Já apurado, Portugal vai encerrar a fase de grupos do Euro frente à Geórgia, seleção estreante em fases finais. País independente desde 1991, a seleção georgiana alcançou um feito histórico em março ao derrotar a Grécia e qualificar-se pela primeira vez para a fase final de um Campeonato da Europa.

«Foi um jogo histórico. A Geórgia é um país de futebol, todos adoram a futebol. Desde pequeno que tinha esperança que chegássemos a uma grande competição, mas só conseguimos este ano. Chorei quando assegurámos a qualificação. O país saiu todo à rua, foi uma festa enorme durante dois dias», recorda Giorgi Makaridze, guarda-redes que está há sete anos em Portugal, ao Maisfutebol.

Se o guarda-redes seguiu a qualificação do seu país à distância, Pedro Monteiro estava em Kutaisi, cidade que fica a três horas da capital Tbilisi. «Foi uma enorme festa, o povo georgiano ficou muito feliz. Nos dias anteriores ao playoff, só se falava do jogo. Como estamos numa cidade pequena, muitos dos meus colegas no Torpedo foram para a capital celebrar», relata o central de 30 anos.

Alcançada a primeira presença em Europeus, esta seleção georgiana subiu ao patamar da imortalidade. Mas será esta a melhor geração de sempre dos «Cruzadores»? O guardião, que na temporada que findou representou o Covilhã, defende que não.

«Nos anos 90 até meados de 2000, tivemos uma geração muito forte. Mas nesse período a Geórgia teve muitos problemas enquanto país e faltou sempre organização. No entanto, a melhor geração da Geórgia é dessa altura, tínhamos jogadores que jogam num nível alto como o Shota Arveladze, o Kaladze, o Kobiashvili, entre outros. Porém, agora temos um jogador que nunca tivemos antes: Kvaratskhelia», argumenta.

Herói na sua pátria, o talentoso extremo do Nápoles é a figura maior da Geórgia. Khvicha carrega o peso de uma nação, mas Makaridze alerta que há outros jogadores que Portugal deve ter em conta.

«A Geórgia é uma equipa muito unida e forte defensivamente. Individualmente temos jogadores muito fortes como o Mikautadze e o Chakvetadze, além do Kvaratskhelia. Estes jogadores fazem a diferença na frente. O Mikautadze transferiu-se para o Ajax na última época e acabou por seguir para o Metz em dezembro. Marcou muitos golos em França», avisa o guardião acerca do avançado que já leva dois golos na competição que decorre na Alemanha.

Makardize considera que a seleção portuguesa «tem os melhores jogadores e a melhor equipa de todas» embora acalente esperanças de que esta «facilite um bocado» frente à Geórgia. «Portugal está apurado, espero que facilite um bocado (risos). Sempre achei que a Geórgia tinha hipóteses de passar o grupo porque a Turquia e a Chéquia não são muito diferentes da Grécia», refere.

O crescimento da seleção da Geórgia não tem correlação com o campeonato do país, nota Pedro Monteiro.

«Há apenas dois jogadores entre os convocados que jogam na Liga da Geórgia, sendo que um deles é guarda-redes. Não há qualquer correlação. Ainda assim, desde que cheguei, há três anos, o futebol local tem evoluído sobretudo ao nível de infraestruturas. O futebol georgiano ainda tem uma intensidade baixa comparado com o português e os jogadores não têm o mesmo rigor tático. A exigência é diferente também, mas há qualidade, há atletas tecnicamente evoluídos. Nota-se que não chegam tão bem preparados ao patamar profissional. A chegada de estrangeiros, com mentalidades diferentes, acaba por elevar um pouco o nível», disse.

«Estou triste, podia perfeitamente estar na Alemanha»

Internacional pela Geórgia em 17 ocasiões, Giorgi Makaridze não esconde a mágoa por ter ficado de fora da lista final do selecionador Willy Sagnol.

«Tinha esperança de estar no Euro. Certamente voltarei à seleção porque tenho capacidade para tal. Estou triste, podia perfeitamente estar na Alemanha. O problema é que fui para o Almería e na II Liga espanhola o campeonato não é interrompido para os jogos da seleção. Desde aí nunca mais fui convocado», lamenta, adiantando que vai seguir o encontro frente a Portugal a partir de casa.

A Geórgia chega, de resto, ao Campeonato da Europa quase dois meses após uma onda de protestos contra a «lei russa» que afasta o país do caminho da União Europeia. Pedro Monteiro explica como viveu esse período em Kutaisi.

«Os protestos foram pacíficos em Kutaisi. Cerca de 50 pessoas juntaram-se no centro e exibiram bandeiras da Geórgia e da União Europeu. Em Tbilisi foi diferente, houve confrontos entre a polícia e os manifestantes», relata.

«Os georgianos têm uma mentalidade um pouco fechada. Ainda há vestígios da influência soviética e a guerra com a Rússia está muito presente. Por vezes não são muito simpáticos para com os estrangeiros, sobretudo em Kutaisi, uma cidade antiga com uma população envelhecida. Visitar o centro da cidade é como recuar 50 anos», acrescenta.

Por seu turno, Makaridze sublinha que «futebol e política não se misturam». «O futebol e a política não se misturam. Não faz sentido. Também tivemos uma guerra com a Rússia e quando as duas seleções se defrontavam… não era por isso que a seleção ia jogar melhor ou pior», frisa, garantindo que o Europeu é «vivido como uma festa» na terra Natal. 

Será que os georgianos vão outra vez festejar madrugada dentro?