O título desta crónica é inspirada numa das frases polémicas proferidas nos últimos dias pela líder do PSD, Manuela Ferreira Leite.
Foi ela a dizer que a aposta em obras públicas só serve para reduzir «o desemprego de Cabo Verde ou da Ucrânia», pelo que, se por mero acaso, fosse dirigente de futebol e fizesse oposição a Gilberto Madaíl podia muito bem estabelecer o paralelismo entre o que se está a passar na Selecção Nacional e a necessidade de recrutar elementos brasileiros para melhorar os resultados.
É claro que este tipo de declarações são sempre perigosas, pelos tiques de xenofobia, mas se Ferreira Leite passou quase incólume na política, dificilmente seria mais criticada no futebol. Fica, em todo o caso, o alerta para o caminho estranho que poderá começar a ser trilhado. Os mais cépticos dirão: nós avisámos quando aconteceu a naturalização de Deco. E, em certo sentido, acabam por ter razão, pois estamos no país que estamos e acabamos por não nos ficar pelas meias-medidas. Se há um, pode sempre haver mais um. E mais um. E mais um. E mais um... até serem onze.
Ninguém questiona a qualidade de Deco e as suas ligações ao país. O mesmo se aplica a Pepe (que não devia ter defrontado o Brasil, porque simplesmente não jogava há três semanas). Mas quando se fala em Paulo Assunção ou mesmo em Liedson já é esticar a corda. Claro que precisamos de um médio-defensivo com urgência e de um ponta-de-lança goleador nem se fala, mas se optarmos por esta via a identidade de uma equipa que se diz nacional perde-se por completo.
Ah, é verdade, também precisamos de um lateral-esquerdo: é preciso falar com Léo ou com Alonso (do Nacional)...
Já agora, pegando numa outra frase de Ferreira Leite (e discordando em absoluto no aspecto político), o que o futebol português necessitava era de fazer uma pausa de seis meses na democracia para se realizarem as reformas necessárias.
O método não é desejável, mas este diz que disse, com pedido de desculpas à saída do aeroporto e um permanente sacudir de poeira dos ombros não resolve absolutamente nada. Fico sentado à espera para ver se Carlos Queiroz vai punir ou deixar de convocar algum daqueles que viajaram até Brasília.
«Futebolfilia» é um espaço de opinião da autoria de Filipe Caetano, jornalista do PortugalDiário, que escreve aqui todas as quartas-feiras e sábados