50 jogos depois, um 0-0.

Ainda não tinha havido jogos sem golos no Euro 2024, mas França e Países Baixos quiseram esta noite fazer-nos descer à terra.

A última vez, de resto, que tinha havido um 0-0 num Campeonato da Europa foi no Euro 2020, também na segunda jornada da fase de grupos.

Ora, poderá dizer-se, e com alguma propriedade, que esta França empatar a zero não é propriamente surpreendente: os gauleses têm tanto de talentosos – talvez a seleção mais talentosa do mundo atualmente – como de conservadores, principalmente na cabeça do seu selecionador, Didier Deschamps.

Rabiot fez de... Mbappé

Sem Kylian Mbappé, ainda a recuperar da fratura do nariz, menos surpreendente é. E menos ainda se olharmos para o substituto do craque do Real Madrid no onze gaulês: Adrien Rabiot, um médio que compensa com presença física a menor qualidade com a bola nos pés.

FILME E FICHA DE JOGO.

Nos Países Baixos, Ronald Koeman equilibrou a balança das mudanças face ao triunfo ante a Polónia: se por um lado colocou Xavi Simons no meio, uma decisão que o futebol aprecia, por outro abdicou de um médio – Joey Veerman – para pôr um lateral a jogar como ala direito à frente de Dumfries: Frimpong.

Ainda assim, e perante todos estes condimentos, o jogo começou de forma bastante interessante.

Bola cá, bola lá, parada e resposta e os dois guarda-redes com algum trabalho.

Os neerlandeses aproveitaram a velocidade de Frimpong para criar perigo, enquanto a equipa francesa, apesar do maior talento per capita, não esteve muito feliz à frente da baliza. Nesse registo, Griezmann teve uma noite perdulária.

Para isso, diga-se, contribuiu a falta de engenho evidente de Rabiot para desequilibrar no último passe. O médio da Juventus fez o que pôde, mas não conseguiu disfarçar, como é normal, que é mais médio do que extremo/avançado.

Na segunda parte, a França pegou no jogo. Kanté subiu o nível e parecia estar em todo o lado, e arrastou também Tchouaméni, parceiro de meio-campo, para essa melhoria.

Ainda assim, oportunidade de golos, nem vê-las. Ou quase, já que Griezmann, após um passe de Kanté, desperdiçou o 1-0 aos 66 minutos.

Simons, um golo que não valeu, mas que valeu para alguma coisa

Nessa altura, diga-se, já os Países Baixos jogavam praticamente dentro do seu meio-campo. Só que o futebol é uma caixinha de surpresas e uma questão de eficácia. A 20 minutos do fim, numa rara incursão no ataque, Xavi Simons introduziu a bola na baliza, mas o golo foi anulado por fora de jogo.

Não ficou o golo, mas ficou o momento. A formação de Koeman galvanizou-se, voltou a subir no terreno e a França viveu alguns minutos de desconforto, depois de quase meia-parte de domínio total.

Não durou muito essa melhoria laranja, nem tão pouco se traduziu em mais chegadas com perigo à baliza de Maignan. A França acabou novamente o jogo em cima do adversário, embora, sejamos justos, as duas seleções tenham acabado os últimos minutos numa espécie de pacto de não agressão, satisfeitas com a divisão de pontos.

A única lesada deste empate parece mesmo ser a Polónia, que viu a eliminação confirmada e é a primeira equipa a fazer as malas para casa. Antes, ainda defronta a França na última jornada, enquanto Países Baixos e Áustria também vão medir forças.

A FIGURA: Kanté

Num jogo que não mostrou propriamente o melhor dos avançados, N’Golo Kanté voltou a mostrar que ainda está aí para as curvas, mesmo aos 33 anos e depois de uma época a jogar na Arábia Saudita. Sem bola, a correria do costume, quer a procurar a espaço quer a procurar recuperações defensivas. Também com bola se destacou, principalmente quando pôs Griezmann na cara do golo, na segunda parte.

O MOMENTO: Simons ainda festejou, mas o árbitro estragou-lhe os planos

O 1-0 aos 70 minutos parecia dar uma grande vantagem aos Países Baixos, mas depois de alguns segundos, o árbitro assinalou uma fora de jogo posicional de Dumfries. Muito se discutirá se de facto o lateral teve influência no lance, principalmente na movimentação de Maignan, mas certo é que esse golo condenou o 0-0.