Agora… agora venha o Euro.

No derradeiro teste antes de partir para a Alemanha, Portugal venceu a República da Irlanda em Aveiro por 3-0, numa noite tranquila e que acabou com o regressado Cristiano Ronaldo como protagonista, com um bis na segunda parte – o 2-0 é um golaço – a completar o marcador inaugurado por João Félix na primeira.

Na última oportunidade para acertar agulhas antes do Euro 2024 e a uma semana do jogo com a Chéquia, Portugal teve uma noite que serviu para dar mais minutos a alguns jogadores menos utilizados nos dois jogos anteriores e um teste muito mais desafiante à capacidade ofensiva do que – e em grande medida já era previsto – um teste à sua competência defensiva. A seleção foi dona do jogo de início a fim, pautou o ritmo (não muito alto) do jogo e Diogo Costa, salvo raríssimas exceções, foi praticamente um espetador.

Com Ronaldo e Pepe diretos ao onze no regresso, Roberto Martínez trouxe também para o onze António Silva, João Cancelo, João Neves e Rafael Leão e apostou num esquema com três centrais – Inácio, Pepe e António Silva – algo que não tinha feito ante a Finlândia e a Croácia.

Perante um adversário não tão forte como a Croácia, que expôs sérios desafios a Portugal no Jamor, a seleção atacou e esteve no meio-campo contrário grande parte do tempo, com mobilidade nas soluções e posicionamentos. João Neves e Bruno Fernandes organizaram jogo pelo meio, Dalot deu largura na direita, Rafael Leão na esquerda e Cancelo, perto de Leão, ia aparecendo muitas vezes em zonas mais interiores. Félix funcionou como um “falso 9”, e Ronaldo aparecia entre o meio e a direita na frente.

Foi um claro jogo de paciência até desfazer o 0-0. A Irlanda, bem fechada num 5x4x1 e com pouco risco na saída para o ataque – à procura de erros alheios que mal surgiram – dava poucos espaços a Portugal. Até que um bom lance pela direita entre Dalot, Bruno e Ronaldo deu a possibilidade do 1-0 a Félix. Kelleher defendeu na área, mas não evitou o 1-0 de João Félix no lance seguinte, após um canto batido curto pela direita e passe de Bruno.

Certo é que o golo pareceu soltar mais a seleção. O talento individual e as combinações coletivas. Atrás a exigência era quase nula e, quando a bola chegou à área de Diogo Costa, os problemas eram facilmente resolvidos. De forma geral, Pepe cumpriu tal como Inácio e António Silva decidiu com bons cortes.

Mas o jogo, com muita posse da seleção, estava num ritmo baixo e até foi de bola parada que o 2-0 esteve perto antes do intervalo. Minuto 22, Ronaldo encheu-se de fé e pontaria… e o livre direto foi ao poste.

Ficou a ideia de que a vantagem podia claramente ser outra para a segunda parte caso Portugal carregasse no acelerador. Ao intervalo, Martínez mudou cinco – Pepe, Dalot, Félix, Leão e Cancelo por Semedo, Danilo, Rúben Neves, Nuno Mendes e Diogo Jota – e quem carregou no reatamento foi Ronaldo. No pé esquerdo, na pontaria e na esperança para o Euro.

A equipa também já dava sinais de maior intensidade e agressividade nos duelos e, aos 50 minutos, após receber um passe de Rúben Neves, tirou Liam Scales do caminho e fez o melhor golo da noite. E dez minutos bastaram para, a passe de Diogo Jota, bisar para o resultado final, no único dos três jogos de junho em que Portugal não sofreu golos.

A partir daí, foi um jogo de clara gestão, mas que podia ter tido outros números. Ronaldo ficou perto do hat-trick e Bruno Fernandes também espreitou o 4-0. Matheus Nunes ainda foi a jogo nos minutos finais (78m). Lá atrás, Portugal só foi incomodado num par de bolas longas, que foram sobretudo um teste ao controlo da profundidade por Danilo.

A partir daqui, a exigência e os desafios serão outros, da Chéquia à Geórgia, passando pela Turquia. Para já, e depois de uma tarde pouco convincente ante a Croácia, Ronaldo – na noite em que chegou aos 130 golos – apareceu e carrega na mala a esperança portuguesa.