Libertadores de volta e a falar português: o que aí vem em dez pontos
Maior competição sul-americana de clubes arranca nesta terça-feira, com dois treinadores portugueses a liderar o lote de favoritos. Abel Ferreira procura vencer a prova pela terceira vez, Vítor Pereira lidera o Flamengo na defesa do título
A 64ª edição da fase de grupos da Taça Libertadores arranca nesta terça-feira. A maior competição sul-americana de clubes volta a ter treinadores portugueses a liderar o lote de favoritos. Abel Ferreira procura vencer a prova pela terceira vez, Vítor Pereira lidera o Flamengo na defesa do título. O que aí vem na maior competição sul-americana de clubes, em dez pontos.
Brasil à procura de um recordePUB
O Brasil parte como favorito para se tornar o primeiro país a vencer cinco vezes seguidas a Copa Libertadores. É a sequência daquele que tem sido o domínio continental do futebol brasileiro nos últimos anos. Quatro vitórias, duas para o Flamengo e duas para o Palmeiras, sete em oito dos semifinalistas em todas essas edições. Ambos os clubes têm três Libertadores no palmarés e se algum deles vencer esta edição torna-se o clube brasileiro com mais conquistas na competição. Esta época, o Brasil volta a dominar o quadro das 32 equipas na fase de grupos. Até podia ter oito equipas em prova, somando às vagas fixas a do vencedor em título. Mas o Fortaleza ficou pelo caminho nas pré-eliminatórias, pelo que são sete os clubes brasileiros nesta fase. Só a Argentina se aproxima, com cinco participantes. Depois, Equador, Colômbia, Peru e Paraguai têm três representantes cada um, enquanto Chile, Uruguai, Venezuela e Bolívia têm dois cada um.
Portugueses nos bancos dos principais favoritosPUB
O contingente de treinadores portugueses na Libertadores baixou consideravelmente em relação à última edição, que teve cinco técnicos nacionais nos bancos. Agora são apenas dois, mas lideram dois dos grandes favoritos na competição. O Flamengo é o campeão em título e tem agora no banco Vítor Pereira, com a missão de tentar repetir a conquista do seu antecessor, Dorival Junior. O outro português no banco é Abel Ferreira, que vai na quarta temporada no banco do Palmeiras e já venceu a Libertadores nas duas primeiras temporadas. Sucedeu a Jorge Jesus, que venceu em 2019 com o Flamengo e é o outro técnico português com a Libertadores no palmarés. Na época passada, o Palmeiras de Abel chegou à meia-final, que perdeu frente ao Athletico Paranaense. Embora haja nada menos que oito treinadores portugueses esta temporada no Brasileirão, só há mais dois em prova nas competições continentais: Luís Castro, com o Botafogo, e Pedro Caixinha, com o Bragantino, ambos na Taça Sul-Americana. Há outro técnico nacional na Libertadores – Ricardo Pereira, treinador de guarda-redes dos equatorianos do Independiente del Valle. Quanto a jogadores, o único português em competição será Rafael Ramos, defesa do Corinthians.
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Abel já fez história com o Palmeiras na Libertadores, mas pode aumentar ainda mais o seu impressionante currículo. Se vencer esta edição da competição, torna-se apenas o terceiro treinador com três títulos da competição. O recordista é Carlos Bianchi, com quatro troféus, seguido de outro argentino, Osvaldo Zubeldia, que venceu três vezes a Libertadores com o Estudiantes. Ainda antes do arranque, o Palmeiras já consolidou o seu estatuto na competição entre os clubes brasileiros. O campeão brasileiro em título é recordista de presenças, 23 no total, é o único com oito participações consecutivas e pode-se tornar o clube brasileiro com mais presenças em finais. E também, claro, aquele com mais vitórias. O Palmeiras está no Grupo C e tem como adversários os equatorianos do Barcelona, semi-finalistas em 2021, mais o Bolívar (Bolívia) e o Cerro Porteño (Paraguai). Também se estreia nesta edição nas alturas, nada menos que a 3.600 metros de altitude em La Paz. A tentar entrar com o pé direito, quando vem de uma derrota embaraçosa na primeira mão da final do Paulista, frente ao Água Santa, da quarta divisão.
