O Maisfutebol desafiou os jogadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

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«Olá,

Sou o João Gonçalves mas no mundo do futebol todos me conhecem por China. Tenho 30 anos e nesta altura sou jogador do Metallurg Donetsk da Ucrânia, clube que represento desde 2008.

Comecei a jogar futebol com 9 anos, no Juventude Clube Boavista de Odemira, a minha terra natal. Foi aí que despertei a atenção do Sporting Clube de Portugal, que me contratou a troco de 1000 contos em materais desportivos para o JC Boavista.

Por isso, no ano de 1992 e com apenas 10 anos, mudei-me para Lisboa. Por lá fiquei até ao ano de 2000. Nesse grande clube fiz a minha formação desportiva até aos juniores de primeiro ano.

Nem sempre foi fácil e tinha sempre muitas saudades, mas corri em busca de um sonho que era mais forte que a falta da família e a calma de Odemira.

Guardo muitas boas recordações desses oito anos no Sporting, especialmente na época 1997/98 quando vesti a camisola da seleção nacional na categoria sub-15.

No ano seguinte, conquistámos o título de campões nacionais de juvenis com uma grande equipa. Entre os jogadores mais mediáticos estavam o Beto, Mangualde, Santamaria, Carlos Martins, Hugo Viana, Ricardo Quaresma, Lourenço, Hugo Machado, entre outros.

Fiquei um ano, agora nos juniores, e no final de 2000 disseram-me que não contavam mais comigo. Foi muito duro e parecia que o sonho tinha chegado ao fim, mas não desisti, tornei-me mais forte e parti para os juniores do Farense, onde terminei o meu percurso no futebol juvenil.

Nesta transição para o futebol sénior comecei no Desportivo de Beja, na 3ª divisão. Tudo correu bem por lá e no final da temporada recebi um convite de um ex-treinador do Sporting, Nuno Naré, para ir treinar à experiência no Sp. Pombal.

O Sp. Pombal ia disputar a 2ª divisão B e tinha como treinador João Carlos Pereira. Fiquei, fiz uma boa época e no final recebi uma proposta do Fátima. No ano seguinte, lembro-me que recebei mais de seis propostas de clubes da 2ª divisão B, zona centro, mas foi nessa altura que decidi arriscar tudo.

Em 2004, fui para o Maia mesmo sabendo que ia ser duro, pois os salários atrasavam normalmente cerca de quatro ou cinco meses. O clube estava na Liga de Honra e estaria numa montra. Arriquei bem, fiz uma grande época e apareceram clubes da primeira Liga interessados em mim.

Ingressei na Naval 1º de Maio, onde fui muito feliz durante três anos. Na época 2008/2009 regressei à capital para representar o Belenenses, onde apenas estive 6 meses. Fui transferido para o Metallurg Donetsk na Ucrânia onde já estou há 4 anos.

O Metallurg Donetsk é uma equipa que luta pela Liga Europa. Nestes quatro anos, fomos apurados por duas vezes mas acabámos sempre por ser eliminados no último play-off de acesso. Também estivemos por duas vezes na final da Taça da Ucrânia mas perdemos em ambas.

A adaptação ao clube foi facilitada porque tinha portugueses como o Mário Sérgio, o Ricardo Fernandes e mais tarde o Filipe Teixeira como companheiros de equipa. Neste momento, sou o único português no clube.

Quando ao país e às mentalidades, a história foi outra mas sobre isso irei contar-vos mais tarde.

Atualmente, encontro-me Portugal a recuperar de uma operação aos ligamentos cruzados. Espero regressar em breve já em fevereiro. Quero só deixar um agradecimento a todos os trabalhadores, fisioterapeutas e ao doutor Nuno da Clipfipom, onde tenho efetuado a recuperação.

Um grande abraço a todos os leitores do Maisfutebol,

Até breve,

China»