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Anatomia de uma foto  |  

Xavi, o fim de um tempo e o futuro que estava escrito

Anatomia de uma foto

Foi do Estádio Azadi, em Teerão, o privilégio de o ver pela última vez em campo. Palco improvável, sinal dos tempos a assinalar o fim de um tempo. Xavi, o maestro que tratou a bola como poucos, terminou a carreira. Agora começa outra vida. A sequência natural de tudo, uma evidência para quem o viu em campo e o ouviu falar sobre o jogo. Ele vai ser treinador, claro.

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A despedida, aos 39 anos, foi no Irão, no último jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões Asiática. O Al-Sadd já estava apurado e jogou com o Persepolis. Xavi jogou os 90 minutos e antes do jogo começar foi homenageado pelos rivais. Com direito a foto junto da equipa adversária e tudo.

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Respeito, todo o respeito do mundo pelo médio que pensou o jogo como ninguém, que marcava ritmo e fazia jogar, a alma do jogo do Barcelona e da Espanha que dominou o mundo, numa simbiose perfeita com outro grande, Andrés Iniesta. Os tempos do Barcelona já lá vão há quatro anos. Despediu-se em 2015 do clube onde chegou com 12 anos, onde foi a extensão em campo de Pep Guardiola e do conceito de jogo que mudou o futebol e onde ganhou tudo o que havia para ganhar: 25 títulos, entre eles oito campeonatos de Espanha e quatro Ligas dos Campeões, 767 jogos com a camisola «blaugrana», ninguém tem tantos como ele. Com a Espanha começou por ser campeão do mundo sub-20 em 1999, antes de se tornar o coração da equipa que venceria tudo, um Campeonato do Mundo e dois Campeonatos da Europa.

Em 2015 decidiu tomar outro rumo quando percebeu que já não era indiscutível no Barça. Escolheu o Qatar, é lá que está há quatro anos. É lá que tem previsto começar a nova vida. O plano é suceder a Jesualdo Ferreira como treinador do Al-Sadd. Em agosto, quando o Al-Sadd defrontar o Al-Duhail de Rui Faria para os oitavos de final da Champions asiática, já pode ser ele a sentar-se no banco. Para já, Xavi foi porta-voz da homenagem ao treinador português, na despedida depois da conquista do título de campeão qatari: «Foi um prazer ser seu jogador, mas o mais importante é a pessoa. Como pessoa, estará sempre nos nossos corações.»

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Agora é a vez de Xavi. Está escrito, sempre esteve no jogo dele, na sua paixão pelo futebol. «Xavi é o jogador mais amador que conheço, e ao mesmo tempo o mais profissional também, tal o seu amor pelo futebol», disse um dia Pep Guardiola: «Quando não está a jogar, está a ver futebol. Vai tornar-se treinador de certeza.»

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Guardiola é uma das referências de Xavi, como é Luis Aragonés, com quem venceu o Euro 2008 e com quem passava horas a fio a conversar sobre futebol no hotel da seleção. «Acho que foi o treinador com quem passei mais horas a falar sobre futebol. Subia ao quarto e falávamos durante horas, por vezes ao estilo de ‘essa é a chave, Xavi, saber a que queremos jogar’. Sempre frisando a importância de juntar os bons em campo e também de não ter medo de ninguém, de nenhuma equipa, por mais que corram. ‘Tu e eu sabemos que a bola corre mais que eles. E tratamos melhor a bola que eles’, dizia-me», escreveu Xavi, numa espantosa carta aberta que publicou no dia da morte de Aragonés.

Mas as referências de Xavi e da forma como pensa o jogo vão ao princípio de tudo. Johan Cruijff. «A minha filosofia como treinador refletirá o estilo desenvolvido durante anos sob influência de Johan Cruijff e de La Masía e que tem o seu expoente no estilo de jogo do Barcelona. Encanta-me ver as equipas que tomam a iniciativa no campo, o futebol de ataque e voltar à essência que todos amamos desde a infância, o futebol de posse», disse Xavi quando anunciou o ponto final na carreira. Ou posto de outra forma, como ele próprio definiu em tempos: «O futebol é uma bola e uns quantos amigos. Um joguinho na praia ou num jardim. Entre sorrisos. Isso é o futebol. Miúdos a trocar a bola num pátio da escola.»

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Xavi foi em campo o guardião dessa ideia. Quer sê-lo também como treinador. Mas também quer tempo. A expectativa é enorme. E o Barcelona uma sombra sempre presente. Xavi sonha lá chegar, mas quer ir passo a passo. Como disse ainda agora, não vai pegar já num Ferrari. Ele sabe, provavelmente, que a sua carreira no banco dependerá muito da forma como gerir essa pressão.

Começa agora. Nesta segunda-feira, Xavi fez aquilo que disse que queria fazer, «desfrutar uma última vez do jogo». Também disse que iria ter «muitas saudades da sensação de tocar a bola num estádio».

Também nós, Xavi. Mas o futuro está aí.

Artigo original: 20/05; 23h50

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