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Vítor Pereira já está sob enorme pressão ainda antes de começar a disputar a Libertadores. O treinador chegou ao Flamengo em janeiro, menos de dois meses depois de ter deixado o Corinthians, e não começou bem. Tinha três troféus em jogo e não venceu nenhum: perdeu a Supertaça brasileira para o Palmeiras de Abel, ficou-se pela meia-final e depois pelo terceiro lugar no Mundial de clubes e perdeu também a Supertaça sul-americana para o Independiente del Valle. Agora, está na final do Campeonato Carioca, em vantagem sobre o Fluminense depois da primeira mão. O Flamengo lidera o clube com maior orçamento da Libertadores e é o óbvio favorito à vitória no Grupo A, onde tem como principal adversário o Racing, que em 2020 foi o responsável pela eliminação do Flamengo na Libertadores. Orientado pelo antigo internacional Fernando Gago, na época passada o Racing esteve até final na corrida pelo título argentino. A completar o grupo estão dois absolutos estreantes na competição: o Aucas, que garantiu a vaga por ter conquistado o campeonato do Equador, e o Ñublense, vice-campeão em título do Chile. A estreia do Fla, na noite de quarta-feira, será em casa do Aucas. Uma longa viagem e um jogo a 2.850m de altitude em Quito.
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Confira aqui os grupos da Libertadores
Quem está mais na luta esta época?
Há expectativas para todos os gostos entre os restantes clubes brasileiros. O Athletico Paranaense procura repetir a época passada, quando chegou à final, então com Scolari no banco, um ano depois de ter vencido a Copa Sul-Americana. Felipão retirou-se e foi rendido por Paulo Turra. Há ainda o Atlético Mineiro, vencedor em 2013, que tem Hulk e tem agora mais dois reforços bem conhecidos dos portugueses, Battaglia e Saravia. Bem como o Internacional, vice-campeão brasileiro em título e que venceu a prova por duas vezes. E há o Corinthians, a procurar melhorar o registo medíocre a época passada, com Vítor Pereira, quando somou apenas duas vitórias em 10 jogos. O contingente brasileiro completa-se com o Fluminense, que tem no palmarés apenas uma presença na final, em 2008, e conta esta época com um reforço mediático, o lateral Marcelo, de volta a casa depois de uma vida no Real Madrid e de uma passagem pela Grécia. Depois há os dois gigantes argentinos. O River Plate foi a última equipa não brasileira a vencer a Libertadores, em 2018. Marcelo Gallardo, o treinador responsável por duas das quatro conquistas do clube, saiu no final da época passada, ao fim de nove anos. O seu sucessor é Martin Demichelis, antigo internacional que estava ligado à formação do Bayern Munique e que entrou com o pé direito: lidera o campeonato argentino ao fim de nove jornadas, com sete vitórias e duas derrotas. O Boca Juniors, que venceu a Libertadores por seis vezes, a última das quais em 2007, atravessa uma fase de transição, depois da saída de Hugo Ibarra, o treinador que foi campeão na época passada, mas não resistiu a um mau arranque de temporada. Estão em prova também alguns dos outros pesos-pesados do continente para lá de Argentina e Brasil, incluindo o Nacional, do Uruguai, três vezes vencedor, tal como o Olímpia, do Paraguai, ou os colombianos do Atlético Nacional, que em 2016 foi a última equipa a quebrar o monopólio de Brasil e Argentina na prova. Outro clube que parte com ambições é o Independiente del Valle. Os equatorianos, finalistas precisamente em 2016, venceram na época passada a Copa Sul-americana e já este ano bateram o Flamengo na final da Recopa.
