Carlos Queiroz deu uma entrevista ao Maisfutebol e à TVI na qual abordou a nova era na seleção e falou da tão propalada renovação da equipa nacional: as pessoas querem uma revolução, mas revoluções com sucesso só o Chelsea, o PSG e o Real Madrid podem fazer, diz.

A escolha de Fernando Santos foi uma boa escolha?
Eu acho que sim. Posso ser suspeito, tenho um apreço e uma estima muito grande pelo Fernando, mas é um homem que tem experiência, tem capacidades, tem inteligência, valor, provas dadas, tem a serenidade e o espírito de grupo que podem trazer a unidade e a solidariedade para a seleção.

É o que ele está a fazer?
É a primeira etapa que sinto que o Fernando está a tentar fazer. Depois há as decisões. Ainda não tive oportunidade de falar com ele, mas ele sabe muito bem que não há futuro sem presente. Por isso é preciso ganhar o presente, para com serenidade ter futuro. Este selecionador, o grupo de trabalho, precisam e merecem um espaço de tolerância. Precisam que se lhes dê tempo...

Mas a chamada de jogadores veteranos, que estavam afastados da seleção, não choca com essa ideia de ganhar o presente para ter futuro?
A questão da renovação é outra ideia. Estamos num processo de qualificação e houve uma rutura de liderança. E é isso que eu digo, é preciso ganhar o presente para ter futuro. Uma coisa é a renovação e outra coisa é o futebol, em noventa minutos ganhar o jogo. Não se pode querer ganhar o futuro comprometendo o presente. Por isso as decisões de chamar estes jogadores tem a ver com ganhar tempo. Como? Ganhando jogos. A renovação é uma ideia mais profunda.



Que ideia é essa?
Na minha opinião há que não confundir renovação com revolução. As revoluções em futebol só acontecem com algum sucesso onde o dinheiro fala: onde é possível gastar 400 ou 500 milhões de euros, aí podemos fazer revoluções e apostar no sucesso a curto prazo. A renovação é diferente de uma revolução, é um processo continuado e progressivo porque há que ter qualidade e experiência.

Nas seleções não há dinheiro...
No PSG, no Chelsea, no Real Madrid, posso comprar qualidade e experiência. Porque tenho dinheiro. Nos outros clubes e nas seleções ou compro qualidade ou compro experiência. As duas juntas, não. Por isso há que construir um grupo de trabalho que traga qualidade e novo sangue, mas que também tenha experiência. Num Euro, num Mundial, a experiência faz a diferença entre ganhar e perder.

Acha que Paulo Bento pode ter ficado melindrado por Fernando Santos recuperar jogadores que ele tinha afastado e que são veteranos?
Acho que não. Eu tomo as decisões que considero as melhores para mim, para os meus jogadores e para quem me paga. Acho que não há nenhuma razão para ficar melindrado. Quando eu saí o Paulo Bento também tomou as decisões que considerou melhores para ter sucesso.

Foi suspenso e viu o jogo com a Noruega na bancada, agora Fernando Santos está suspenso e vai ver o jogo com a Dinamarca na bancada. Sente que isso vai afetar a seleção?
A minha situação foi diferente: quis acompanhar a seleção e não me deixaram. Paguei a minha viagem à Noruega, a federação local recebeu-me e fiquei na tribuna do adversário. A Federação Portuguesa não deixou sequer ninguém da comitiva atender um telefonema meu. Estava proibido de me aproximar dos jogadores e não tive rigorosamente nada a ver com os dois jogos. Agora é diferente, o Fernando vai acertar a estratégia nos bastidores e é responsável pelo que acontecer.