Foram precisos 30 remates para a Bélgica marcar aos Estados Unidos. Tinham ficado 29 para trás quando De Bruyne finalmente passou o incrível muro que foi Tim Howard. Tinham ficado para trás noventa minutos de um jogo com um volume brutal de oportunidades para a Bélgica, sem que a bola entrasse. Quando chegou o 1-0, toda a gente achou que estava resolvido. E no entanto, os Estados Unidos acreditaram. E marcaram. E estiveram perto de voltar a marcar. Foi louco e foi grande o jogo que fechou os oitavos de final do Mundial 2014. Condensou em 120 minutos tudo o que tem sido este Mundial: imprevisibilidade, emoção, guarda-redes protagonistas, os bancos a contarem, muito.

A Bélgica que teve um início difícil mas passou com três vitórias pela fase de grupos mostrou desde cedo ser superior a uma equipa norte-americana que voltou a confirmar a impressão da primeira fase: falta qualidade, não foi por os Estados Unidos serem melhores que Portugal perdeu a oportunidade de estar esta noite em Salvador, a discutir este jogo dos oitavos de final.

O adolescente Origi, que saiu do banco para marcar à Rússia, foi titular esta noite e protagonista da alegre cavalgada da Bélgica rumo à baliza de Howard. O avançado do Lille, de 19 anos, acrescenta o seu nome a esta promissora seleção dos Diabos Vermelhos, que é, recorde-se, a segunda mais jovem do Mundial 2014, atrás apenas do Gana.

Se a primeira parte ainda permitiu alimentar alguma ilusão de equilíbrio, a segunda cavou o fosso. A Bélgica acampou no meio-campo dos Estados Unidos e apertou o cerco a Tim Howard. Origi,
Vertonghen, Mertens, Witsell, Mirallas, uma incrível sucessão de remates e defesas do guarda-redes do Everton, numa exibição para a lenda.

Nas redes sociais, o mundo tirava-lhe o chapéu. Um exemplo:


Mais outro:

Só lhe faltava mesmo ser ele a ir à baliza adversária também, comentava-se. Alguém se lembrou que, há dois anos, ele nem precisou disso para marcar um golo. De baliza a baliza, lembra-se?


O tempo regulamentar esgotou-se neste espanto. Mas havia mais na Bélgica. Wilmots fez entrar para o prolongamento Lukaku. E o avançado que começou o Mundial a contestar as opções do selecionador esteve, dois minutos mais tarde, na origem do golo de De Bruyne. E 12 minutos depois apontou ele o 2-0.

Mas restava alma aos Estados Unidos. E Klinsmann também foi ao banco. Era lá que estava Julian Green, outro adolescente com história. Esteve até ao fim em aberto se optava por representar a Alemanha aos Estados Unidos, escolheu a América e entrou nos 23 de Klinsmann, deixando de fora o veterano Landon Donovan. E pois, fez o 2-1. E, inconcebível para quem tinha visto o jogo, os norte-americanos acabaram a acreditar que sim, podiam. Não puderam.

Mas algo terá ficado. O Campeonato do Mundo estava a fazer milagres pelo futebol nos Estados Unidos, a conseguir audiências ao nível dos grandes desportos profissionais norte-americanos. O jogo desta noite confirmou a tendência. Foi de longe o programa mais visto nos Estados Unidos no seu horário.



Não há melhor publicidade para alimentar o fascínio do futebol do que este jogo de Salvador. Mesmo que a Team USA tenha ficado do lado errado da história, e que a sua eliminação ponha fim, pelo menos por agora, a imagens como estas.

No Soldier Field, estádio de futebol americano, casa dos Chicago Bears:




Também na Casa Branca, onde Barack Obama assistiu ao jogo junto do seu staff. Na verdade um pouco por toda a América, como mostrava a ABC numa transmissão live no seu site:

 
Recorde aqui o relato ao minuto e a crónica do Bélgica-EUA.