Caras pintadas, camufladas. Dentes cerrados. Punhos fechados. E uma vontade inquebrantável, que se regenera depois de cada batalha. Ganha. Ou perdida.

Mourinho é há muito o general. Dos poucos. Daqueles que se seguem cegamente. Capaz de fazer trinar as medalhas que tem ao peito com um simples sussurro. Capaz de entrar na selva para salvar um soldado ferido, arriscar a pele.

Um gaffer que faz crescer coragem das entranhas com uma palavra. Um rosto fechado. Uma salva de críticas mesmo injusta, tantas vezes exagerada. Que incendeia. Empurra. Acrescenta força. 

A mensagem no balneário. Eles contra o mundo. Eles, perseguidos, unidos em espírito de guerrilha. A preparar-se para vencer. Na altura certa. Agora, ou aqui. Na cruz neste mapa. Neste dia no calendário. Na batalha das batalhas.  Rewind, play it again!

É aqui que os vamos derrubar! Aqui!

Raízes que sugam tudo à volta. Que se alimentam da pressão. Do protagonismo. Agiganta-se ao esvaziar o dos outros. Sem medo. Sorve os excessos dos que não se importam de ficar mais leves. Dos que não precisam. E ficam a pensar só na bola. E na baliza. Em marcar. Uma. Duas. Várias vezes. Em vencer.

Na feira de vaidades de Madrid, cada um pensou por si. Cada um pensou em si. E Mourinho acabou capturado, traído pelos seus. Arbeloa foi o único que o entendeu, que percebeu o objectivo, que o defendeu. Só ele. Demasiados egos, demasiadas fragilidades. Faz sentido.

Exilado, armou-se novamente. Comanda um Blue Army preparado para a luta por todo o território. Preparado para jogar e pensar como UM. Como ele. Respira quando ele respira, grita quando ele grita, move-se quando ele manda. Naquele balneário todos jogam

José says…

Chega de linguagem bélica, e desta coisa de exércitos e generais. Coisa feia.

No meio de cada incursão a cada terreno inimigo, os Blues queimam com a chama intensa de Hazard.

A visão de Cesc.

A classe tímida de Oscar.

Os rasgos de Willian.

O raciocínio rápido de Matic.

A energia monstruosa que sai do pulmão de Ivanovic.

E, lá na frente, um Diego Costa com mania que é John Rambo, só controlado por um novo coronel Trautmann que aprendeu rapidamente onde se liga e desliga o seu Beast Mode.

Chega destas coisas de guerras e batalhas...

Mas não se consegue parar. Um Chelsea devorador. Um Chelsea implacável. Impassível a ver os outros cair. Velhos rivais, novos rivais. Todos a cair. Um City campeão e valioso, capaz de escapar a fair-plays financeiros. O United a tentar reconstruir-se. O Arsenal de sempre. O Liverpool a voltar a ter pressão. Sem misericórdia.

Um Chelsea que soube armar trincheiras e defender o seu espaço, consciente de que um empate de vez em quando também é uma vitória. E sem significar grande coisa torna-se o princípio do fim de algo realmente importante.

É possível gostar do preto e do branco. Da excentricidade e da racionalidade. Do sol e da chuva. De um exército compacto e dos batalhões de um homem só. Dos heróis e dos que não o aspiram a ser.

O futebol é feito de ésses, de genialidades, mas também de triângulos, de compensações e basculações. De dribles, mas também de tackles. De magia mas também de feitiços quebrados.

É impossível não continuar a admirar o futebol guerreiro destes generais sem medo. De Mourinho e também de Simeone. Feito de intensidade, controlo e, finalmente, explosão para a área rival.

Não jogam nada, dizem alguns. Mas quantos não gostariam mesmo de estar do seu lado?

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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA»  é um espaço de opinião/crónica de Luís Mateus, sub-director do Maisfutebol, e é publicado de quinze em quinze dias. Pode segui-lo no  FACEBOOK   e no  TWITTER . O autor usa a grafia pré-acordo ortográfico.
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