Como é fácil ser português.

Depois de uma estreia tremelicante, Portugal deu um sinal de força e venceu a Turquia por 3-0, em Dortmund. Não foi preciso fazer contas de cabeça, muito menos recorrer à calculadora.

Não estranhe, esta é uma nova era. Ao fim de dois encontros, a Seleção está apurada para os oitavos de final e no primeiro lugar do grupo F - não acontecia desde 2008.

Em bom português se explica como se silencia um estádio

Dortmund tornou-se numa «pequena Istambul» com o Signal-Iduna Park composto maioritariamente por turcos. No entanto, Portugal deu uma lição de como se silencia um estádio em 30 minutos.

Roberto Martínez montou a equipa em 4x3x3 com Palhinha a entrar para o meio-campo para o lugar de Dalot. Cancelo foi o lateral-direito, mas voltou a jogar muito por dentro como mais um médio. Foi, por isso, quase obrigatório que Nuno Mendes e Leão oferecessem largura à esquerda.

Com Kökçü de início, as «Estrelas Crescentes» começaram melhor e ficaram pertíssimo do golo por Aktürkoğlu (perdida incrível na pequena área). Mas Portugal, como as grandes equipas, não tremeu e continuou a jogar da exatamente da mesma maneira. De pé para pé, com ritmo baixo. Como quem esvazia um balão lentamente (leia-se, o entusiasmo turco que se sentia nas bancadas).

Depois de dois avisos de Cristiano Ronaldo, a Seleção chegou ao golo numa bela jogada desenhada no corredor esquerdo. Rafael Leão (voltou a não agarrar a oportunidade) lançou Nuno Mendes e o lateral-esquerdo cruzou atrasado. Kökçü tocou de raspão na bola e esta sobrou para Bernardo que se estreou a marcar em fases finais (!).

A Turquia é uma seleção mais organizada e que tenta jogar desde a chegada de Montella. Porém, há traços culturais difíceis de esconder. A seleção turca tem vontade enorme e essa é, porventura, o seu maior defeito: facilmente desorganiza-se.

Além disso, tem alguns jogadores com limitações técnicas - muito diferente da equipa nacional. Em desvantagem, as «Estrelas Crescentes» entregaram o encontro num lance para os «apanhados». Cancelo falhou o passe para Ronaldo e enquanto ambos esbracejavam, Akaydin atrasava a bola para Bayindir que estava fora de baliza.

De orgulho ferido, a Turquia viveu o melhor período no jogo antes do intervalo com Kökçü a disparar para defesa fácil de Diogo Costa já depois de o guarda-redes se ter aplicado para travar o remate de Aktürkoğlu.

Bola, bola, controlo e estreias

Pedro Neto e Rúben Neves substituíram Palhinha e Leão ao intervalo. As trocas deixaram tudo na mesma, visto que a Seleção continuou a gerir o jogo, a ter a bola e a limitar por completo os turcos, impotentes para contrariar o domínio nacional. E como já era difícil ouvir os cerca de 40 mil turcos que ocupavam as bancadas...

O 3-0 surgiu com naturalidade. Rúben Neves lançou Cristiano Ronaldo e o capitão, altruísta, ofereceu o golo a 3-0. Tudo simples, mas bonito. Como deve ser o futebol, no fundo. Nota que a assistência permitiu a Ronaldo igualar Pobórsky como o jogador com mais assistências em fases finais de Campeonatos da Europa.

Portugal podia (e devia, quiçá) ter chegado à goleada. Houve oportunidades para isso - que o digam Ronaldo e Bernardo. Não se celebraram golos, mas assinalaram-se as estreias de João Neves e António Silva em Europeus.

No fim, levantou-se o esplendor de Portugal. E empunhou-se, com o peito cheio de orgulho, as cores nacionais.