Respondia Emily Blunt, conceituada atriz inglesa, quando questionada se Cillian Murphy – colega com quem contracenou em Oppenheimer e que valeu o Óscar de melhor ator ao irlandês – sabia o quão bom era, o seguinte.

«Acho que seria tão doloroso para ele reconhecer o quão bom é. Acho que isso nunca vai acontecer. Ele é o melhor ator do mundo, mas a pior celebridade do mundo.»

Ora, no caso da seleção inglesa, não sabemos se Gareth Southgate sabe o quão boa é a equipa que tem à disposição, mas dá para desconfiar. E a resposta não é abonatória para o técnico de 53 anos.

Depois da vitória cinzenta diante da Sérvia, na primeira jornada, a vice-campeã da Europa empatou esta tarde frente à Dinamarca, em jogo da segunda jornada do grupo C do Euro 2024. 1-1 foi o resultado que se verificou quando o português Artur Soares Dias apitou para o fim dos 90 minutos.

Apesar dessa imagem deixada do primeiro encontro, Southgate foi a jogo com os mesmos 11 jogadores que entraram de início frente aos sérvios. Na Dinamarca, o selecionador Kasper Hjulmand fez apenas uma alteração: o benfiquista Bah deu o lugar a Joakim Maehle.

FILME E FICHA DE JOGO.

Os primeiros minutos, diga-se, até mostraram uma Inglaterra diferente. Foden, amarrado à faixa esquerda no primeiro jogo – um crime –, apareceu aqui e ali em zonas interiores, com alguns desequilíbrios. Na direita, Walker, sempre muito disponível fisicamente, foi dando largura e profundidade.

Foi numa dessas ocasiões, aliás, que o lateral do Manchester City aproveitou a desatenção de Kristiansen para levar a bola até Kane, com muita sorte à mistura, para o 1-0 do avançado do Bayern ao 18.

Depois disso, foi a Inglaterra de sempre. Tímida, quieta, passiva e defensiva. Quem tem um plantel tem não pode, ou pelo menos não devia, mostrar tão pouco, mesmo em vantagem. Mais do que isso, não pode querer mostrar tão pouco.

A Dinamarca cresceu, claro, à procura do golo, e embora faltasse alguma arte e engenho lá na frente, conseguiu empatar ao minuto 34, com um grande golo de Morten Hjulmand: 28 anos depois, voltou a haver um golo do Sporting em Campeonatos da Europa.

Inglaterra: diferente, mas pouco

A Inglaterra voltou do intervalo com vontade de mostrar algo mais, traduzida na ameaça de Saka após um grande passe de Trent Alexander-Arnold, mas Southgate voltou a seguir o guião do encontro com a Sérvia e o defesa/médio do Liverpool foi o primeiro sacrificado, para a entrada de Gallagher.

Uma alteração que não produziu grandes efeitos, e que obrigou Southgate a ir novamente ao banco e a mudar o tridente atacante, para as entradas de Bowen, Eze e Watkins. Cole Palmer, um dos melhores jogadores da última edição da Premier League, continuou a assistir à partida do banco, impávido e sereno.

Do outro lado, também Kasper Hjulmand tentou oferecer algo mais à formação dinamarquesa. Bah, por exemplo, foi a jogo para dar outro andamento à ala direita.

E a verdade é que no meio deste jogo da paz em que ambas as equipas pareciam mais ou menos satisfeitas com o empate, foi a Dinamarca a mais acutilante: à falta de outras armas para criar perigo na área, valeram os vários remates perigosos de meia-distância, inspirados pelo tiro certeiro de Hjulmand na primeira parte.

1-1, um ponto para cada lado. A Inglaterra, agora com quatro pontos e o apuramento na mão, parece não saber bem o quão boa equipa é. Uma dúvida que começa na cabeça do treinador, Gareth Southgate, e que já se espalhou pelos jogadores.

Do outro lado, Hjulmand parece ter mais certezas sobre a sua capacidade, assim como os restantes colegas. E apesar dos apenas dois pontos conquistados, a Dinamarca vai a jogo com a Sérvia com boas hipóteses de apurar-se para os oitavos de final.

A FIGURA: Morten Hjulmand, nome de treinador e não só

Um dos destaques da Liga na última época, Morten Hjulmand foi para a Alemanha espalhar a classe que espalhou em Portugal ao longo destes meses. Joga pela primeira vez uma grande competição pela seleção, mas nem se dá por isso. Tranquilo como sempre, o médio do Sporting foi sempre uma opção viável para ser um dos pilares da construção dinamarquesa, e correspondeu da melhor maneira. Além disso, tem o carisma próprio dos grandes craques: por isso conseguiu aquele momento de inspiração no golo do empate.

O MOMENTO: o pontapé de Hjulmand que castiga a passividade inglesa

Hjulmand encheu-se de fé ao minuto 34 para fazer o 1-1 do meio da rua e recolocar a Dinamarca dentro da luta pelos três pontos. O médio do Sporting assinou um dos golos do Euro até ao momento e resgatou um ponto precioso para os dinamarqueses. Mais do que justo, diga-se, perante a passividade que a Inglaterra, um dos melhores conjuntos da Europa, demonstrou ao longo dos 90 minutos.