Portugal foi ao Cáucaso, onde a Europa se transforma em Ásia, meter-se numa fila de bilhetes para o Brasil. O primeiro documento era para ser preenchido em Baku, mas a escrita prolongou-se pelo texto de 63 minutos graças, sobretudo, à demora em concretizar as oportunidades criadas.

Israel também vence

A vitória no Azerbaijão foi clara, tão clara que deu para voltar a desperdiçar demasiadas ocasiões sem que isso tivesse consequências no resultado. Portugal é segundo no grupo e perdeu Pepe para o jogo com a Rússia [suspenso], o lado negativo da viagem. Certo, não entusiasmou, não foi brilhante. Mas ser competente já é alguma coisa neste país.

Vieirinha e Moutinho, dois campeões

Danny na esquerda e Vieirinha à direita foram as novidades de Paulo Bento num onze órfão do capitão Ronaldo. Sem o principal goleador da seleção, as dificuldades, em teoria, seriam maiores na hora de atirar à baliza. Em tudo o resto, a seleção foi fiel a um estilo: teve posse de bola, controlou o adversário, originou ocasiões para golo e falhou-as como sempre.

O Azerbaijão assustou uma ou outra vez, mas nada de grave. Os cruzamentos que fez apenas fizeram Patrício transpirar uma ou outra gota de suor. Por isso, jogava-se num só sentido: em direção à baliza de Agayev, com Vieirinha ao volante. O extremo do Wolfsburgo, a par do triunfo em Baku, foi a melhor notícia que a seleção trouxe desta deslocação à outra extremidade da Europa.

Portugal não tinha entrado tão bem no jogo como com Israel. Isso seria demasiado bom. Mas no Azerbaijão foi bem mais consistente que em Telavive, fruto, também, de um João Moutinho mais ativo no meio-campo. Os dois campeões europeus de sub-17, Vieirinha e o médio do FC Porto, deram à seleção uma melhoria de produtividade que só não teve consequência no resultado porque a má pontaria de Postiga, o guarda-redes Agayev e o poste assim o negaram.

Mesmo sem um jogo de intensidade máxima, a seleção portuguesa mostrava no relvado que era superior e no resultado que continua a ter problemas difíceis de ultrapassar: um deles? Meter a bola na baliza contrária, mesmo que se tenha ocasião para isso, na pequena área. Assim se concluiu o primeiro tempo: depois de remates para fora e de Bruno Alves atirar ao poste, Postiga tinha quase uma baliza inteira à mercê e acertou na perna do guarda-redes. 0-0 no descanso.

Amarelos e vermelho

O segundo tempo começou com vários cartões amarelos. Uma chuva deles, com Alyiev a ver dois em poucos minutos. O Azerbaijão ficou reduzido a dez, mas o jogo pouco mudou. Alyiev poucas vezes tocou na bola, no ataque azerbaijanês. Por isso, a seleção da casa intensificou o que estava a fazer: fechar linhas de passe, impedir a criatividade portuguesa.

Mas Portugal lembrou-se do que fez em Braga. Em casa, saiu do jogo com o Azerbaijão a festejar um golo de Bruno Alves, após canto de Moutinho. Exportou essa ideia para Baku e foi assim que, aos 63 minutos, a resistência de dez azerbaijaneses caiu por terra. Depois de exibição preocupante em Israel, Bruno Alves saltava para a redenção.

Nessa altura já Paulo Bento tinha lançado Hugo Almeida no lugar de Raul Meireles. Dois avançados, menos um médio e Vieirinha na mesma rotação do primeiro tempo, provavelmente motivado não só pelas quinas ao peito, mas também pelo 7 nas costas.

Ora, com Hugo Almeida em campo, com o Azerbaijão a ter menos um para defender, Portugal conseguiu abrir o jogo, começou a flanquear ainda mais o adversário e, numa dessas jogadas, Fábio Coentrão fez um cruzamento simples para Hugo Almeida, que só teve de confirmar o 2-0 e o triunfo português, aos 79 minutos.

A seleção sacudiu a pressão que levava nesta viagem e começou a fazer as malas para um regresso à Luz. João Pereira ainda desperdiçou uma ocasião inacreditável, mas nessa altura já só se pensava no check-in de volta a Lisboa, onde Portugal vai receber a Rússia, no início de junho.