. As doze peças eram curvadas nas bordas, para provocar menos tensão na costura.
A Suíça inaugurou a era das bolas com dimensões padronizadas pela FIFA e com dezoito paneis, de duas formas distintas, que haveria de se manter até ao Mundial 66. Era um modelo ao jeito das bolas de voleibol e com uma cor clara para ser mais visível pelo olho humano.
Foi a primeira bola encontrada por concurso, depois da FIFA ter lançado o desafio a todas as empresas de materiais desportivos do mundo. Após uma análise dos dirigentes, foram encontradas as dez finalistas, que foram testadas no campo. A vencedora foi a candidata número 55, curiosamente feita por uma empresa sueca: tinha 24 segmentos e costura em ziguezague.
Foi talvez a bola mais polémica dos Mundiais e, por isso mesmo, a última a não ser fabricada por uma grande multinacional. Os jogadores, sobretudo os europeus, queixavam-se que era pesada e que magoava os pés, provavelmente porque absorvia muito a água quando chovia. Antes do jogo de abertura, o árbitro inglês Ken Aston ficou perplexo com o mau estado da bola, que perdera a cor e estava descascada, tendo exigido outro modelo. Foram então buscar a Top Star, do Mundial anterior, mas que só chegou aos 55 minutos. Foi a última vez que uma pequena empresa local fabricou a bola oficial de um Mundial.
Foi a primeira bola fabricada por uma multinacional: a inglesa Slazenger, que ganhou o concurso apresentado pela FIFA só para as maiores empresas mundiais de produtos de desporto. A Slazenger pediu ao funcionário mais experiente que fizesse vinte bolas, escolheu a mais perfeita e enviou-a para a sede da FIFA. Após ganhar o concurso, foram-lhe encomendados trezentos exemplares para usar no Mundial, os quais tinham inscrito no interior o nome do trabalhador que a fizera. Foi com esta bola, originalmente num tom castanho avermelhado, que Eusébio fez nove golos.
Memorável. A Telstar marcou a história das bolas de futebol. Antes do Mundial 70, no México, a FIFA tornou a Adidas fornecedora oficial dos Campeonatos do Mundo e a marca alemã estreou-se com um modelo carismático. Antes de mais, porque era a duas cores, preto e branco, para se detetar melhor na televisão, porque o Mundial ia ser transmitido ao vivo e a preto e branco. O nome Telstar foi aliás uma homenagem ao satélite com o mesmo nome usado para as transmissões de jogos de futebol. Mas foi carismática também por ser a primeira a usar 32 painéis, no que se inspirou nas cúpulas geodésicas para ser o mais esférico possível. Após o México 70, o design da Telstar tornou-se a representação clássica de uma bola de futebol no imaginário mundial.
Após o sucesso da Telstar, a Adidas lançou a Telstar Durlast em 74, que era basicamente igual à anterior, apenas com uma diferença: o couro era revestido com poliuretano, para dar à bola mais impermeabilização e maior proteção contra arranhões e rasgos. Foram fabricados apenas vinte modelos, mas após o Mundial da Alemanha foram vendidos cerca de 600 mil exemplares.
Outro modelo icónico e que durou, durou, durou. Teve aliás vários filhos: Tango Italia (Euro 80), Tango España (Mundial 82), Tango Mundial (Euro 84), Tango Sevilla (Jogos Olímpicos 84), Tango Europa (Euro 88), Tango Seoul (Jogos Olímpicos 88) e Tango 12 (Euro 2012). A original foi fabricada para o Mundial 78, foi buscar o nome à dança argentina e, apesar de manter os 32 painéis da Telstar, era decorada com vinte «tríadas Tango» que criavam a ilusão de ótica de formar 12 círculos idênticos. Uma forma, disse a Adidas, de homenagear a elegância do tango.
Ficou para a história por ser a última bola de couro usada num Mundial. O design era praticamente o mesmo da Tango, mas esta era revestida com poliuretano e também borracha, o que a tornava mais impermeável. No entanto, e por necessitar de uma costura mais delicada, era pouco resistente, precisava ao fim de algum tempo de ser reparada e tinha de ser substituída durante os jogos.
Para o Mundial que consagrou Maradona a Adidas lançou uma grande novidade: a primeira bola feita em material sintético. O couro foi então abandonado e as bolas ganharam uma nova vida: muito mais resistentes, duradouras e leves. Manteve a decoração que criava a ilusão de ótica de criar 12 círculos idênticos, mas substituiu as «tríades Tango» por «tríades de arte azteca», como forma de homenagear o país organizador do Campeonato do Mundo.
