Após uma campanha horrível no Euro 2020 e de ter falhado a presença no Mundial 2022 (por culpa de Portugal), a Turquia apontou Vincenzo Montella como o sucessor de Stefan Kuntz, em setembro de 2023.

As «Estrelas Crescentes» fizeram uma boa qualificação para o Euro 2024, venceram a Croácia (já com o novo selecionador) e o grupo da fase de apuramento. Arrancaram também a participação no grupo F do Campeonato da Europa com um triunfo frente à Geórgia (3-1). Significa, portanto, que Montella melhorou a selecão turca no que respeita aos resultados e acima de tudo, conferiu-lhe uma identidade.

Carlos Freitas e Abel Pimenta, que trabalharam com o transalpino na Fiorentina e no Sevilha, descrevem-no como um «detalhista».

«Não lhe chamaria romântico, mas um detalhista criativo.» É assim que o diretor desportivo define o selecionador turco, opinião que é corroborada pelo adjunto de Daniel Sousa em Braga.

«Ele é um treinador detalhista. Um exemplo disso mesmo foi a forma como preparou o Sevilha do ponto de vista tático e estratégico nos oitavos de final da Champions contra o Manchester United do Mourinho», defende.

Os traços da ideia de jogo de Montella são claros e já se nota o dedo do italiano nesta Turquia.

«Além da competência defensiva, que é traço dos treinadores italianos, o Montella tem muitas competências na forma como trabalha a organização ofensiva. No Sevilha queríamos um treinador que montasse uma equipa capaz de dominar o jogo, de ter bola. E estes são traços que reconheço ao Montella», aponta Abel Pimenta, facto que foi referido por Roberto Martínez na conferência prévia ao jogo.

 

Ao comando do Sevilha, Montella eliminou o United de Mourinho nos oitavos de final da Champions em 2017/18.

Antigo avançado, o italiano aprecia jogadores com qualidade técnica e privilegia o jogo associativo. Carlos Freitas lembra o regresso de Montella a Florença numa fase delicada do clube viola.

«Na primeira passagem do Montella por Florença, a Florentina era uma das equipas que melhor futebol jogava em Itália. Construiu uma equipa com uma boa construção de jogo e com várias soluções ofensivas. Regressou depois e apanhou uma equipa meia em cacos pela saída de um líder marcante como o Pioli e pelo desaparecimento do Astori. Ainda assim, o Montella levou a equipa às meias-finais da Taça de Itália e atingiu o objetivo que era a permanência na Serie A», recorda.

«O Montella é um treinador capaz de construir uma equipa apelativa. Não é um fundamentalista da organização ofensiva per si. Não descura a parte defensiva, mas tenta ligá-la à parte ofensiva. É alguém que tem atenção aos vários momentos do jogo e que gosta de compatibilizar taticamente jogadores que podem, à partida, ser incompatíveis», acrescenta.

Um treinador corajoso, exigente, defensor de um futebol positivo e um líder «tranquilo» e «próximo dos jogadores».

«O Montella tinha uma boa ligação com os jogadores. Mas ao mesmo tempo era muito exigente nos detalhes táticos ao nível do posicionamento e dos comportamentos defensivos. Lembro-me muito dessa exigência que ele tinha nos treinos», rememora Abel Pimenta.

O antigo analista do Sevilha partilha uma história que guarda da experiência com Vincenzo Montella, «alguém tipicamente italiano, que gosta de se expressar e que aprecia um bom jantar».

«Pessoalmente guardo muito boas recordações dele. Cheguei ao Sevilha com o Berizzo e ele saiu, mas eu continuei ligado à estrutura. Tinha estado ligado ao antigo treinador e podia ser olhado um pouco de lado, mas a equipa técnica e o próprio Montella fizeram integraram-me e criámos uma cumplicidade muito grande. Fiquei a gostar da pessoa. Estabeleci uma ligação mais forte com o Simone Montanaro, atual analista do Ancelotti no Real Madrid, porque tínhamos uma forma parecida de olhar para o jogo», concluiu.

Este sábado, em Dortmund, Portugal pode esperar uma Turquia de querer ter bola e a saber o que fazer com ela. Enfim, uma equipa à imagem de Montella, defensor de um futebol bem diferente do que a Chéquia apresenta.