É um dos jogadores portugueses com mais títulos na carreira. Passou por FC Porto, Sp. Braga e Benfica, entre tantos outros clubes mais e ainda experimentou o futebol espanhol, mas foi nesses três emblemas que venceu desde a Taça da Liga à Liga dos Campeões.
 
Também são os que mais lhe dizem, e as razões são muitas.
 
César Peixoto terminou a carreira em 2014, mas nunca tornou a decisão oficial. Aconteceu tudo com naturalidade, mas também tristeza, depois do último ano da passagem pelo Gil Vicente não ter corrido bem. 
 
O certo é que foram centenas de jogos, alguns golos e treze títulos. Não é para muitos, nem está ao alcance de todos. Trabalhou ainda com dois dos melhores treinadores portugueses, José Mourinho e Jorge Jesus. 
 
Em entrevista ao Maisfutebol, o antigo médio, que vai agora começar a tirar o curso de treinador, falou da carreira de jogador e do que quer no futuro.
 
«O futebol é a minha paixão», mas também há um clube especial - que quer que seja campeão - e um técnico que não esquecerá.
 
Já foi há três anos, mas nunca anunciou oficialmente o fim da carreira. Porquê? Há muitos jogadores que não o fazem, parece que há um certo complexo…
É verdade, nunca anunciei. Foi-se percebendo. Não o fiz porque a carreira não acabou da forma que queria, depois do que aconteceu no Gil Vicente. Nessa altura afastei-me, fechei-me, deixei arrastar e nunca anunciei. Foi injusto e incorreto o que aconteceu e os tribunais deram-me razão. A seguir surgiram outras oportunidades, mas como fiquei desiludido decidi acabar a carreira. Não anunciei por isso mesmo, pela forma como tudo terminou. Não me fez sentido e também não sei se estavam interessados em saber.
 
O certo é que a carreira que construiu, não se apaga. Nem os títulos. Ganhou tudo, não foi? III Divisão, Liga (4), Taça de Portugal (2), Supertaça, Taça da Liga (2), Intertoto, Taça UEFA e Liga dos Campeões...
Sim, ganhei tudo menos a Supertaça Europeia que joguei e perdi duas vezes. Orgulho-me muito da minha carreira, não só pelo que conquistei, mas sobretudo porque fui sempre uma opção válida em todos os clubes por onde passei. Apesar de muitas dificuldades e lesões - algumas graves -, consegui sempre dar a volta por cima. Tenho a plena consciência de que se não tivesse tido tantas lesões poderia ter conseguido outras coisas. O amargo de boca fica pelo que não consegui na seleção, gostava de ter feito mais internacionalizações. Mas, apesar de tudo, terminei orgulhoso e feliz com tudo aquilo que conquistei.
 
Porque não terminou a carreira no Benfica?
Saí por opção, podia ter continuado, mas decidi ir para o Gil Vicente. Fui feliz em Barcelos, mas acho que cometi um grande erro ao deixar o Benfica. Na altura tinha de tomar decisões e decidi ir para o Gil Vicente. Valeu pela experiência.
 
Dos 13 títulos, a maior parte deles conquistados no FC Porto, quais foram os mais importantes?
A Taça UEFA pelo FC Porto, porque ninguém esperava que a conseguíssemos. Há muitos anos que nenhuma equipa portuguesa ganhava um título internacional e conseguimos, numa final super emocionante. No ano seguinte ganhámos a Liga dos Campeões, o título que todos querem, e era mais difícil, mas aí já éramos vistos de maneira diferente. A UEFA foi uma surpresa para toda a gente. Mas há mais: no FC Porto fui três vezes campeão, mas o título no Benfica acabou por ser mais importante porque foi após uma fase menos boa, com lesões, altos e baixos. 
 
Nos festejos da conquista da Taça UEFA pelo FC Porto em 2002/2003

«Jesus ou Mourinho? Jesus, acabei por aprender mais com ele»

Em cerca de 15 anos de carreira teve vários treinadores. Trabalhou com José Mourinho e Jorge Jesus, dois dos que dizem ser os melhores treinadores portugueses. Também para si foram os melhores?
Sim, sem dúvida. Foram os melhores e com os quais aprendi mais, apesar de todos me terem ajudado a crescer e a ser melhor. Acabei por aprender mais com o Jesus e por isso destaco-o. Apanhei-o numa fase da carreira em que já era mais maduro, tinha outra consciência e dava valor a outros aspetos. O Mourinho apanhei-o com 20 e poucos anos e aí queria um futebol mais em bruto, individualista. Não o aproveitei tanto, mas aprendi muito. Com o Jesus trabalhei a partir dos 28. Ganhámos a Intertoto juntos, fez com que fosse à seleção e levou-me para o Benfica.
 
