Fernando Santos é hoje em dia um tipo calmo. Sereno. Experiente para lá da sua carreira futebolística. Com uma bagagem importante dos três grandes de Portugal e da Grécia. E treinar na Grécia deve ser uma experiência diferente e muito enriquecedora do ponto de vista motivacional e das dificuldades sociais. Mas é humano tal como nós. Quando e o modo de colocar as mãos na cabeça no lance de Bruno Alves frente à Inglaterra e ainda antes do árbitro mostrar o cartão vermelho, foi sinónimo disso...aquele esgar de prever algo menos bom. E não o conseguiu esconder.

Nos últimos tempos os treinadores que têm vencido competições de seleções têm um perfil diferente dos treinadores que têm vencido competições em clubes. E não apenas do ponto de vista tático ou até de liderança. Até poderíamos pegar por exemplo na idade. Dos últimos 10 a 12 anos apenas Joachim Low estragou esta moda dos treinadores vencedores por seleções em Mundiais ou Europeus serem tipos mais novos. Daqui resultaria uma questão: são sempre estes tipos que vencem porque todas as seleções são treinadas por tipos assim ou haverá um padrão de vencedores no seio de vários tipos de treinadores que encontramos nas seleções? Até porque Paulo Bento e Fernando Santos, só para pegar nos últimos dois, são completamente distintos em muitas coisas.

Não se sabe – por muito que se estude e procure compreender as quantidades exatas – quanta importância no sucesso de um treinador e de uma equipa tem o relacionamento com os atletas, o modo como se comunica e como se decide naquele turbilhão de opiniões, emoções ou sentimentos distintos e complexos. E por que a questão não é se tem ou não, mas sim, quanto tem, e por acreditar que tem bastante, que hoje observo Fernando Santos como o treinador correto para levar a seleção longe no Euro.

Nem tudo depende do treinador. Também teremos todos nós as opiniões de quem deveria jogar mais ou menos, ou ser ou não ser convocado. Mas perante o estado da seleção, a maturidade dos jogadores que temos nas posições-chave, da falta de oferta num lado e do excesso de oferta noutros lados, observa-se Fernando Santos com uma competência que hoje, e perante os jogadores que temos, com a competência que pode fazer a diferença: o relacionamento interpessoal.

Fala-se com o mister e percebe-se que há ponderação, mas também há exigência. Há sentido crítico e melhor do que isso, há uma compreensão no equilíbrio daquilo que temos e que não temos. Há um modo suis generis de ser acessível, sem estar muito exposto. O papel não é agradar a todos. E muito menos a nós adeptos. Até porque os adeptos em Portugal gostam de duas coisas na sua seleção: que se vença e que se vença com atletas do seu clube se os existir por lá.

Não sei se Portugal é um dos candidatos. Mas provavelmente este será o coletivo que estará em melhores condições para chegar longe. Nas próximas competições não teremos nem o primeiro ou nem o segundo melhor jogador do Mundo entre nós com índices físicos como tem hoje. E por muito que sejam as equipas que vencem jogos, sabemos que todas essas equipas se quiserem ser campeãs, têm de ter no seu seio talento individual acima dos outros ao serviço do coletivo. Nem que seja apenas um, desde que esse seja um dos melhores.

E para concluir, Fernando Santos tem de ter esse dom: potenciar o talento coletivo e conseguir que Ronaldo assuma nas horas fáceis, médias e difíceis!