As barreiras de segurança separavam milhares de pessoas do hotel onde Portugal está instalado em Marienfeld, Alemanha. Os jornalistas são obrigados a uma longa caminhada junto ao gradeamento, que cobre vários quilómetros, para chegarem ao ponto de acesso que nos foi destinado pela Federação Portuguesa de Futebol.

O gradeamento termina, por fim, e já mal se vê o local destinado à comunicação social. Começamos o percurso em sentido contrário, desta feita na estrada que o autocarro da seleção não tarda vai percorrer para entrar na unidade hoteleira.

Há gritos de adeptos, não só portugueses, mas de outras nacionalidades, pedidos de fotografias e há (pasme-se!) a quem sejam solicitados autógrafos. Por momentos, o palco é dos jornalistas.

«Não somos ninguém», explica quem segue no grupo. Acho que ninguém ouve. Ou prefere não ouvir. Há um grupo de rapazes loiros, com camisolas de Portugal e da Alemanha, que pede insistentemente para que tiremos uma ‘selfie’. Alinhamos na brincadeira e acedemos ao pedido.

Prosseguimos a caminhada. Ouvimos o icónico «Siuu» de Ronaldo e somos chamados para assinar um pequeno álbum que tem fotografias e dedicatórias de outros jornalistas. Fazem de nós as estrelas, no fundo. Pelo menos durante aquele percurso.

Este texto não é sobre quem escreve. Mas permita-me, caro leitor, rasgar o protocolo. Apaixonado por futebol desde que me lembro, fui praticante grande parte da minha vida – cerca de 15 anos – e confesso que era um jogador razoável. Não sou um portento físico (nunca fui e jamais serei, de resto) e destacava-me pela leitura de jogo, inteligência e liderança – vulgo jogador macio.

Porém, fui uma criança como tantas outras com o sonho de fazer do futebol a minha vida.

Embora tenha vivido momentos irrepetíveis e inesquecíveis, e forjado amizades para a vida (do melhor que o desporto pode dar), os pés nunca acompanharam o cérebro. E quando o sonho já tinha desaparecido e as chuteiras foram trocadas pelo bloco de notas, eis que, numa pequena vila alemã com cerca de três mil habitantes, fui como um jogador da seleção por quatro minutos.

O autocarro chega quando já estamos no espaço que nos foi dedicado e perdemos o protagonismo. Como aliás, deve ser. Permanecemos na sombra, a observar, a tirar notas, a documentar, enfim, a fazer o trabalho de um jornalista com a seriedade e o rigor que esta profissão tão nobre exige.

«Bilhetes do Euro» é um espaço de crónica do jornalista Vítor Maia, enviado especial do Maisfutebol ao Euro 2024.