Outra bola mítica dos Mundiais, que tinha a novidade de ser a totalmente impermeável: possuía uma camada interna de espuma negra de neoprene, que não deixava entrar água, pelo que pela primeira vez não ficava pesada e dura com a chuva. Era, aliás, uma bola rápida e leve. O design mantinha as vinte tríades, mas substituía a arte azteca pelas três cabeças de leão da arte etrusca, a arte de uma antiga civilização que viveu na Etrúria, que é atualmente o centro de Itália. A Etrusco foi utilizada no Mundial 90, Copa América 91, Euro 92 e Jogos Olímpicos 92.
Mantinha na essência o design da Etrusco, da Azteca e da Tango, embora as tríades tenham sido decoradas com as estrelas da bandeira dos Estados Unidos. O nome Questra, aliás, deriva de uma antiga palavra inglesa que significava «a procura pelas estrelas». Produzida com cinco materiais diferentes e envolvida em espuma de poliestireno, este modelo era mais leve e ágil, tinha um toque mais macio e era mais fácil de dominar, o que muito agradou aos jogadores. Foi um sucesso de popularidade e por isso teve várias herdeiras: Questra America (Copa América 95), Questra Europa (Euro 96) e Questra Olympia (Jogos Olímpicos 96).
Foi a primeira bola multicolor, tendo utilizado as três cores da bandeira francesa: azul, branco e vermelho. As três cores – que inspiraram o nome do modelo – podiam encontrar-se nas tríades, nas quais estava representado também o galo, símbolo de França. Tinha a grande novidade de ser fabricada com uma camada interior de microbolhas de gás, que tornaram a bola mais resistente.
A Fevernova foi apresentada como o maior avanço no design de bolas desde a Tango e na verdade era um modelo esteticamente revolucionário. Cortava completamente com a tradição de tríades das últimas décadas, apresentado antes uma espécie de três shurikens (uma arma de arremesso japonesa), muito coloridos e totalmente baseados na cultura asiática. Tecnicamente destacava-se por ter três camadas de cobertura, entres elas uma última camada de plástico transparente, que permitiam ter mais precisão. No entanto, foi muito criticada por ser demasiado leve.
Para o Mundial que a Adidas jogava em casa, foi criada uma bola que rompeu com os 32 painéis utilizados desde 1970: a +Teamgeist utiliza apenas 14 painéis, todos eles curvados e que são termosoldados em vez de costurados. Na altura a marca argumentou que desta forma a bola teria uma performance mais uniforme. O nome significa «espírito de equipa» em alemão e por problemas no registo do nome foi acrescentado o «+» antes. Refira-se por fim que todas as bolas utilizadas nos jogos do Mundial 2006 foram personalizadas com o nome do estádio e das equipas, da data e da hora de início do jogo.
Desenvolvida em parceria com a Loughborough University, de Inglaterra, a Jabulani substituiu os 14 painéis da +Teamgeist por oito painéis tridimensionais e também termosoldados. A superfície foi coberta por uma textura desenvolvida tecnologicamente pela Adidas, que recebeu o nome de Grip n’Groove e que melhorava a aerodinâmica da bola. A verdade é este modelo foi ainda mais criticado dos que os já muito criticados dois anteriores, sobretudo pelos guarda-redes que se queixavam do trajeto imprevisíveis que a bola tomava após ser rematada. De resto, foi decorada com onze cores, que simbolizavam as onze línguas oficiais e onze tribos da África do Sul, chamou-se Jabulani por ser uma palavra que significa «ser feliz» em zulu.
Após as críticas feitas à Jabulani, a Brazuca foi desenvolvida durante dois anos e meio, durante os quais foi testada por mais de 600 jogadores, de um total de dez países, que foram dando as suas opiniões. A versão final é formada por seis painéis simétricos e uma textura que se sente mais, o que melhora o controlo. O nome foi encontrado após uma votação aberta ao público, na qual participaram mais de um milhão de brasileiros: Brazuca goleou nas preferências dos adeptos as hipóteses Bossa Nova e Carnavalesca.
Para o Mundial 2018, a Adidas resolveu homenagear o primeiro modelo que criou para um Campeonato do Mundo, a Telstar que tinha introduzido o preto e branco nas bolas em 1970. O design da Telstar 18 é uma homenagem à primeira bola da Adidas e maior novidade é que tinha um chip incorporado que permitia a qualquer pessoa que comprasse um exemplar conectar a bola com o smartphone e saber onde ela estava e que trajeto tinha feito. De resto, mantinha a tecnologia de seis panéis simétricos da Brazuca.
Após dois Mundiais a utilizar bolas de seis painéis, a Adidas voltou a mudar e criou uma bola com vinte painéis e mais uma camada interior inovadora, desenvolvida em laboratório pela própria marca, para aumentar a precisão e a velocidade do jogo. Chamada de Al Rihla, que significa «a jornada», tem um design inspirado na arquitetura, nos barcos tradicionais e na bandeira do Qatar, é preenchida com linhas azuis, vermelhas e amarelas, com detalhes dourados, numa alusão à cultura do país.