Jorge Gomes quebrou uma barreira, a 11 de Agosto de 1979. Num encontro particular com o Boavista, o Benfica utilizou o primeiro jogador estrangeiro na sua equipa de futebol. Contudo, 30 anos após esse momento, os adeptos recordarão certamente outro nome: César, o avançado do América.
César Martins de Oliveira foi o segundo estrangeiro, mas reclama mais protagonismo. «Eu fui a primeira transferência internacional do Benfica! Sei que isso também vai ficar na história e tenho imenso orgulho», atira, numa chamada telefónica que atravessou o Atlântico.
O pequeno avançado (1,73 metros) chegou a Portugal em Dezembro de 1979. Ficou até 1983, partiu para o Brasil e não mais voltou. E lá, no remoto município de São João da Barra, aproveita o contacto do Maisfutebol para matar todas as saudades.
«Nunca mais voltei a Portugal, é pena. Ainda agora, vejo o Benfica pela televisão. Aparece de vez em quando o Chalana, o Shéu, e fico cheio de saudades. Mande-lhes um abraço meu. Para eles e para todos os benfiquistas», pede.
«O Benfica ia contratar outro»
A conversa sofre avanços e recuos, ao ritmo da memória de César, agora com 53 anos. Entre sorrisos, lá surge uma revelação. O Benfica, que passarara largos meses à procura de um goleador com fama internacional, ia contratar Cláudio Adão, do Flamengo: «Eu sabia isso porque eu ia para o Flamengo, para o substituir. Estava tudo tratado, o Flamengo só esperava o dinheiro do Benfica.»
Ferreira Queimado espera até Dezembro de 1979 e embarca para o Brasil. Esquece Cláudio Adão e avança para César, melhor marcador do campeonato. «E fez ele muito bem. O Cláudio não fez uma boa época, eu era mais novo, era o artilheiro do campeonato e ainda fiquei mais barato. E pronto, lá fui eu para o Benfica», relata.
A estreia de César surge no dia 26 de Dezembro, frente ao Estoril. Cresce a expectativas de adeptos e jornalistas, mas pouco se viu. A culpa foi do nevoeiro. «É, estava mesmo impossível. Aliás, demorei uns meses a adaptar-me ao clima, mas depois tudo correu bem. Morava num pequeno apartamento em Benfica, lindo», fiz.
«O golo da curva da banana»
César marcaria 24 golos em 85 jogos pelo Benfica. Nem muito, nem pouco. Um golo apenas, na final da Taça de Portugal, serviu para justificar a aposta: «Lembro-me que lhe chamaram o golo da curva da banana. Esse golo da curva da banana salvou-me. Se ele, a época seria um fracasso e acho que até a minha contratação melava.»
«O Benfica tinha perdido o campeonato e só restava a Taça, frente ao F.C. Porto. Vi o guarda-redes adiantado, rematei com efeito e foi golo! Vencemos por 1-0 e os telejornais do meu país deram grande destaque: um brasileiro deu um título ao Benfica de Portugal!», recorda César, orgulhosamente: «Na época seguinte, ganhámos tudo!»
Em São João da Barra, com as ondas do mar como companhia, o antigo jogador brasileiro procura pontos de ligação com o seu Benfica. Fala de Patric, de Keirrison, mas sobretudo de Ramires. Todos bons, garante. Mas o médio, esse sim, é enorme. «O Ramires é um fora-de-série. Mas não me esqueço do seu jogo na final da Libertadores. O Cruzeiro era Ramires, mas ele facilitou. Foi o pior em campo, para mim. Tirou o pé, porque já tinha contrato com o Benfica. Foi pena, mas vai brilhar aí, de certeza», remata César.