A figura: Javi Garcia

Acabou o que começou no último derbie, na Taça da Liga da época passada. Javi Garcia tinha sido o último a marcar num Benfica-Sporting. Nesta noite, depois de empregar tamanho ao meio-campo encarnado, berrar com toda a gente que não meteu o pé como ele fazia, subiu à área e cabeceou para uma explosão enorme na Luz. Um guerreiro com uma arma fatal como o destino. Depois da expulsão de Cardozo, encheu o meio-campo. A força que tinha dentro subiu-lhe à face, endureceu-lhe as veias e encheu-lhe o peito, que deu a todas as balas. Em menos palavras, uma força da natureza. Agarrou a vitória com tudo o que tinha.

Os destaques do Sporting

A surpresa: Jardel

Desconfiava-se de Luisão, pensava-se em Miguel Vítor, apareceu Jardel, nome que ecoa no derby com a outra camisola. O central brasileiro teve de substituir o consagrado capitão do Benfica, esteve bem quando jogou feio, pior quando tentou sair a jogar. Não é para ele e, por isso, cada vez que o tentou saiu-se mal. Pelo ar não teve problemas e como o jogo se desenrolou muito pelas alturas, isso foi-lhe suficiente. O jogo mudou após o vermelho a Cardozo e aí, junto com Garay, foi livrando perigo, ainda que Elias tivesse aparecido demasiadas vezes sozinho para aquilo que Jesus esperava.

Outros destaques

Pablo Aimar

Requintes de classe no derby, daqueles que só o 10 do Benfica tem na ponta das botas. Passos de tango em Lisboa, embora a dança não fosse completa. Na Luz, a bola andou muitas vezes pelo ar, porque no chão não havia espaço. Mas Pablo Aimar procurou-os como ninguém, foi o que melhor conseguiu sair das teias em que as equipas se metiam no primeiro tempo. Cada recepção, cada drible, finta, ginga de corpo deixou Carriço para trás. Bateu um canto para uma bomba de Gaitán e, à terceira, colocou na cabeça de Javi Garcia. O golo foi espanhol, mas, na altura, ninguém o mereceu mais que o argentino da camisola 10. Saiu após a expulsão de Cardozo. Com o dever mais que cumprido.

Witsel

Inteligência, físico, pés de veludo. Grande jogo do belga, sobretudo após a saída de Pablo Aimar. A classe do argentino transforma Witsel num operário de primeira linha, mas o internacional belga provou, pela enésima vez, que também ele sabe ler o jogo, que também ele sabe onde estar e procurar espaços, que Witsel é nome de futebolista que coloca a bola no chão e faz o esférico acariciar a relva como uma mãe passa a mão pela cabeça de um filho. Na hora de defender, com apenas 10, foi ele que deu metros à equipa, depois de Javi Garcia deitar por terra o leão.

Cardozo

Voltou ao onze e borrou a pintura toda. Tem um currículo que impressiona, no derby, e agora tem uma expulsão no registo, um cartão vermelho do mais absurdo que pode haver. Primeiro, meteu-se numa discussão que não era dele, depois, reclamou uma falta de forma ridícula (por muita razão que lhe pudesse assistir) e deixou o árbitro com apenas uma opção. E isto depois de ter desperdiçado o 2-0, numa grande oportunidade. O Benfica venceu, mas não foi nem pelo golos de Cardozo, nem pela atitude que teve aos 62 minutos.