Foi um dos maiores erros de «casting» de Pinto da Costa. Luigi Del Neri, treinador com pouco currículo no futebol italiano e conhecido pelo bom trabalho no Chievo Verona, foi apontado como sucessor de José Mourinho, tendo a enorme tarefa de fazer esquecer uma figura marcante e apontar novos caminhos para o F.C. Porto, acabadinho de se sagrar campeão europeu.
Após muita especulação, o clube confirmou a sua contratação por três épocas a 4 de Junho e no final desse mês seria apresentada a nova equipa técnica. Mas, «Gigi» não se aguentou no cargo mais do que dois meses, conforme foi oficializado pelo clube a 7 de Agosto. Motivo? «A Administração da F.C. Porto - Futebol, SAD e o seu técnico principal, senhor Luigi Del Neri, acordaram na noite desta sexta-feira a interrupção da sua ligação laboral por motivos de ordem particular».
Dois dias depois, mais pormenores, agora na comunicação à CMVM. A denúncia do contrato de trabalho teve como razões «o facto de a metodologia de treino e a programação do sistema táctico adoptado terem-se verificado completamente inadequadas», lembrando a SAD que a actuação de Del Neri «defraudou as expectativas da sociedade desportiva em relação à contratação da equipa técnica». O texto lembrava ainda os artigos 105º do Código de Trabalho e o 5º do Contrato Colectivo de Trabalho, celebrado entre a Associação Nacional de Treinadores e a Liga de Clubes, para sustentar a medida e a teoria de que o treinador estava apenas em período experimental.
«Gigi» estava desolado. Após o estágio pouco positivo na Holanda, veio a digressão aos Estados Unidos, que terminou com a derrota com o Galatasaray e a evidência de que a defesa em linha era um equívoco. Logo após ter aterrado em Portugal, seguiu para Itália, onde passou alguns dias de férias, e quando regressou ficou a saber que não voltaria a treinar a equipa. Falhou, aliás, o primeiro treino, aterrando no Porto pela noite do dia em que devia ter chegado, de mochila às costas e olhar perplexo. Esse seria um dos motivos apontados pela SAD para o despedimento.
O «período experimental» de dois meses terminou de forma abrupta. Del Neri queixou-se, posteriormente, de «difamação» e considerou que se alguém se equivocou foram os dirigentes portistas. Alguns meses mais tarde o litígio terminou em acordo, com o F.C. Porto a pagar 800 mil euros a Del Neri e à sua equipa técnica pela «experiência».
Para trás ficaram dias aparentemente felizes, como chegou a escrever em comunicações diárias no site do clube (esta é relativa a 20 de Julho, o primeiro dia de estágio em Zeist, na Holanda): «O nosso grupo tem um forte carácter e é muito sério a trabalhar, mas também revela esse carácter nas fases de relaxamento. As gargalhadas que escutei reflectem toda a nossa união». Na hora da saída as palavras foram bem diferentes, com acusações a alguns jogadores, precisamente pela falta de união.
Pinto da Costa percebeu que tinha voltado a falhar e rapidamente substituiu Del Neri por Victor Fernández. Apesar de alguma instabilidade, o técnico aragonês chegou a tempo de perder a Supertaça Europeia, mas também de somar vários triunfos importantes, como a Supertaça portuguesa, a Taça Intercontinental, a passagem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões e o primeiro lugar na Superliga antes do final do ano. Enquanto isto, «Gigi» recuperava a sua imagem em Itália e era apresentado na Roma, onde voltou a atravessar momentos controversos e a somar resultados negativos. Em Portugal ficou a ideia de uma boa pessoa que nunca chegou a perceber o que significa treinar o F.C. Porto.