E o clube, qual foi o mais importante na carreira? Especial, vá...
É uma pergunta um bocado… (suspira). Todos os clubes foram importantes. O FC Porto foi muito importante, mas saí magoado. Na última época fiz 23 jogos completos, era o melhor marcador, mas lesionei-me e depois fui dispensado. Foi uma desilusão enorme. Antes disso, o Belenenses abriu-me as portas da Liga, depois o Sp. Braga deu-me a oportunidade quando me davam como acabado e o Benfica fez de mim de novo campeão. Fui um felizardo porque em todos fui feliz e em quase todos ganhei coisas. Até com o Gil Vicente fui a uma final da Taça da Liga. Todos me marcaram de uma forma ou de outra, mas se me perguntarem quais são aqueles com que mais simpatizo digo que são o Benfica e o Sp. Braga.
 
César Peixoto num lance com Hulk num Benfica-FC Porto, Jesus está lá atrás a acompanhar a jogada
«FC Porto ou Benfica campeão? Prefiro que seja o Benfica»
 
Isso quer dizer que quer o Benfica campeão?
Sim, o FC Porto e o Benfica estão na corrida, mas prefiro que seja o Benfica campeão. Sou sincero. Haverá quem não o seja, mas eu sou.
 
E acredita que vai mesmo ser? Está na frente, mas vai a Alvalade no sábado...
Isso não consigo dizer, ninguém consegue. Está tudo em aberto, tudo muito incerto e acho que vai ser mesmo até à última. Apesar da desvantagem, neste momento, acho que o FC Porto está melhor, mas o Benfica tem o estofo de tricampeão e uma estrutura muito forte. Vai ser uma luta de titãs até ao final.
 
Acha que o dérbi poderá ser decisivo?
Sinceramente, acho que não. Como disse, acho que vai ser tudo até ao final. O Benfica pode ganhar ao Sporting, mas o FC Porto vai manter-se sempre firme. E a qualquer altura também podem perder pontos em jogos aparentemente mais fáceis. Nesta fase é tudo mais complicado: há equipas pressionadas pela Europa, outras para não descer e as que querem ficar melhor classificadas. Não são só os grandes que têm objetivos. Será um passo de gigante vencer o dérbi, mas não decisivo.
 
Disse que podiam perder pontos. Acredita mesmo nisso? Faltam poucas jornadas e o foco estará bem definido...
Sim, sei que venha quem vier, querem é jogar e vencer. Mesmo não jogando bem, acho que darão tudo para vencer, mas tudo pode acontecer. Este campeonato provou estar competitivo, não foi tão fácil para os grandes.
 
Não foi uma Liga nivelada por baixo?
Não, não concordo. Quando terminei a carreira e olhei para o futebol, achei que o nosso campeonato tinha tendência para ficar mais fraco, mas não ficou. Nós temos essa força de nos saber reinventar e isso aconteceu. Os clubes começaram a chamar mais miúdos da formação ou de escalões diferentes e não tantos estrangeiros, apareceram clubes inferiores com bom futebol. Foi bom. O nosso futebol está em crescente. Não houve grandes espetáculos, mas houve um maior número de bons jogos e jogos a jogarem-se igual para igual. O nosso futebol está de boa saúde, pena o que se passa fora das quatro linhas.
 
Mas, pelo menos para os grandes, não acha que o futebol apresentado foi mais fraco do que na época passada?
Isso tem a ver com os jogadores, alguns cansados porque tiveram seleções e não pararam, e também com o facto de as outras equipas apresentarem maior qualidade e estarem mais organizadas. Isso tudo dificultou a tarefa dos grandes. E depois há momentos, umas vezes estão melhores e outras não. O futebol português tem muita cultura tática. As pessoas tendem a dizer que é uma Liga mais fraca, e é por questões financeiras, mas não é por acaso que vêm aqui buscar muitos jogadores. É um campeonato difícil de jogar, exigente e os jogadores estrangeiros com quem trabalhei diziam isso mesmo.