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Historicamente, a Argentina ainda lidera o palmarés da Libertadores, com 25 triunfos, contra 22 de clubes brasileiros e oito de clubes uruguaios. Mas essa hegemonia tem vindo a diluir-se. Uma boa parte desse palmarés pertence ao Independiente, que é recordista com sete troféus, mas só conta três presenças na competição neste século, a última delas em 2018. Também não está nesta edição o Estudiantes, que soma quatro troféus, o último dos quais em 2009. Nem o Velez Sarsfield, a única equipa que na época passada se intrometeu entre brasileiros nas meias-finais. Outro dos ausentes de peso é o Peñarol, cinco vezes vencedor mas longe do poderio de outros tempos: o gigante uruguaio não passa a fase de grupos desde 2011, quando foi finalista. Continuando nos clubes com melhor pedigree na competição, também faltam os brasileiros São Paulo, Santos e Grémio, todos com três conquistas.
Um estreante que joga na II DivisãoEstão em competição esta época muitos dos pesos-pesados do continente, mas também há lugar a novidades. São nada menos do que cinco os estreantes em competição. Entre eles está o Patronato, que protagoniza uma história notável. No ano passado foi relegado à II Divisão, fruto da combinação de resultados das últimas temporadas, mas venceu a Taça da Argentina, no fim de um percurso incrível em que deixou pelo caminho o River Plate e o Boca Juniors. Sedeado em Paraná, cidade homónima do estado brasileiro, não vai poder receber os primeiros jogos da Libertadores no seu estádio, que não foi aprovado pela Conmebol, e usará o recinto do Colón. De resto, o desfecho de vários campeonatos sul-americanos na época passada abriu caminho a várias presenças inéditas. Como a do Deportivo Pereira, campeão da Colômbia, ou do Metropolitano, campeão da Venezuela, bem como do Aucas e do Núblense, adversários do Flamengo.
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Gabigol é sinónimo das últimas duas conquistas do Flamengo e pode deixar o seu nome ainda mais marcado na história da competição. O jogador que passou pelo Benfica e está a viver a quinta temporada no Mengão foi o herói das vitórias de 2019 e 2022, autor dos golos decisivos na final. Mas tem muitos mais. Leva 29 golos na Libertadores, divide o estatuto de melhor marcador brasileiro na competição com o antigo avançado Luizão e está a dois golos de entrar para o pódio dos maiores goleadores de sempre. Na frente está o equatoriano Alberto Spencer, que representou o Peñarol e passou ainda pelo Barcelona de Guayaquil, com um incrível total de 54 golos. Em segundo, com 37 golos, estão os uruguaios Fernando Morena e Pedro Rocha, que também se distinguiram sobretudo no Peñarol, seguidos do argentino Daniel Onega, que macou 31 golos pelo River Plate na prova continental.
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A Conmebol tem vindo a aumentar substancialmente os prémios monetários atribuídos aos clubes nas suas competições, especialmente na Libertadores. Este ano esse valor aumentou em 21 por cento, para cerca de 200 milhões de euros. A presença na fase de grupos vale 3 milhões de dólares e este ano há também prémios por cada vitória nessa fase, no valor de 300 mil dólares. Há também prémios de qualificação para os oitavos e para os quartos de final, enquanto a maior fatia vai para os finalistas: o campeão ganha 18 milhões de dólares e o vice fica com sete milhões. No limite, o vencedor pode somar 28 milhões de dólares, cerca de 26 milhões de euros. Ainda assim bem longe da Liga dos Campeões, que distribui dez vezes mais só em prémios. O Benfica, por exemplo, já superou os 71 milhões de ganhos esta época, pelo percurso até aos quartos de final.
Final no MaracanãEsta será a quinta edição da Libertadores com final única, uma inovação que continua a merecer muitas críticas, num continente da dimensão da América do Sul, onde as deslocações obrigam adeptos a enormes gastos. A final está marcada para 11 de novembro e volta este ano ao Maracanã, que em 2020 foi o palco da primeira vitória de Abel Ferreira com o Palmeiras, frente ao Santos. Vivia-se ainda em pandemia e o estádio teve lotação limitada. O estádio do Rio de Janeiro é o primeiro a receber a decisão por duas vezes neste formato. No ano passado a decisão foi em Guayaquil, no Equador. Em 2019, o Flamengo de Jorge Jesus festejou a conquista em Lima, no Peru, enquanto em 2021 o segundo triunfo de Abel aconteceu em Montevideo, no Uruguai.
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