Esta até tem epígrafe. Fantástico.

«Foi a jogada da minha vida. Só que a bola bateu muito atrás, quase no calcanhar, e saiu desviada».

Futre, Dezembro de 2010

A frase pertence a Paulo Futre e descreve aquele instante de magia na final de Viena. Lembrei-me dela a propósito desta outra frase aqui: a eterna discussão em torno de quem é o melhor jogador do Mundo.

Não sei quem é, mas sei quem não é. Futre, precisamente. Para mim, ele será sempre o segundo melhor jogador do Mundo. Aliás, não sou só eu. A própria France Football, no ano da graça de 1987, deu-lhe a Bola de Prata.

Ruud Gullit ficou com a Bola de Ouro, Futre com a de Prata. Tudo perfeito, portanto.

Voltando atrás, à jogada brilhante, não deixa de ser sintomático que a jogada da vida de Paulo Futre tenha deixado quatro alemães pregados ao chão e tenha acabado um metro ao lado da baliza.

Em poucas linhas: recebeu a bola sobre o meio-campo, combinou com Jaime Magalhães, fintou um, dois, três, quatro alemães, ficou na cara do golo e com a baliza à sua frente atirou ao lado.

Maradona fintou quatro ingleses, mais o guarda-redes, e marcou. O Brasil trocou 31 vezes sucessivas a bola até Carlos Alberto rematar para o título mundial de 70. Van Basten atirou de ângulo impossível para o triunfo no Europeu de 88.

Futre, na final da Liga dos Campeões, deixou quatro alemães tontos com tanta agilidade, e finalizou ao lado da baliza.

Eu, que gosto de talentos incompletos, e que um dia já elogiei Rentería por isso mesmo, não posso deixar de recordar Futre sempre que há uma discussão em torno do melhor do mundo.

Há uma geração inteira que cresceu para o futebol a ouvir os colegas gritar «passa a bola, que não és nenhum Futre». Para essa geração, Futre foi um génio: um génio imperfeito.

Para mim também.

Quem é o melhor do mundo? Não sei. Ou melhor, até sei, mas não quero saber. Para mim é Maradona. Mas podia ser Pelé. Ou Messi. Ronaldo, Van Basten ou Cristiano Ronaldo. Pode ser Cruyff, Di Stéfano ou Zidane.

Pode ser qualquer um. Podem ser todos. O segundo lugar, esse, pertencerá sempre a um talento que nunca chegou ao topo de nada. Um craque que tinha tudo, menos qualquer coisa. Futre.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol. Siga-o no twitter.